AVC: socorristas atendem em média 20 casos de derrame por mês em Brusque

Saiba o que é o Acidente Vascular Cerebral, os sintomas e o que fazer caso sofrer um derrame

AVC: socorristas atendem em média 20 casos de derrame por mês em Brusque

Saiba o que é o Acidente Vascular Cerebral, os sintomas e o que fazer caso sofrer um derrame

Em média, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e o Corpo de Bombeiros de Brusque atendem 20 ocorrências de Acidente Vascular Cerebral (AVC) por mês. Este número é dividido entre os dois, ou seja, cada um atende cerca de 10 ocorrências.

O AVC, conhecido como derrame cerebral, causa dano ao tecido cerebral por falha na irrigação sanguínea. Segundo a enfermeira do Samu, Aline Fagundes, a equipe busca fazer o atendimento dentro da primeira hora do início dos sintomas. Pois, quanto mais rápido for o primeiro atendimento, são aumentadas as chances do paciente se recuperar.

“No nosso atendimento é priorizada a avaliação do paciente, com oferta de oxigênio, pois caso haja de fato a lesão cerebral pelo AVC há redução na oferta de oxigênio para os tecidos”, conta.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, pelo Sistema de Informações Hospitalares do SUS, em 2020, foram internadas 147 pessoas que sofreram AVC no município; em 2019, foram 130; em 2018, foram 180; e em 2017 foram 145 internações.

Ainda segundo o mesmo sistema, foram registradas 17 mortes por AVC em 2020; 18 em 2019, 20 em 2018 e 18 óbitos em 2017.

O que causa o AVC?

O neurologista José Sion Cantos explica que o AVC é um comprometimento neurológico persistente, que aparece geralmente de forma súbita. O derrame é provocado por uma lesão no sistema nervoso central, que é resultado de uma interrupção do fluxo sanguíneo.

“Isso vai provocar uma série de sintomas no paciente, dependendo muito da localização neurológica dessa interrupção”, explica.

Sion ressalta que o AVC é considerado mundialmente como um grave problema de saúde pública, sendo que acontece um derrame no mundo a cada cinco segundos. Isso coloca o AVC como uma das principais causas de mortes prematuras no mundo.

Segundo ele, uma das causas é pelo aumento da obesidade nos países sul americanos. “Atualmente, é uma das principais causas de morte no Brasil. Nas américas, a América do Sul tem a taxa de mortalidade mais alta que existe. Principalmente nas regiões mais pobres e na população negra”, complementa.

Sion também ressalta que a incidência de derrames diminui em países de primeiro mundo, por terem mais condições de tomarem medidas preventivas. “De 1990 até 2010, os AVCs aumentaram 12% nos países de média e baixa renda, enquanto diminuíram 12% nos países de alta renda”, detalha.

Sintomas

Segundo o neurologista, entre os sintomas mais comuns estão alteração de força ou alteração de sensibilidade em alguma parte do corpo, em algum dos lados ou em ambos os lados, de forma súbita.

Outros sintomas são dificuldade visual, ou até vista dupla, de forma súbita; dificuldade de fala ou para entender a fala. O médico alerta que nos casos de AVCs, estes sintomas aparecem muito rapidamente.

O subtenente da 3ª Companhia de Bombeiros Militar, Carlos Rodrigo da Silva, complementa que os principais sinais e sintomas podem variar dependendo da localização e extensão do dano no cérebro.

Os sintomas são:

– Dor de cabeça (talvez o único sintoma em alguns casos);
– Desmaio;
– Alteração do nível de consciência;
– Formigamento ou paralisia, usualmente das extremidades e/ou face;
– Alteração visual;
– Convulsão;
– Pupilas desiguais, ou seja, de tamanhos diferentes;
– Perda do controle urinário ou intestinal;
– Hipertensão.

Como identificar se estou sofrendo um AVC?

Da Silva, que é chefe dos Setores de Instrução e Ensino e Comunicação Social da 3ª Companhia de Bombeiros Militar de Brusque, explica que é possível procurar identificar um AVC a partir de três técnicas.

A primeira é a queda facial. “Este sinal é mais visível se o paciente sorri ou faz careta, pois um dos lados da face pode estar caído ou não se mexer”, conta.

O segundo é a fraqueza nos braços. Neste caso, o subtenente dos bombeiros indica que o paciente pode estender os braços para frente com os olhos fechados. Se um braço pender para baixo ou não puder movimentar ele, pode ser um indicativo de AVC.

O terceiro é a dificuldades na fala, quando o paciente não consegue falar ou a fala sai arrastada. Então, uma forma de tentar identificar é pedir para o paciente dizer uma frase, como “o rato roeu a roupa do rei de Roma”, por exemplo, para verificar a precisão e clareza.

O que fazer em caso de AVC?

Da Silva explica que, ao se deparar com um possível AVC, a vítima ou uma pessoa próxima deve acionar o Samu pelo número 192. Caso o atendimento não esteja disponível, o próprio Samu vai acionar os bombeiros para darem apoio na ocorrência.

Após fazer o acionamento do Sistema de Emergência Médica (SEM), a vítima precisa se manter em repouso. Da Silva detalha que a pessoa deve ficar de preferência deitada, sem travesseiro, para que as vias aéreas fiquem o mais abertas possíveis.

Além disso, é preciso oferecer suporte emocional à vítima, de preferência cobri-la para que não perca calor corporal, porém, sem que superaqueça. Também, o subtenente alerta para não dar nada via oral ao paciente, enquanto aguarda a chegada do socorro.

“Chegando o socorro, os socorristas vão assumir a ocorrência, vão administrar o oxigênio ao paciente, farão toda a análise dos sinais vitais, para posterior condução ao pronto-socorro”, conta.

Fatores de risco e prevenção

O neurologista explica que entre os fatores de risco para se ter um Acidente Vascular Cerebral está a hipertensão arterial.

Outros fatores de risco são: tabagismo; obesidade, principalmente a obesidade abdominal, da cintura ao quadril; uma dieta inadequada, principalmente quando é pobre em vegetais e grãos, mas rica em carne; excesso de frituras; inatividade física; diabetes; alcoolismo ou uso frequente de bebida alcoólica; o estresse psicossocial e a depressão; e um dos fatores principais são as doenças cardíacas, principalmente problemas a níveis de arritmia, e problemas vasculares.

“Toda a lista de fatores tem relação, ao mesmo tempo, com a prevenção. Ou seja, se você diminui os fatores de risco você já está se prevenindo”, conta.

Tipos de AVCs

Segundo Sion, a incidência de todos os tipos de AVCs é de cerca de cinco casos para cada mil pessoas por ano, que é muito alta. Ele explica que os dois tipos mais comuns são do tipo isquêmico e hemorrágico.

Ele conta que o AVC isquêmico se divide em dois grandes grupos, o de causa trombótica ou embólica. A trombótica é quando a formação do coágulo acontece em um mesmo local, que afeta uma região do cérebro. Já o embólico, acontece em outros locais, como nas carótidas ou no próprio coração, e esse coágulo então migra e entope um vaso cerebral.

O AVC hemorrágico também se divide em dois grandes grupos, o intraparenquimatoso, que acontece na massa encefálica, e o subaracnóideo, que é quando ocorre um sangramento nas cisternas ou ao redor do cérebro.

Em proporção, o tipo isquêmico representa de 70% a 80% de todos os AVCs e o hemorrágico de 20 a 30%. “Devemos lembrar que quando acontece uma isquemia cerebral é importante a intervenção precoce rápida. Porque se calcula que a cada minuto de sofrimento cerebral isquêmico morrem mais ou menos 2 milhões de neurônios”, destaca.

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Atendimento especializado

Para o neurologista, o atendimento nos casos de derrames é um dos pontos mais importantes. Ele conta que, nas últimas décadas, nos países de primeiro mundo, tem crescido a tendência de instalar unidades especializadas de atendimento de AVCs.

“Existem unidades especializadas que se caracterizam por terem profissionais especializados com grupo de paramédicos preparados, com protocolos bem definidos e com toda a infraestrutura necessária”, diz.

Segundo ele, algumas cidades no Brasil dispõem dessas unidades. Em Santa Catarina, uma das pioneiras é Joinville.

Entretanto, o neurologista avalia que o Brasil ainda é deficiente neste sentido. Sion conta que, por exemplo, nos Estados Unidos existem ao redor de 1,5 mil cidades com unidades. Além de contarem com mais de 150 centros especializados para realizar a retirada de coágulos na fase aguda, é uma intervenção neurovascular.

“Nisso, ainda estamos muito atrasados. Há uma necessidade de fazermos investimentos nessas áreas. Talvez de fazer centros regionalizados que consigam atender esses pacientes da melhor forma possível”, avalia.

Após o AVC: tratamentos e sequelas

O neurologista diz que o tratamento agudo, do AVC tipo isquêmico, consiste em ter equipe que faça um trabalho rápido. “Porque tem condições de fazer uma medicação que pode reverter rapidamente a formação do coágulo”, diz.

Segundo Sion, a medicação intravenosa é chamada rtPA, a alteplase, considerado um trombolítico. Ela consegue dissolver o coágulo quando a medicação é aplicada em até 3 horas do início dos sintomas, no máximo, até 4 horas e 30 minutos.

“Está aí a necessidade de um atendimento especializado e rápido. Para fazer o uso dessa medicação, você tem que ter uma série de exames prévios, incluindo a tomografia que deve ser realizada em um tempo recorde”, explica.

Nos casos de coágulos em grandes artérias e vasos maiores, existe também a possibilidade de uma intervenção endovascular para a remoção do coágulo. O tempo para que isso seja feito é um pouco maior do que a aplicação da alteplase.

Posteriormente, o médico aponta que existe o tratamento para diminuir os riscos de um novo AVC. Neste caso, geralmente se usa, dependendo da situação, anticoagulantes ou antiagregantes plaquetários.

De acordo com Sion, as sequelas são muito frequentes, sendo que aproximadamente 50% dos pacientes vítimas do AVC sofrem com algum tipo de sequela.

“Por isso é importante a parte de reabilitação, de terapia ocupacional, fisioterapia. Tentando diminuir a intensidade de diminuir essas sequelas, sendo que o primeiro ano após o derrame é o mais importante. A maior parte da recuperação ocorre nos 12 meses seguintes ao Acidente Vascular Cerebral”, finaliza.


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