Botuverá, Guabiruba e Nova Trento preservam mais de 70% da mata nativa
Municípios estão entre os seis menos desmatados do estado, mostra levantamento do SOS Mata Atlântica
Municípios estão entre os seis menos desmatados do estado, mostra levantamento do SOS Mata Atlântica
Botuverá, Guabiruba e Nova Trento são apontadas como exemplo de preservação da mata atlântica em levantamento feito pela ONG SOS Mata Atlântica. Os municípios estão entre os dez que mais conservam este bioma em Santa Catarina.
A entidade realizou levantamento sobre a preservação das florestas em todo o país. A pesquisa, feita com imagens de satélite, mapeou as áreas ainda com mata atlântica no estado.
Segundo o levantamento, Botuverá tem 83,28% da sua floresta natural preservada. É a melhor taxa da região, de acordo com o ranking, que leva em conta os últimos 30 anos.
Guabiruba e Nova Trento possuem índice considerados positivos, com mais de 70% da floresta natural preservada. Brusque, neste aspecto, não está bem posicionada, com menos de 60% de conservação.
Os números da região demonstram uma realidade muito diferente da encontrada na maioria das cidades do país, e até mesmo do estado, onde o desmatamento avança.
A criação do Parque Nacional da Serra do Itajaí, que integra as três cidades, é fator primordial para a preservação. Por força de lei, é proibido desmatar essas áreas. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) administra a área e é responsável pela fiscalização.
O resultado é comemorado pelos governantes. Isso porque Guabiruba e Botuverá planejam ampliar a exploração do ecoturismo nos próximos anos.
Geração de renda
O prefeito de Guabiruba, Matias Kohler, diz que a administração têm trabalhado no bom uso do solo e, consequentemente, na preservação da mata virgem.
A prefeitura lançou a campanha Guabiruba Legal que, segundo Kohler, também contribuiu para evitar o desmatamento. “Temos que saber crescer sem destruir.”
A intenção do poder público é evitar o crescimento desordenado e que as nascentes sejam degradadas. Além do aspecto ecológico, há também o objetivo econômico. “A preservação como um todo vem para o ecoturismo, que temos trabalhado forte desde 2014”, afirma Kohler.
Cidade pequena em número de habitantes, porém de grandes riquezas naturais, Botuverá também quer aproveitar o ecoturismo, e tem trabalhado na conservação da mata atlântica.
O prefeito José Luiz Colombi, o Nene, destaca que 10% do Parque Nacional, ou seja, cerca de 5,6 mil hectares, estão em Botuverá. Mas ele também ressalta que o Parque Municipal das Grutas conserva o meio ambiente, assim como a Reserva Canela Preta.
Nene diz que será feito um inventário do Parque Municipal com o objetivo de ter um diagnóstico preciso do que é necessário ser preservado.
De acordo com a SOS Mata Atlântica, o desmatamento em Brusque caiu vertiginosamente entre 2005 e 2016. Neste último ano, menos de 4 hectares foram desmatados, e em 2013, 2014 e 2015 o número ficou zerado (área considerada irrelevante).
Mas a realidade era bastante diferente na década passada. Em 2005, 199 hectares de mata atlântica foram destruídos. O pico aconteceu em 2008, quando 295 hectares foram postos abaixo.
O superintendente da Fundação Municipal do Meio Ambiente (Fundema), Cristiano Olinger, explica que a entidade tem seguido a legislação estadual, determinada pela Fundação do Meio Ambiente (Fatma).
O superintendente avalia que muitas áreas antes usadas para agropecuária hoje estão recuperadas, o que também contribui para a preservação.
Menos desmatamento
Olinger diz que o Plano Diretor terá papel fundamental no que se refere à preservação da mata atlântica. De acordo com o levantamento, pouco mais de 16 mil hectares do bioma ainda existem na cidade.
“O próximo Plano Diretor irá evitar o espraiamento da cidade, com mais verticalização, tendência mundial”, afirma o superintendente da Fundema. A ideia é desestimular que mais loteamentos sejam construídos em áreas hoje desocupadas e com mata, pois nestes locais mais afastados há menos infraestrutura pública.
Plano municipal
Brusque ainda não começou a trabalhar na confecção do Plano Municipal de Conservação da Mata Atlântica (PMMA), exigido pela lei federal da Mata Atlântica, de 2006.
A SOS Mata Atlântica avalia, no levantamento, que o plano é um instrumento importante para combater o desmatamento. “É um plano que depende diretamente da ação da comunidade local em parceria com a sociedade para ser aplicado, diferente das outras leis do país. A aplicação permite o desenvolvimento de políticas locais de meio ambiente”, diz Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da ONG.
Entretanto, segundo Olinger, o prazo estipulado é inviável, por isso, a ideia é que a Associação dos Municípios do Médio Vale do Itajaí (Ammvi) faça o plano para os 14 municípios que a integram.
A maioria das cidades catarinenses ainda não criou o seu PMMA. Jaraguá do Sul, no Norte, é uma exceção e já o apresentou. Navegantes e Balneário Camboriú manifestaram interesse em assinar convênio para que a Fatma o elabore.
A chefe do Parque Nacional da Serra do Itajaí, Rosária Farias, diz que os números de preservação na região são “uma surpresa boa”. Para ela, as ações fiscalizatórias são importantes para que a mata atlântica continue protegida, mas as iniciativas educacionais são fundamentais.
Hoje, o parque nacional sofre principalmente com a caça e com a extração de palmito ilegais. Ainda que sem funcionários em número suficiente, o ICMBio faz a repressão.
No entanto, Rosária destaca que o parque tem 57 mil hectares de extensão. Fiscalizá-lo é tarefa humanamente impossível. O único meio para alcançar a preservação é que a população entenda a importância do bioma para todos, na avaliação dela.
“Não vai ser o ICMBio sozinho, a sociedade tem que estar junto”, afirma Rosária. Ela explica que o parque fica encravado no meio de várias cidades urbanas. Desta forma, funciona como um filtro da qualidade do ar e um refúgio para a fauna e flora em meio à poluição.
Geração de renda
Segundo a chefe do parque, o ICMBio pretende investir cada vez mais na ocupação e geração de renda dentro do parque, para que os caçadores e extrativistas fiquem longe.
A ideia é que as pessoas visitem o local para fazer trilhas e para conhecer mais sobre a mata atlântica. Já foram feitos contatos com algumas prefeituras, para que as administrações endossem essa estratégia antiexploração.
A mata atlântica é um bioma tropical que estendia-se, originalmente, por 17 estados brasileiros. Hoje, existem apenas 8,5% de remanescentes florestais acima de 100 hectares. Somados todos os fragmentos de floresta nativa acima de 3 hectares, temos atualmente 12,5% de mata preservada.
Apesar da sua importância para o meio ambiente e para a qualidade de vida, a mata ainda hoje é devastada. Santa Catarina tem uma cidade entre as dez primeiras no ranking das que mais desmataram nos últimos 30 anos.
O resultado mostra que ainda há muito o que fazer, mas, de modo geral, Rosária, do ICMBio, avalia que a mata atlântica tem sido menos explorada do que outros biomas – como o amazônico.
Rosária trabalhou com o ICMBIo na Amazônia. Ela diz que no Norte do país a exploração é muito maior e a fiscalização ainda mais difícil, pois existem unidades de conservação com mais de 1 milhão de hectares. “A madeira de lá é muito cobiçada e explorada”, diz a chefe do Parque Nacional da Serra do Itajaí.
Na comparação entre estados, o ranking dos últimos 30 anos coloca o Paraná como o campeão em desmatamento. A pesquisa da SOS Mata Atlântica coloca 40 municípios do estado na lista dos 100 primeiros.