Brusque, migrantes de ontem e de hoje
Nas vezes que vou a um supermercado de Brusque, costumo perguntar à moça do caixa se nasceu em Brusque. Na grande maioria, ela responde que veio de outra cidade, geralmente, da Bahia e do Pará. Penso que não será diferente se fizermos a mesma e simples pesquisa junto aos trabalhadores das demais empresas de nossa cidade. Para algumas pessoas, isso pode surpreender. Mas, a verdade é que, desde a sua origem, Brusque tem sido uma comunidade formada por migrantes vindos de muitos lugares.
No começo foram os europeus. Primeiro, só alemães. Depois chegaram poloneses e italianos. Até franceses, ingleses e irlandeses por aqui também estiveram em busca de um lugar para se estabelecer, mas não deu certo. Não gostavam de pegar no cabo da enxada ou do machado e voltaram às suas origens sem deixar saudade.
Para o migrante dos dias atuais, deve ser mais fácil botar o pé na estrada rumo à cidade da fiação, das malhas, das confecções e de outras atividades econômicas, à procura de emprego e salário não oferecidos em sua terra natal. Afinal, o migrante de hoje não precisa atravessar o oceano nem aprender a língua portuguesa. E o mais importante, não é um estrangeiro, pois nasceu neste mesmo torrão nacional verde-amarelo.
Nos tempos da Colônia Brusque, a decisão de emigrar da Europa para o Brasil era muito mais difícil e dolorosa. Quando deixava a sua terra natal, se casado, o emigrante europeu carregava consigo a mulher e os filhos para uma viagem sem retorno, queimando de saudade dos familiares e amigos, remoendo lembranças dos momentos vividos na sua comunidade. Se solteiro fosse, carregava o drama de uma viagem solitária, a preocupação inquietante de ser um vencedor na terra prometida e o sonho de aqui encontrar a sua companheira para formar uma nova família.
Nenhum emigrante dos tempos coloniais deixava a sua terra sem carregar a sua modesta bagagem material. Muita coisa não podia ser. A pobreza havia sido a razão maior da migração em busca de uma vida melhor nas terras do sul do continente americano e assim a bagagem se restringia a um conjunto de tralhas carregadas num rústico baú ou numa arca de madeira. Mesmo que alguma coisa a mais tivesse, espaço não havia num convés coletivo lotado com centenas de passageiros.
Sem ocupar espaço na bagagem dos migrantes colonizadores, vinham também fragmentos do patrimônio cultural da sua terra. Aqui chegavam servindo à mesa pratos da culinária de seus países; praticando tiro ao alvo e ao pássaro-rei; falando a sua língua nacional, o alemão, o polonês ou o italiano; dançando e cantando as suas canções populares e folclóricas; parte dos alemães professando a religião evangélica, num país oficialmente católico.
E o mais importante: cada colonizador trazia consigo a forte cultura de trabalho e a vontade férrea de superar todo e qualquer obstáculo para vencer na vida.