Brusque vira referência em parto humanizado
A cidade recebe gestantes de todo o Brasil que querem ter seus filhos sem cirurgias
A cidade recebe gestantes de todo o Brasil que querem ter seus filhos sem cirurgias
Respeitar os desejos e o corpo da mulher, ampliar o vínculo entre mãe e filho e proporcionar um nascimento acolhedor ao bebê. Estes são três da série de benefícios elencados por profissionais de Brusque para explicar o parto humanizado. Criado em 2010, o grupo de apoio à gestante e ao parto humanizado Gesta Brusque contabiliza mais de 100 partos humanizados durante os anos de atuação no município.
Apenas no ano passado foram cerca de 50 na Maternidade e Hospital Evangélico de Brusque (HEM). Este ano, o número chega a 40 e tende a aumentar devido à procura intensa não somente de brusquenses como também de moradoras de outros municípios de Santa Catarina e também de outros estados.
A coordenadora do grupo, Rachel da Costa, conta que mães de Jaraguá do Sul, São Francisco do Sul, Joinville, Barra Velha, Itapema, Itajaí, Balneário Camboriú, Navegantes, Porto Belo e até de São Paulo (SP) procuram o HEM em busca do parto humanizado. Segundo ela, o motivo da procura está atrelado à estrutura do hospital, que junto com outra casa de saúde de Florianópolis são os únicos do estado que têm sala especial para o parto humanizado. A suíte, modelada especialmente para atender partos humanizados, existe há dois anos.
“Eles vêm pela estrutura e pelo nosso médico, o doutor David Bortot Raspini, que é o médico do estado com menos taxa de cesárea, apenas 8% de todos os partos que realiza”, explica. “Quanto à estrutura, a sala precisa parecer um quarto normal, como se fosse o quarto da casa da paciente, com uma cama normal, com banheira e com bercinho, por exemplo. É um ambiente não cirúrgico”, completa.
Em média, de seis a oito pacientes por mês procuram os atendimentos prestados por Rachel e pelo médico David. Ambos atuam em conjunto nos partos humanizados do HEM. Ela é doula, profissional que dá suporte emocional e físico às gestantes antes, durante e depois do parto. E ele é ginecologista e obstetra.
Rachel explica que o Gesta é um grupo nacional criado em 2006 em Maringá, no Paraná. No decorrer dos anos, o grupo abriu novas frentes em outros estados e, atualmente, existe em 12 municípios do Brasil. Além de ser coordenadora do grupo de Brusque, Rachel também é coordenadora nacional e comanda o grupo de Itajaí.
“Foi uma amiga minha que criou o grupo em Maringá após perceber que não tinha nenhuma forma de apoio e faltavam informações concretas sobre o parto humanizado no país. Então ela decidiu criar para repassar essas informações. Isso que também me motivou a trazer o grupo pra Brusque. E morei um tempo na Inglaterra e lá vi que as mulheres se reuniam pra falar sobre parto e amamentação e todo esse universo da gestação. Então quando voltei, trouxe pra cá”, conta.
Além da vivência na terra da rainha, Rachel também começou a trabalhar com parto humanizado devido às duas cesáreas “desnecessárias” que teve. Segundo ela, os dois partos foram frustrantes pela falta de apoio para conseguir realizar o parto humanizado. Este apoio, inclusive, é um dos temas da mesa redonda que ele está participando no 1º Congresso Nacional do Parto Humanizado. O evento ocorre até hoje na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) e também contará com a presença do médico David.
“A mulher precisa se sentir à vontade”
Em Brusque há quatros anos, o ginecologista e obstetra David Bortot Raspini pôde comparar o período em que fez residência e vivenciou todos os tipos de partos com o período atual em que realiza partos humanizados. Segundo ele, após presenciar o primeiro parto humanizado, jurou que não iria mais atender outros tipos de nascimentos.
“Eu vi toda a diferença entre os partos. O que aprendemos na especialização é totalmente diferente. Depois de ver as diferenças, jurei que só faria parto humanizado. Claro que quando trabalhamos a gestação desde o início e acaba precisando de cesárea, nós fazemos. Mas busco sempre o parto humanizado”, afirma.
No parto humanizado, segundo o médico, a protagonista é a mulher. A ideia é proporcionar satisfação e aconchego a ela. “A paciente precisa se sentir à vontade. Ela vai escolher o que é melhor e mais confortável pra ela”, diz. Para dar à luz, a mulher pode escolher locais como a banheira, o chuveiro e a cama da suíte de parto.
Para o bebê, entre os benefícios apontados por Raspini estão o contato imediato com a mãe, que diminui o risco de mortalidade e forma vínculo entre mãe e filho e também a amamentação, que é realizada após o nascimento.
“O bebê fica um longo período junto com a mãe. Só para posteriormente serem feitos os outros procedimentos, como vacinas e banho. E o banho é realizado na própria sala e inclusive o pai pode ajudar nesse momento”, afirma.
A funcionária pública estadual Doloana Gattis de Mello pôde vivenciar dois tipos de parto, o normal e o humanizado. O primeiro, normal, no qual nasceu Gabriel, foi realizado há seis anos. Ela estava com 40 semanas e a médica disse que estava na hora do nascimento. Por isto,
Doloana foi com hora marcada ao hospital.
“Fui colocada no soro, foi tudo muito superficial. Não foi esperada a hora para o meu filho nascer. Depois eu tive a dilatação, mas ela disse que o bebê estava enrolado no cordão umbilical e teria de fazer cesárea, mas quando eu estava indo pra fazer a cesárea, estourou a bolsa e acabou nascendo normal”, conta.
O transtorno, no entanto, não se repetiu no nascimento do segundo filho há três meses. Mesmo também enrolada no cordão umbilical, Mariana nasceu por meio do parto humanizado.
“Eu decidi pelo parto humanizado pela saúde do bebê. Ela nasceu e já teve o primeiro contato comigo, ficou no meu colo mais ou menos por uma hora. Depois eu amamentei e então é que ela foi fazer os outros procedimentos. Já quando o Gabriel nasceu, ele foi logo levado para o berçário, só depois de duas horas é que pude ficar com ele. A diferença entre os partos é muito grande”, afirma.