Brusquense é investigado após críticas de alunos da UFSC à Polícia Federal
Áureo Mafra de Moraes é, atualmente, chefe de gabinete da instituição em Florianópolis
O brusquense Áureo Mafra de Moraes é alvo de investigação da Polícia Federal desde 27 de dezembro por suposto crime contra a honra da delegada Erika Mialik Marena. O caso dele ganhou repercussão e colocou a conduta da PF no centro das atenções. Diversas instituições e profissionais afirmam que há excessos.
Moraes nasceu em Brusque, cidade natal da sua mãe, em 1966. Os pais dele se conheceram no início dos anos de 1960, quando o pai veio trabalhar na cidade e jogar futebol pelo Carlos Renaux, vindo de Lages.
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Ainda em 1966, a família se mudou para Seara, no Extremo-Oeste do estado. No entanto, Moraes conta que tem boas lembranças das férias que passava na casa de uma tia no Centro de Brusque.
Jornalista formado, passou a ser professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e hoje é chefe de gabinete da reitoria. A instituição entrou no foco depois que o ex-reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo cometeu suicídio em novembro de 2017, após investigação da Polícia Federal.
Cerca de um mês depois, a UFSC realizou um evento alusivo ao aniversário de 57 anos da universidade. Na ocasião, alguns participantes empunharam cartazes contra as ações da Polícia Federal.
Neste ato, Moraes concedeu entrevista à TV UFSC. No fundo, via-se cartazes com dizeres contra as ações das autoridades. A reportagem foi produzida pelos alunos, mas os agentes consideraram que há indício de calúnia e difamação contra a honra da delegada, que fora responsável pela investigação contra o ex-reitor morto.
Apesar dos cartazes, Moraes não menciona o nome da delegada no vídeo. Os policiais federais consideraram que ele era responsável por ter se deixado filmar com os cartazes ao fundo.
O chefe de gabinete foi intimado pelo o delegado Germano Di Ciero Miranda a apontar quem eram as pessoas com as faixas e cartazes. Essa atitude fez entidades criticarem a PF por intimidação.
Questionado, o chefe de gabinete e jornalista afirmou que não tinha como identificar os participantes no local. Falou, ainda, que a UFSC não cerceia manifestações.
No fim do depoimento, prestado em 11 de junho, Moraes foi advertido pelo delegado de que tem de informar eventuais mudanças de endereço à Polícia Federal.
“Ser surpreendido com uma convocação para depor em um inquérito em que sou investigado por calúnia e difamação e ameaçado de um processo por improbidade, sem ter proferido qualquer palavra em desonra de quem quer que seja, é assustador”, diz o professor.
Represália e apoio
As ações da Polícia Federal na UFSC são alvo de críticas. O meio acadêmico afirma que está tendo o seu direito à liberdade de expressão e à autonomia universitária.
Moraes diz que a instituição é vítima. “De uma hora para a outra, a UFSC, colocada entre as cinco melhores universidades do Brasil, se viu em meio a um bombardeio de instituições do estado – Polícia Federal, Ministério Público Federal e Justiça Federal -, além das equivocadas abordagens e tratamentos que boa parte da mídia tem dado ao tema”.
A situação da UFSC ganhou projeção e entidades se manifestaram em apoio à liberdade de expressão. A Seccional de Santa Catarina da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SC) emitiu nota.
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“A OAB-SC atua de forma intransigente na defesa da democracia e considera gravíssimo restringir a liberdade de expressão e manifestação em um ambiente acadêmico, onde a liberdade se faz ainda mais necessária para a aquisição e produção do conhecimento”, afirma no comunicado.
Na mesma linha, a Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) emitiu nota na qual condena a intimação de Moares, “pois se constituem em conquista essencial da vida democrática”
“As manifestações promovidas pela comunidade universitária da UFSC e pela sociedade são legítimas e democráticas”, afirma em nota.