Brusquense que busca dar a volta ao mundo chega a 50 países visitados

Eduardo Kohler conheceu os curdos, maior povo sem nação do mundo, e tornou-se amigo de refugiado da Síria

Brusquense que busca dar a volta ao mundo chega a 50 países visitados

Eduardo Kohler conheceu os curdos, maior povo sem nação do mundo, e tornou-se amigo de refugiado da Síria

O viajante brusquense Eduardo Kohler, de 45 anos, sempre teve a vontade de dar uma volta ao mundo. Apaixonado por literatura de viagem e história, começou a dar início ao sonho ao ler os relatos de grandes aventureiros em suas expedições pelo mundo.

Em agosto de 2023, Eduardo colocou o pé na estrada e visitou, desde lá, cinco continentes e 50 países, sendo 34 inéditos para ele. 

“Precisava transcender o universo em que estava inserido e vivenciar o mundo sob diferentes perspectivas. Conhecer novas culturas, etnias e religiões. Desconstruir estereótipos e narrativas que moldam nossa forma de pensar. Encantar-me com histórias de vida e novas maneiras de interagir em sociedade”, conta.

Início da jornada

O sonho da volta ao mundo começou a tomar forma cinco anos antes do embarque. Nesse período, Eduardo focou no planejamento financeiro e na gestão dos recursos para a viagem.

Ele aprendeu a viajar com baixo orçamento e de forma independente, algo que já vinha praticando. O conhecimento adquirido nos livros e conversas com outros viajantes foram essenciais para a preparação e organização da viagem.

“A pandemia adiou minha partida, e aguardei a reabertura das fronteiras. Quando finalmente comprei a passagem só de ida para meu primeiro destino, percebi que o sonho se tornaria realidade”.

Porém, planejar uma longa viagem, segundo o brusquense, não é simples. Exige conhecimento, experiência e atenção a diversos fatores, como logística, vistos, clima e eventos extremos, como temporadas de tufões e temperaturas extremas.

“Questões geopolíticas também eram cruciais e precisavam ser analisadas com cuidado para definir os países e a sequência da viagem. Planejar uma volta ao mundo não é como sair de férias”.

O planejamento de Eduardo aconteceu gradualmente. Ele deixou o Brasil com os dois primeiros meses organizados e montou o restante do roteiro ao longo da jornada. Para ele, a flexibilidade é essencial, permitindo surpresas ao longo do caminho.

Trekking de Eduardo em Annapurna, no Nepal | Arquivo pessoal

Experiências

Eduardo destaca que o passaporte brasileiro facilitou sua jornada, permitindo visitas a diversos países com pouca burocracia.

“Alguns países estavam na minha lista, mas eu tinha receio devido a conflitos e dificuldades para obter vistos. Estava sempre acompanhando as notícias para escolher o momento certo. Foi o caso do Irã, que sempre esteve nos meus planos, mas estava em conflito com Israel. Comprei passagens semanas antes de Israel atacar o Irã, algo inédito em décadas. Apesar da tensão, mantive meu planejamento e cheguei no Irã três semanas depois”, relata.

Ao chegar, Eduardo percebeu que os iranianos consideravam as tensões externas “irrelevantes” e o acolheram de forma segura e hospitaleira.

“Viajar para o Irã exigiu muito planejamento, pois o país enfrenta sanções internacionais, não aceita cartões internacionais e bloqueia redes sociais. Também é preciso respeitar questões religiosas e de vestimenta. O maior risco não era bélico, mas descobrir um Irã diferente do que é retratado. Os iranianos são acolhedores, bem informados e críticos em relação ao governo”.

Eduardo em Isfahan, no Irã | Arquivo pessoal

Além das surpresas com o Irã, Eduardo compartilha que alguns lugares o surpreenderam de forma inesperada durante sua jornada. A Ásia Central, por exemplo, estava em seu planejamento desde o início, devido à sua história ligada à Rota da Seda e à diversidade de etnias.

Os países da região, como Casaquistão, Uzbequistão, Tajiquistão, Quirguistão e Turcomenistão, sempre o fascinaram, principalmente por suas culturas e História singulares. Todos eles utilizam o sufixo “istão”, que significa “Terra de”. Eduardo teve a oportunidade de conhecer quatro desses países, destacando o Quirguistão como uma surpresa única.

“Queria vivenciar a cultura nômade, e fui no verão, quando as famílias nômades montam seus yurts nas estepes. Passei dois dias com uma família nômade, sem energia elétrica, e o fogo para o preparo das refeições era feito com excrementos de animais. O patriarca nos contou sobre a tradição nômade e a vida simples do povo quirguiz”, revela.

Viajante ao lado de uma Yurt, tenda nômade, no Quirguistão | Arquivo pessoal

Foi no norte do Iraque, porém, que o brusquense diz ter vivido uma das experiências mais marcantes. Lá, conheceu o povo curdo, o maior povo sem nação no mundo.

“Eles estão espalhados por vários países, mas no Iraque sua cultura é mais preservada. O que mais me tocou foi a hospitalidade e o orgulho que têm de suas raízes”, conta Eduardo.

Fascínio por religiões

Para Eduardo, o estudo das religiões sempre foi um interesse pessoal. Uma de suas viagens mais emocionantes foi para a Arábia Saudita, com o objetivo de visitar lugares mais sagrados para o Islã.

“Até poucos anos atrás, não era permitido que não-muçulmanos visitassem Meca e Medina, mas hoje é possível conhecer algumas partes de Medina. Por ser um local de peregrinação no mundo muçulmano, era fascinante reconhecer diversas etnias por suas origens, pelas vestimentas, traços étnicos e comportamentos. Vi toda essa diversidade cultural unida por uma mesma fé, de uma maneira única”, relata.

Outro momento marcante foi sua estadia em um Ashram no sul da Índia. Durante o tempo que passou lá, Eduardo teve a oportunidade de entender a importância do Guru para os indianos, além de participar de rituais religiosos, meditações, trabalho voluntário e momentos de convivência com a comunidade local.

Mercados da antiga Delhi, na Índia | Arquivo pessoal

Além da contemplação dos povos, o viajante sabe que enfrentar desafios faz parte da experiência de viajar pelo mundo. Um dos momentos mais exigentes de sua jornada foi a subida ao Rinjani, um vulcão ativo na ilha de Lombok, na Indonésia.

A trilha de três dias, que incluía acampamentos e caminhadas íngremes até a cratera, demandou grande esforço físico e mental. Para ele, concluir esse desafio foi uma prova de superação.

Outro desafio foi a travessia da fronteira do Iraque com a Turquia, uma tarefa longa e tensa. Enquanto a viagem do Iraque para a Turquia levou apenas 6 horas, o trajeto inverso foi muito mais difícil, durando 30 horas, com longas paradas e temperaturas extremas.

Eduardo no Vulcão Rinjani, na Indonésia | Arquivo pessoal

Amizade com refugiado

O viajante destaca que as pessoas foram as protagonistas mais marcantes de sua jornada, oferecendo novas perspectivas e tocando sua vida com suas histórias. Um desses encontros inesquecíveis aconteceu no Curdistão iraquiano, quando um jovem sírio refugiado lhe ofereceu uma amostra de café no bazar tradicional de Erbil.

O encontro espontâneo rapidamente se transformou em uma troca de contatos e um convite para tomar chá após o trabalho, pois os muçulmanos não consomem bebidas alcoólicas. O que parecia ser um simples encontro virou um momento de profunda reflexão.

O jovem sírio compartilhou sua história comovente: ele havia fugido da guerra na Síria, buscando asilo no Iraque. Desde criança, enfrentava cenários de guerra, terremotos e terrorismo.

Ele mostrou uma foto de sua formatura e, emocionado, falou sobre a perda de muitos amigos, que morreram tentando chegar à Europa, seja por via marítima ou atravessando florestas na Bulgária. Ele também relatou as dificuldades que enfrentava como refugiado, incluindo preconceito e exploração.

“Ele desabafou sobre o seu infortúnio de nascer sírio, dizendo que sua vida seria completamente diferente se tivesse nascido em outro país. Isso me fez refletir sobre como, nós brasileiros, somos afortunados por viver em um país pacífico, com boas relações diplomáticas. Me emocionei muitas vezes com o relato dele, e isso aumentou ainda mais o meu respeito pelos refugiados e pela luta deles por dignidade. Hoje, somos amigos e mantemos contato frequente”, compartilha Eduardo.

Brusquense participando de cerimônia budista em Lombok, na Indonésia | Arquivo pessoal

Por fim, Eduardo compartilha que, no futuro, pretende explorar de forma mais profunda o continente africano para conhecer melhor sua diversidade étnica e cultural.


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