Brusquense que sobreviveu a um tiro e ficou paraplégico vira criador de conteúdo fitness no Instagram

Após publicar vídeos dos treinos, Alessandro Felipe viu número de seguidores aumentar de 500 para quase 13 mil em quatro meses

Brusquense que sobreviveu a um tiro e ficou paraplégico vira criador de conteúdo fitness no Instagram

Após publicar vídeos dos treinos, Alessandro Felipe viu número de seguidores aumentar de 500 para quase 13 mil em quatro meses

A vida do brusquense Alessandro Felipe, de 41 anos, mudou de uma hora para a outra em 21 de janeiro de 1997. Na época, com apenas 14 anos, o morador do bairro Águas Claras levou um tiro que o deixou paraplégico.

Ele recorda que tudo começou devido a uma chuteira, que despertou o interesse de vizinhos recém-chegados ao bairro. “Às vezes, a gente não escuta o pai e a mãe e acaba se metendo com gente que não deve”, inicia.

“Estávamos brincando na rua, eles queriam a chuteira que eu tinha na época, falei que não ia dar. Um dele colocou meu pé na parede, disse que daria um tiro. Eles estavam brincando com a arma. Quando ele soltou ela, eu saí correndo. Só escutei o estouro, caí e fui para o hospital”, relembra.

A bala atingiu a região do tórax, na parte esquerda do corpo de Alessandro, e atravessou o pulmão. O tiro atingiu ele a meio centímetro do coração. “Depois de uma semana, um médico entrou no meu quarto, pediu para todos saírem e me falou que eu nunca mais iria andar”, diz.

De um adolescente ativo, passou a precisar de uma cadeira de rodas. “Eu tinha participado de dois campeonatos de futebol seguidos que eu jogava no regional. Nem parava no colégio, pois só jogava de lá para cá. Corria, fazia tudo, tinha toda a vida pela frente e, de repente, veio essa notícia. Foi um baque, tive uma depressão muito forte”, relembra.

Ao logo dos anos, Alessandro passou por altos e baixos, enfrentou a depressão e uma tentativa de suicídio. Porém, esteve sempre ligado ao esporte, com o basquete, e os treinos na academia.

O analista de sistemas relata que sofreu uma lesão no ombro há quase dois anos. Ele diz que “se acomodou” e chegou a ter quase 100 quilos. “Não estava com mais aquele ânimo de treino. Então, num momento de dificuldade na minha vida pessoal em julho de 2023, ao invés de ir para o lado ruim, decidi para o lado certo”, diz.

Alessandro decidiu focar de vez na vida fitness e se reinventou: passou treinar diariamente na academia e a publicar o cotidiano na conta @alessandro.felipe7, no Instagram. Em cinco meses, a conta cresceu de 500 seguidores para quase 13 mil.

Luiz Antonello/O Município

Além disso, o brusquense passou a receber mensagens de diversas pessoas. São seguidores, muitas vezes desanimados, que tiveram que começar a usar cadeira de rodas ou que perderam uma das pernas. Alessandro os motiva, além de publicar detalhes dos exercícios e mostrar que é possível ter uma vida ativa.

“Eu não faço nada mais do que eu gosto. Sei que tenho uma deficiência, mas gosto de fazer atividade física e continuarei fazendo enquanto tiver saúde. Se isso, de alguma forma, pode colaborar com alguém, eu ser espelho ou uma palavra minha incentivar alguém, essa é a minha gasolina. É para isso que eu posto, tenho sede de fazer cada vez mais”, afirma.

Salvo pelo esporte

Luiz Antonello/O Município

Em 1997, Alessandro precisou ir para Brasília (DF), onde fez reabilitação no Hospital Sarah Kubitschek. Mesmo com todas as dificuldades, o jovem conseguiu vencer as adversidades.

Contudo, em 2006, debilitado por conta da depressão, o brusquense tentou suicídio. Na época, ele já fazia os treinos na academia Body Active, onde hoje fica a CCN Águas Claras. Por lá, ele fazia musculação e natação. Em seguida, ele conheceu o basquete.

“Foi o esporte e a academia que me salvaram. A cabeça vazia é ferramenta do diabo. Às vezes, você pode fazer as coisas, mas a cabeça pode não estar legal, aí nada funcionar direito. Malhava, mas sentia tristeza e angústia. Sentia um vazio. Desenvolvi um complexo de inferioridade muito grande, porque achava que ficaria sozinho pelo resto da vida. Foram coisas que fui tratando com o tempo”, aponta.

Dificuldades vencidas

Em 2007, Alessandro também teve que tirar um tumor. Ele conta que fez terapia neste período, que o ajudou com a saúde mental. Entretanto, hoje, ele salienta que a vida dele mudou após retornar para a igreja.

“Foi Deus que me ajudou a dar esse estalo na minha vida, que eu precisava mudar. Eu tava gordo, fazendo [exercícios], mas sem aquela vontade. Hoje, estou há cinco meses num ritmo que não paro. De segunda a sábado vou para a academia, sábado e domingo vou pedalar”, detalha.

Incentivo de amigos

Alessandro aponta que foram os amigos verdadeiros que o levantaram. Ele cita a dermatologista Elizete Da Cas, que fez ele voltar para a igreja, e o personal trainer Gleidson Souza Azevedo, que trabalha na academia do Sesc, onde treinava até o último mês.

“Voltei a treinar devagarzinho, o Gleidson começou a me incentivar. Comecei a treinar todo dia. Ando de handbike também e voltei ao basquete. Comecei nessa vida. Aí é mudança na alimentação, parei de beber, cuidei do meu sono. Foi aí que veio essa evolução toda”, explica.

Segundo ele, o primeiro treino foi focado na perda de peso e, agora, o foco é aumentar a massa muscular. “Decidi que era isso o que eu queria para a minha vida”, diz.

Ele emagreceu 25 quilos em quatro meses. Hoje tem 72 quilos, já ganhando massa muscular. Atualmente, realiza os treinos na CCN Águas Claras, próximo de casa.

No Instagram

Também motivado por amigos, o brusquense começou a compartilhar o cotidiano no Instagram. “Eles já me falavam há uns dois anos que eu fazia muitas coisas e eu poderia fazer algo para ajudar as pessoas. A mínima coisa que eu faria poderia inspirar e motivar”, diz.

“Relutei muito para fazer isso, mas um amigo meu de coração, o Jesiel, falou que me ver fazendo isso tudo na cadeira de rodas poderia tirar uma pessoa da depressão, um simples gesto poderia ajudar. Fiquei com isso na cabeça”, continua.

O brusquense conta que fez um curso de oratória para poder falar melhor e começou a publicar no Instagram. Para registrar o treino, ele pede aos personais fazerem os vídeos, além dos colegas de academia. Assim, Alessandro também vai criando amizades.

“A partir do momento que parei de cuidar das pessoas e comecei a cuidar de mim, da minha saúde, não é só por beleza, é saúde, comecei a ver resultados. No meu corpo e na minha mente. Tenho meu WhatsApp no Instagram e recebia mensagens me perguntando como eu conseguia fazer isso, de onde tirava força de vontade e energia para treinar”, salienta.

Influencer

Luiz Antonello/O Município

Alessandro planeja palestrar e contar a história dele, falando sobre como é ser cadeirante e motivando cada vez mais pessoas. “Não é uma deficiência que vai fazer você para de fazer o que gosta e o que você sonha em fazer”, ressalta.

Para conseguir treinar diariamente, lidar com suplementação e com equipamentos, Alessandro destaca o apoio que recebe das empresas Pijamas Waleju, Nossa Forma, B.ON Tecnologia de Vestir, Jesiel iPhones, Lemus Esportes, CCN Academia, Grupo Rosa Maria Fitness e Point Motos.

O objetivo é cada vez mais evoluir e motivar as pessoas. “Como ser humano, a gente tem que estar em constante evolução. Então, acho que desde a época que fiquei de cadeira de rodas, aos 14 anos, me vendo agora, com 41, com a cabeça, corpo e rotina e estilo de vida que tenho agora, acho que essa é a minha melhor versão”, finaliza.

Como ajudar quem pensa em suicídio

O CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece suporte emocional e preventivo para quem pensa em se suicidar. Você pode entrar em contato ligando gratuitamente para 188 ou acessando o site cvv.org.br/chat.


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