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Brusquense que vive na Irlanda conta como é trabalhar na Disney

Luis Henrique Stolfi se mudou para a Europa há três anos

Nascido e criado em Brusque, Luis Henrique Stolfi, hoje com 28 anos, sempre sonhou em morar fora do país e viver uma vida totalmente diferente da que vivia no município.

Movido por este sonho, aos 26 anos, ele se mudou para Dublin, na Irlanda, e atualmente trabalha em uma sede do grupo Disney no país.

Sua chegada ao império do entretenimento, ocorreu depois de passar por diversos perrengues na Europa. Trabalhou como faxineiro, teve dificuldades com o idioma e a adaptação ao estilo de vida europeu. Viu o surgimento da pandemia de Covid-19, conseguiu cidadania alemã e, por um tempo, retornou ao Brasil. Foi só depois desta jornada que se estabeleceu no emprego atual.

Em entrevista ao jornal O Município, Stolfi relembra o momento da decisão de ir para a Irlanda, as dificuldades de morar fora do país e a magia de trabalhar no maior grupo de entretenimento do mundo.

Disney

Durante a pandemia, Luis havia voltado para o Brasil, mas quando retornou a Irlanda, um convite inesperado aconteceu. Em um dia, a gerente que coordenava as faxinas dele, o chamou para conversar e perguntar se ele tinha interesse em trabalhar em uma produção dos “studios Disney”, ainda como faxineiro.

“Eu obviamente aceitei e, por alguns meses, comecei a ver como é belo e complexo o processo de criação de um filme. Tudo aquilo me fascinou muito, criação dos cenários, luz, roupas, maquiagens. Pouco a pouco fui fazendo amizades e conversando com as pessoas”, lembra.

Com as amizades feitas, o convite inesperado aconteceu. Era a oportunidade de fazer parte de um time mais importante dentro da empresa. Ele foi convidado para fazer parte do “Covid Team”. Uma equipe responsável por garantir que todos os protocolos sanitários no combate ao coronavírus sejam seguidos nos estúdios Disney.

“Foi incrível. De qualquer forma, o jovem que há mais ou menos dois anos chegava na Irlanda sabendo pouco do inglês e cheio de medo, hoje faz parte da equipe de produção de um dos filmes da Disney. Tem sido maravilhoso ver sonhos se tornarem realidade bem na frente dos meus olhos”, finaliza.

A rotina

Luis trabalha no chamado “Covid Team”, que se trata de uma equipe criada exclusivamente para que fosse possível manter a produção dos filmes durante a pandemia.

A função que ele desempenha é chamada de “Covid Marshal”, que tem como objetivo, garantir a segurança de todos nos bastidores em relação a Covid-19. Ele fiscaliza o uso das máscaras e procura sempre fazer com que a equipe mantenha o distanciamento social, uso do álcool em gel e demais atitudes.

“Fui designado a fiscalizar os dançarinos, com isso, eu tenho acompanhado eles desde as audições até o momento das gravações internas e externas. São aproximadamente, 75 dançarinos e é um pouco complicado garantir que toda essa equipe consiga manter todos os protocolos”, recorda.

Stolfi diz que a produção toda envolve mais de duas mil pessoas em alguns momentos já que existe a equipe técnica, os atores, os figurantes ou seja, é importante que exista uma equipe que fique focada no cumprimento dos protocolos e na verificação para que tudo esteja seguro.

“Está é a única forma de garantir que o filme aconteça durante uma pandemia. Fazemos o teste de PCR três vezes na semana para que possamos prosseguir com as gravações”, diz.

Como tudo começou

Fruto de uma família humilde, Stolfi diz que nunca lhe faltou o necessário e que sempre tinha na cabeça algo maior, o sonho de ir mais longe. Ele estudou boa parte da vida na E.E.B Santa Terezinha, onde se formou no ensino médio.

Stolfi recorda que, mesmo estudando, já trabalhava desde a adolescência, e essa responsabilidade a mais ajudou a formar o seu caráter.

“Comecei a trabalhar aos 14 anos em um restaurante por meio período e em uma lanchonete durante a noite. Sempre fui uma pessoa independente, que correu atrás de seus sonhos e objetivos”.

Após o período de atendimento em estabelecimentos alimentícios, virou a chave e entrou para o mundo têxtil.

“Tive a oportunidade de ingressar no mercado têxtil atacadista e varejista como vendedor. Lá, desenvolvi muitas habilidades e conhecimentos sobre vendas, atender clientes e, por aproximadamente sete anos, aprendi muito e tive contato com pessoas incríveis”, comenta.

Durante a adolescência, aos 17 anos, Luis se envolveu em um relacionamento e, aos 18 anos, já moravam juntos. Por ter uma rotina pesada, ele optou por não iniciar um curso superior. O relacionamento, depois de nove anos, acabou não dando certo.

O acaso

Um dia, por acaso, Stolfi ficou sabendo que três amigos da época de escola estavam morando em Dublin, na Irlanda. “Isso me acendeu novamente o desejo de viver a experiência do intercâmbio e desbravar o mundo, mas tudo era muito caro”.

Com os custos para realizar o sonho fora da sua realidade, Luis então decidiu adicionar mais uma jornada de trabalho, além do seu período integral na empresa têxtil.

O brusquense começou a trabalhar em um sushi para juntar dinheiro e, em pouco tempo, deu entrada no passaporte alemão mesmo sabendo que o processo poderia levar anos. Ao mesmo tempo, já começou a pesquisar escolas de intercâmbio na Irlanda.

Chegando a hora

Depois de um bom período dedicando todas as energias no sonho, Stolfi conseguiu arrecadar o necessário para viabilizar a viagem. Mas, quanto mais perto do momento crucial, tudo ficava mais complexo.

“Honestamente eu não estava preparado para esses momentos. Era hora de me despedir de minha família, de abandonar uma equipe de trabalho, que me deu total apoio durante todo processo. Falo sem medo de errar, que o apoio de meus colegas e amigos de trabalho foi crucial neste momento”, recorda.

 Uma nova vida em Dublin

Ao chegar em Dublin, Luis lembra que não teve nenhum problema durante a viagem, mas ao mesmo tempo, tinha dificuldades em se comunicar. “Mesmo sem entender ninguém, aterrissei em solo irlandês com a sensação de dever cumprido”, comenta.

Por ser uma pessoa comunicativa ele relata que, ao chegar no país e enfrentar uma nova cultura, se sentiu triste por não conseguir se comunicar com as pessoas. Os primeiros desafios já estavam aparecendo.

“Eu precisava ir até a escola de inglês para começar o curso. Também era preciso encontrar acomodação e regularizar meus documentos. Uma tempestade de desafios que precisavam ser resolvidos sem muito inglês, mas com muita força de vontade”, recorda.

O relacionamento de nove anos não resistiu à distância, e após dois meses em Dublin, houve o término. Stolfi destaca que a distância não fez bem para o casal.

 Hora de trabalhar

Com o passar do tempo e o nível de inglês melhorando, chegou o momento de procurar trabalho. O dinheiro que Luis levou estava diminuindo e era preciso encontrar um emprego.

“Imprimi centenas de currículos e saí distribuindo com meu inglês bastante “brasileiro”. Foram aproximadamente três meses nessa batalha, conversando com pessoas e distribuindo currículos. Quando, após algumas tentativas, consegui um emprego como “cleaner”, faxineiro de escritório basicamente. Eram poucas horas pois aqui, os trabalhos pagam por hora”, conta.

No início, o dinheiro mal dava para pagar o aluguel, mas para ele, essa já era uma conquista muito importante. Stolfi estava oficialmente estudando e trabalhando em um país em que ele mal falava a língua.

Sem folga

Ao longo do tempo, novas oportunidades no novo trabalho foram surgindo. A gerente de Luis gostava muito do trabalho, e ele começou a trabalhar várias horas além dos sábados, domingos e feriados.

“Neste período, eu via meus amigos curtindo festas enquanto eu estava chegando do trabalho e cansado demais para pensar em sair. Mesmo assim, eu sabia que isso me traria frutos e que era a hora de focar em conseguir um bom dinheiro para aproveitar mais tarde”, conta.

Tempos depois, Stolfi renovou o visto para mais um curso de inglês e tudo estava bem. Ele já estava no nível intermediário no inglês em apenas oito meses. Nesse período, surgiram as oportunidades para viajar e conhecer novos lugares.

Arquivo pessoal

“Tive o prazer de conhecer um pouquinho da Itália, Alemanha, França e realizei o sonho de ir aos parques da Disney em Paris. Fiz ainda, uma viagem inesquecível para o Marrocos, onde conheci um pouco a imensidão do deserto do Saara e toda suas culturas.

Arquivo pessoal

Covid-19 e cidadania alemã

Quando apareceu a Covid-19, tudo parou. Stolfi conta que as escolas tiveram que ser fechadas e que tudo foi muito complicado. Ele teve que começar a estudar de forma on-line, e conseguiu finalizar o curso em um nível antes do inglês avançado apesar das dificuldades com as aulas virtuais.

Algum tempo depois, Luis recebeu a notícia de que a cidadania alemã havia saído e que ele já poderia aplicar para o passaporte alemão e assim, ser legalmente um cidadão europeu.

“Quando eu recebi o e-mail, comecei a pular de alegria e chorar dentro de um supermercado. Embora a Irlanda seja um país muito aberto para estudantes, ter a cidadania europeia facilita muito quanto ao trabalho em período integral. Além disso, também facilita nos estudos e no direito de entrar e sair do país a qualquer momento. Sem dúvida, foi uma das minhas conquistas mais importantes até hoje”, relembra.

Volta ao Brasil

Depois de pegar o passaporte alemão, Stolfi trabalhou em período integral e decidiu que era hora de voltar para visitar a família e amigos. Dividir com eles, todas as histórias e conquistas.

“O coração já estava apertado, eram quase dois anos longe de casa. Quando cheguei no aeroporto de Florianópolis, fui recepcionado pela minha irmã vestida de “frida”, pois agora eu era oficialmente um alemão.

Arquivo pessoal

Junto da família, Luis pode sentir uma sensação de dever cumprido por voltar ao país com uma bagagem cheia de grandes experiências e superações.

“Esta foi uma sensação indescritível. Fiquei por três semanas no Brasil entre novembro e dezembro de 2020. Foi ótimo ver meus amigos, visitar as pessoas que me viram crescer, meus ex-colegas de trabalho e tantas pessoas que sem dúvida, torceram por mim neste período”, comemora.

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