João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Campanha da Fraternidade e política pública

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Campanha da Fraternidade e política pública

João José Leal

Hoje começa a Quaresma. O tempo de rigorosa abstinência, de dolorosa penitência passou. É, assim, mesmo. Tudo muda. E a Igreja católica, neste novo tempo franciscano, marcado por um Papa da simplicidade, da humildade e da paz, há muito, não prega mais aquelas sextas-feiras de jejum de passar fome e abstinência total de carne, coisa que muita gente vegetariana, em companhia dos veganos da moda, estão fazendo por opção de vida saudável. Longe, também vai o tempo de penitências de se rezar, de joelhos, rosários de orações e ladainhas.

Se tudo muda e a Quaresma já não é mais a mesma dos meus tempos de criança, a verdade é que, para os bons cristãos, deve ser um tempo para reflexão e recolhimento espiritual. Tempo de se conhecer a si próprio, de reconhecer nossas fraquezas e nossos defeitos, grandes ou pequenos; de procurar viver em paz com a nossa consciência; enfim, tempo para sermos mais solidários com o próximo, nossos amigos ou o estranho, que não conhecemos, mas que caminham ao nosso lado, na mesma estrada desta vida.

Hoje, também, começa a Campanha da Fraternidade, que pretende levar os católicos a refletir sobre o tema “Políticas Públicas”. Aprendemos que política é a arte, a ciência ou a atividade de bem governar um povo, de bem administrar a sociedade e suas instituições econômicas e sociais. Porém, política não é apenas atividade de governo. É, também, a ação participativa de cada um de nós na administração das coisas da nossa própria comunidade (escola, sindicato e as diversas associações civis em geral).

Por isso, é muito bom que os bispos brasileiros tenham convocado seus fieis e todos cidadãos para a discussão desse tema tão importante. Sem boas políticas públicas, nenhuma sociedade humana alcançará o tão almejado padrão de bem-estar econômico e social. Na verdade, refletir sobre o tema é preciso, para despertar a consciência e elevar o espírito de cidadania. Mas, a discussão só terá sentido se despertar a consciência e incentivar a participação do cidadão nas ações governamentais.

É indispensável que governo e cidadãos estejam devidamente articulados na formulação das políticas públicas, para que os direitos sociais previstos na lei e na Constituição sejam garantidos à maioria das pessoas, principalmente, aos mais necessitados. Assim, assumindo o compromisso com o caminho da esperança e paz, o lema da Campanha prega que só o Direito e a Justiça são legítimos instrumentos de libertação dos homens. Aqui, cabe indagar: quantas vezes atendemos ao chamado do poder público para participar de uma audiência comunitária, com o fim de discutir projeto de grande interesse da coletividade?

Neste tempo quaresmal, seria muito bom que cada um de nós refletisse sobre o hino da Campanha deste ano, que nos convida a participar de ações de construir um “novo reino de justiça, esperança e de Fraternidade”, no qual todos tenham uma vida digna. Estamos, nós, preparados e dispostos a enfrentar essa elevada e difícil missão pastoral e social?

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