Carlo Acutis, jovem beato que deve virar santo, atrai centenas de devotos em Brusque
Relíquias do futuro santo estão presentes em Brusque
Relíquias do futuro santo estão presentes em Brusque
O beato Carlo Acutis, o “padroeiro da internet”, tem atraído diversos seguidores nas comunidades de Brusque. Próximo da canonização, o futuro santo chama atenção não só por ser tão jovem, mas também pela presença no meio digital. Acutis será o primeiro santo “millennial”.
O beato foi um adolescente italiano, de 15 anos, nascido na Inglaterra, em 1991, mas criado na Itália, na cidade de Milão. Carlo se interessava por computação e também pelo catolicismo. Ele faleceu no dia 12 de outubro de 2006, após ser diagnosticado com leucemia. Através da internet, evangelizava outras pessoas.
Sua beatificação ocorreu em 2020, após a descoberta do primeiro milagre de Carlo Acutis, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, em 2010. Na ocasião, o relato é de que uma criança que estava com uma doença rara no pâncreas foi curada após ser levada à igreja e tocar em uma vestimenta que seria de Carlo. A beatificação é o primeiro passo do processo para uma pessoa tornar-se santa.
Já o segundo milagre foi reconhecido pelo Papa Francisco neste ano, no mês de maio. De acordo com a igreja católica, o beato teve influência na cura de uma jovem na Costa Rica, após um acidente. O reconhecimento do milagre foi concedido no dia 23 de maio.
No dia 1º de julho, foi aprovada a canonização de 15 beatos, entre eles, Carlo, que deve ser proclamado santo em 2025.
O padre Rodrigo Tascheck, é devoto de Carlo Acutis e falou sobre o grande número repentino de fiéis que o próximo santo da igreja tem reunido. O vigário preside a missa jovem, realizada sempre na primeira sexta-feira de cada mês.
Para o padre, um fator importante que representa o grande número seguidores do beato parte de que Carlo é um representante da era digital. “Comparado a outras histórias de santos e exemplos da igreja, o Carlo, além de ser jovem, ele é muito atual, afinal de contas, o contexto da vida dele está inserido na era digital”, menciona.
“Ele tinha facilidade com os meios de comunicação. Imaginemos em 2004, 2005, a internet era muito difícil e ele já tinha um blog, ele criou um blog. Ele gostava muito de videogame, ele ajudava na manutenção e no conserto de alguns equipamentos”. Outro fator importante para a repercussão do nome do beato está no primeiro milagre intercedido por Carlo Acutis ter acontecido no Brasil.
O padre Rodrigo conta que conheceu Carlo Acutis durante sua formação. Antes já havia ouvido falar algumas coisas do jovem nas redes sociais, mas o aprofundamento da história do beato ocorreu enquanto o padre ainda estava no seminário.
“Conhecendo a história dele, ainda que muito pouco, eu já estava encantado. E fiz questão de colocá-lo no rito da minha ordenação”. Após se tornar padre e vir para Brusque, encontrou um grande trabalho de divulgação do Carlo Acutis.
Rodrigo menciona que, aqui na região, quem deu início aos trabalhos de divulgação da devoção ao jovem beato foi o padre Tiago, próximo de 2021, mas quem o fez conhecer o beato foi o padre Paulo.
“O Paulo foi para São Paulo e lá já tinha uma devoção ao Carlo, que estava em processo de beatificação na época. Então, o padre trouxe uma imagem, uma pequena foto dele com uma oração atrás, e colocou na mesa em um dos nossos momentos de partilha. Neste momento o padre Tiago perguntou sobre quem era aquele rapaz”.
A partir disso, Tiago pesquisou e encontrou diversas informações sobre o beato. “Ele se encantou e começou esse grupo. Essa devoção começou a se desenvolver e a crescer muito. Isso porque as pessoas queriam saber quem era esse jovem”, conta padre Rodrigo.
Após a saída do padre Tiago, havia a necessidade de que um padre desse continuidade ao trabalho de divulgação. Desta forma, Rodrigo Tascheck assumiu o setor da juventude.
“Entretanto, não é só assumir um grupo, é conhecer a história e se envolver com ela. Conhecendo mais da vida do Carlo, conhecendo mais a sua fé e tudo aquilo que ele fez em terra com aquela idade, não há como não se encantar e não falar desse rapaz”, pontua.
Depois dos ensinamentos das orações às comunidades, foi adotado o dia 12 de cada mês, em honra a memória dele, para a realização de uma missa e também da novena com frases que o beato usava.
Em 2022, o vereador Cacá Tavares propôs a denominação da rua 500, do Loteamento Parque Residencial Florence, como rua Carlo Acutis. O projeto foi aprovado após votação na Câmara.
O padre Rodrigo também pontua que a importância de Carlo para os jovens está basicamente no fato dele ser um beato jovem e que já está próximo da canonização. O que mostra que é possível levar uma vida junto à religião e aproveitar a juventude.
“Era um jovem que não viveu lá no século II, não viveu no século IV, ele viveu nos tempos de hoje, com a tecnologia de hoje, com os problemas de hoje, e mesmo assim ele conseguiu provar que é possível viver uma vida em Deus, fazer uma vida sem deixar de ser jovem, sem deixar de aproveitar os valores, mas uma vida íntegra, profunda, sincera, honesta e verdadeira”.
O vigário menciona que Carlo vinha de uma família nobre, mas que mantinha a simplicidade. E que nada do que era feito pelo beato tinha o propósito de ser exibido. “Eles [a igreja] foram descobrindo isso aos poucos, através das partilhas, dos amigos deles e demais pessoas. Então, isso é só um pouco da vida desse rapaz e que encanta”.
Com o nome de Carlo presente nas redes sociais e em diversos outros lugares da internet, muitas pessoas que não possuem ligação com a igreja e, até com a religião, têm apresentado interesse na história do beato, conta padre Rodrigo.
“Muitas pessoas vêm perguntar, quem é esse rapaz? Quem é o moço do quadro que vocês falam? Eles acham que ele ainda está vivo, está andando por aí. Não, ele faleceu com 15 anos. ‘Nossa, ele já é falecido’. Então as pessoas vêm perguntando, ainda mais agora por ocasião do segundo milagre. As redes sociais difundiram a imagem e a história dele. Todo mundo quer saber quem é Carlo Acutis”.
Um grande destaque dado ao jovem santo está em suas ações de caridade, das quais chegava a ceder peças de roupas do próprio corpo para pessoas que estavam em uma situação vulnerável, assim como a ajuda para pessoas com algum tipo de deficiência.
“Ele via nessas pessoas que sofrem a pessoa do Cristo. Então, foi um adolescente que não perdeu tempo na vida. Ele não almejava ser santo, ele não queria ser conhecido, mas a vida dele, o sofrimento que ele teve e o conhecimento que ele tinha, hoje, é um exemplo para muitos jovens”, conta o padre.
Na igreja católica, há a oblação, que se resume à entrega ou doação para Deus ou para os santos. Nas palavras do padre Rodrigo, “é alguém que se deixa consumir para se entregar. E para isso é preciso estar em um nível muito elevado de espiritualidade, uma intimidade muito grande com Deus”.
“E ele com 15 anos fez isso. Aceitou a enfermidade, aceitou tudo isso. Apenas depois da morte dele que a mãe viu que muita gente vinha procurar e viu o quanto aquele filho era conhecido, era amado. Ela não tinha conhecimento disso”.
A igreja matriz São Luís Gonzaga guarda relíquias do beato. Atualmente há o fio de cabelo de Carlo Acutis e um pedaço do tecido que envolveu seu corpo.
Um grupo de devotos de Brusque, que está ligado a outro grupo internacional do beato, recebeu uma relíquia de Carlo Acutis. Estão guardados na paróquia um fio de cabelo pertencente ao jovem, uma pétala de rosa retirada de seu túmulo, assim como um pedaço do tecido que envolveu o corpo de Carlo.
Dione Amaral, de 29 anos, mora no bairro Limeira Alta, e é devoto do beato Carlo Acutis. O fiel também ajuda nos retiros e momentos de catequese.
Desde pequeno foi envolvido com a igreja. Hoje, participa de forma ativa na evangelização na comunidade onde mora e também em outras cidades. Ele conta que conheceu Carlo nas missas. “Ele [Carlo] me ajudou muito a entender o que hoje Deus quer de nós, que é possível ser de Deus, ser alguém temente a Deus, mas ser jovem”, ressalta.
“Carlo usava das redes sociais para manifestar aquilo que era de Deus. Como o site que ele criou, ele demonstrava os milagres eucarísticos, a ação de Deus em nosso meio”.
Então, através dele [Carlo Acutis], senti mais amor pela eucaristia, pela devoção mariana, de estar buscando esse contato e intimidade com Deus. Carlo viveu o que a igreja pede, e vai se tornar santo em breve, isso toca o coração de muitas pessoas aqui na região”, conclui.
Dione conta que hoje busca uma vida em plenitude e simples, como a que Carlo levou. “Ele vivia na simplicidade, ajudava o próximo, estava sempre em contato com as pessoas, cobrava e tirava os amigos de situações ruins”.
A partir desta simplicidade, o jovem seguiu uma vida plena. “Sofreu com a doença, mas toda dor era entregue pelas almas do purgatório e pelos que estavam mais necessitados”, pontua.
“Isso é o que eu busco para minha espiritualidade hoje. Sempre fui da igreja, mas Carlo me abriu um novo horizonte. Costumo falar nos retiros que, por vezes, eu estava comendo sopa com um garfo e Carlo veio como uma colher que facilitou ingerir esse alimento mais sólido, entender um pouco mais do que é Deus e vivenciar aquilo que ele me pede”, finaliza.
“O santo escolhe as pessoas para segui-lo e, no meu caso, ele soube me escolher da melhor forma possível, em uma hamburgueria”, conta Débora Keller Schaefer, de 35 anos, moradora do Centro.
A devota já participava de ações da igreja. Ela conheceu Carlo em 2021, quando foi em uma hamburgueria acompanhada do marido e do padre Tiago. ”Curiosamente perguntei a ele [padre Tiago] quem era esse menino e ele, empolgado, nos contou um pouco da história do Carlo. Chegando em casa, fui procurar mais sobre a vida do beato”, conta.
Depois de horas assistindo vários vídeos sobre a história do jovem, Débora se viu emocionada e apaixonada pela vida do rapaz, assim também com a certeza de que seu projeto de vida seria estar junto de Jesus.
“Então iniciei a novena de 3 a 11 de outubro e a cada dia Carlo me trazia para mais perto de Jesus. Ao final da novena, completamente encantada e com o desejo de espalhar este amor e devoção ao ‘tal Carlo Acutis’, fomos convidados pelo padre e pela antiga Associação Carlo Acutis do Brasil a sermos os propagadores da espiritualidade deste jovem aqui em Santa Catarina”, menciona.
“Iniciamos nossa jornada de evangelização, envolvimento pastoral, missas devocionais em várias cidades e, no ano seguinte, a associação e a família Acutis presentearam nossa paróquia com uma relíquia de primeiro grau do beato por ocasião do jubileu dos 150 anos e pelo trabalho que vinha sendo desenvolvido junto à comunidade e aos jovens. Esta relíquia encontra-se exposta para visitação e oração na matriz”.
Para Débora, algo dentro de Carlo o distinguia da maioria dos jovens da sua geração. “Uma fé inabalável e uma vivência verdadeira da religião, ambos motivados pelo amor incondicional a Jesus Cristo”. A diferença no beato estaria na escolha por proclamar o evangelho “de forma sincera e genuína em um mundo onde a vida se baseia em coisas passageiras e descartáveis”.
E assim, “contrariando a mentalidade do seu tempo e sem medo de sofrer as consequências dessa escolha, pois, acima de tudo, ele havia entendido que todos nascemos originais, mas muitos morrem fotocópias”, mencionou a devota.
Débora diz que hoje o grupo Carlo Acutis conta com 15 pessoas e que está se preparando para o terceiro retiro de jovens. O diretor espiritual do movimento é o padre Rodrigo. “O retiro é fundamentado na espiritualidade de Carlo, na eucaristia, na devoção mariana e na caridade”.
E convida os fiéis e os interessados em aprender mais sobre o beato, assim como assuntos da igreja, a acompanhar a página do grupo Carlo Acutis, no Instagram. “Venha caminhar conosco, Carlo aponta para Jesus, ele mostra que é possível seguir uma vida em busca de santidade e de valores que não passam, é possível ser feliz jogando videogame, brincando, indo ao cinema, saindo com os amigos e ao mesmo tempo amando a Cristo“, finaliza.
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