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Casa Gums II: Desejo da família é manter exemplar enxaimel do Sternthal preservado

Família vive no local e tem orgulho de preservar o imóvel de 79 anos

Uma das principais lembranças da infância de Nelson Gums na casa construída por seus pais, Max e Anna Gums, é a Páscoa. Ele e seus três irmãos, Melita, Lídia e Wilson, esperavam ansiosos pela data que celebra a ressurreição de Jesus Cristo, já que esta era uma das poucas oportunidades em que tinham para comer chocolates.

“A gente nem dormia de noite ansiosos por causa da comida. Cada um ganhava um pedacinho de chocolate e levava pra cama. No outro dia, o lençol estava todo manchado porque o chocolate derretia. Naquela época, a Páscoa era muito mais bonita. Cuca e pão de trigo era só no Natal e na Páscoa”, lembra o guabirubense de forte sotaque alemão.

Família Gums tem orgulho da casa construída por Max e Anna | Foto: Bárbara Sales

Nelson viveu na casinha enxaimel da família até casar. A residência foi construída no início dos anos 1940, na localidade do Sternthal, no bairro Aymoré. Seus pais, Max e Anna, casaram em 1942 e foram morar ali.

O filho mais velho conta que os pais trabalharam a vida toda na lavoura. Entre outras coisas, plantavam aipim e cortavam lenha para vender em Brusque.


“A gente
 ajudava na roça. Ia para a escola a pé. Era essa perto do cemitério [Escola Germano Brandt], no Aymoré, e fazia a doutrina no Centro. Quando chegava em casa, pegava a enxada para ajudar na lavoura. Aquele tempo era muito mais bonito que hoje. A comida era o que se plantava e o que se criava em casa. Tudo natural”.

A família tem origem simples. A madeira usada para construir a casa veio das terras de Anna, cuja família morava no bairro São Pedro. “Fico imaginando o tempo que levaram para fazer a casa. Puxavam a madeira de carroça lá do São Pedro até descer aqui. Depois fazer todo o encaixe, os tijolos”, destaca Nelson.

A casa hoje serve de moradia para o irmão de Nelson, Wilson, e sua família. Após a morte do patriarca, Anna e o filho mais novo ficaram morando no local. Em janeiro de 1986, a casa ganhou uma nova moradora: Marli, esposa de Wilson.

Nelson exibe as marcações em algarismos romanos existentes na casa | Foto: Bárbara Sales

Desde então, ela é quem cuida da casa, que sofreu algumas modificações ao longo dos anos. A residência foi se moldando às necessidades da família: ganhou mais espaço e novos cômodos no fim dos anos 80. “Desmanchamos a outra parte de madeira e fizemos de material. A casa tinha a sala, dois quartos, a cozinha e o sótão”, conta Marli.

Por dentro, a casa era cinza decorada com vasos de flores pintados nas paredes. As pinturas também já não existem mais, foram substituídas por um novo reboco.

Da construção original, permanece apenas a sala e um dos quartos. Janelas, portas e o brilhante piso de madeiras claras intercaladas com escuras foram preservados. A escada que leva ao sótão também permanece ali.

Janelas da casa são originais da época da construção | Foto: Bárbara Sales

A fachada da casa foi reformulada. As vigas de madeira que sustentavam a varanda foram substituídas por estruturas de tijolo à vista para ficarem semelhantes ao resto da casa. “A varanda era toda de madeira, mas foi estragada pelo cupim e também pela chuva, apodreceu. Fizemos então piso e de tijolos para ficar parecida com a casa”, destaca Marli.

A vontade da oma Anna sempre foi manter a casa onde constituiu sua família. Marli cuidou da sogra até 2010, quando ela faleceu, aos 85 anos. “Fiquei com ela 24 anos. Lembro que quando vim morar aqui ela só falava alemão. Ela entendia o português, eu entendia o alemão, só não sabia falar. E a gente se comunicava assim, se entendia”.

Além de Marli e Wilson, vivem na casa a filha do casal, Tais, e o genro, Maicon. Todos têm em comum o desejo de manter a casa como está hoje, com as três paredes enxaimel firmes para sempre lembrar as raízes da família.

“A casa vai ficar aí até quando aguentar. Eu também pretendo ficar aqui até morrer”, diz Marli.



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