Casa Kistner: Construída em 1947, residência é a única enxaimel que restou no Gruenerwinkel
Vera e Alcides juntaram 130 mil cruzeiros para poder comprar o imóvel
A casa, bastante simples, fica na rua Gruenerwinkel, distante em torno de 6 quilômetros do Centro de Guabiruba. É o único exemplar enxaimel que restou nos arredores. “Antes tinha várias casas desse tipo aqui na rua. Mas com o tempo foram destruindo. A última faz uns cinco anos”, lembra Vera.
Antes de comprar a casa, o casal – que hoje está separado – já vivia no local. Alcides, inclusive, nasceu e cresceu ali, assim como seus três irmãos. “Meu pai, Alfredo Kistner, era o mais novo dos quatro filhos, casou com minha mãe e ficou morando com meus avós”.
Em 1979, o pai de Alcides morreu. A mãe construiu uma casa no terreno próximo. O avô faleceu em seguida, em 1980. Foi então que Alcides decidiu voltar a morar na casa para fazer companhia para a tia, que cuidava do avô.
Cinco anos depois Alcides casou com Vera. Os dois moraram na casinha enxaimel na companhia da tia durante dois anos. Foi então que decidiram fazer a proposta de compra da casa, por volta de 1986.
“Nós sempre trabalhamos na lavoura, então 130 mil cruzeiros era muito dinheiro. Vendemos tudo o que a gente tinha de valor: animal, arado, carroça. Demos metade de entrada e a outra metade tínhamos que pagar em dois meses”, lembra Alcides.
Para conseguir pagar os outros 65 mil cruzeiros, ele foi trabalhar fora. “Não tinha mais de onde tirar dinheiro, então fui trabalhar em fábrica. Lembro que o meu salário era 11 mil cruzeiros por mês”.
Mesmo assim, ainda não era suficiente. Naquele ano, o casal se virou como podia. “Colhemos bastante amendoim, feijão vermelho e preto. A mãe emprestou uma parte do dinheiro e em 60 dias pagamos os outros 65 mil cruzeiros para minha tia”.
Vera conta que aqueles meses foram bastante difíceis, mas o casal queria muito ter a própria casa. “Ficamos muito apertados. Demos tudo o que tínhamos pra comprar a casa. Eu sempre lembro que nem cebola para temperar a carne tinha mais, só cebolinha verde do quintal”, lembra, aos risos.
Depois da turbulência, pouco a pouco a rotina da família foi se estabelecendo. Logo o primeiro filho, Moisés, nasceu. Três anos depois, a casa foi reformada. “O Moisés tinha três anos. Lembro que ele pegava as ferramentas do pedreiro e escondia”.
Vera e Alcides contam que a casa, já naquela época, estava bem deteriorada e, por isso, eles decidiram reformar. Entretanto, a obra não foi das mais fáceis.
“A casa estava bem velha. Os sarrafos das telhas poderia pegar e amassar com as mãos. Só ficou o principal da casa, as quatro paredes e o assoalho. O telhado nós tiramos”, diz Vera.
“Chovia muito dentro da cozinha. Mas ninguém queria fazer a reforma na época, os pedreiros tinham medo que a casa caísse. ‘As paredes vão cair’, eles diziam. E eu respondia: ‘Não caindo com gente dentro já está bom’. No fim, a obra foi feita e as paredes ficaram firmes”, destaca Alcides.
Na reforma, a cozinha foi toda feita nova, assim como o telhado. Vera conta que a cozinha tinha um piso de tábuas largas com grandes buracos entre as elas. “Antigamente jogavam água para limpar, estava apodrecendo. Tinha até que cuidar pra caminhar. Se tivesse salto alto fino ficava trancado lá”.
A escada que dava acesso ao sótão também não existe mais. Com o passar dos anos, novas reformas aconteceram. Hoje, do enxaimel, resta apenas a fachada e as duas paredes laterais. O piso de madeira escura também permanece o mesmo.
Hoje, Vera vive sozinha na casa. Apesar de ter se separado do marido, cuida com perfeição da casa construída pela família dele e que também é sua.
“Sempre gostei de morar aqui. É nesta casa que eu tive e criei meus filhos. Já recebi muito elogio das pessoas por manter a casa assim, mesmo sendo separada”, diz.
Os filhos do casal, Moisés e Carolina, também se orgulham de a mãe e o pai manterem a casa e a história da família preservada. “Sei que derrubar eles não vão. A Carolina sempre diz que vai fazer um museu na casa”, brinca Vera.
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