Casa Schlindwein II: Residência guarda preservados elementos da época que era habitada
Irmãos fazem questão de manter tudo da mesma forma que era na época de seus pais
Os móveis rústicos e antigos, todos em azul claro, contrastam com o assoalho em tons de marrom sóbrio e com a geladeira branca moderna. Na cantoneira, o velho rádio tem destaque e funciona como se fora novo.
A casa parece habitada. O calendário em uma das janelas marca o mês de fevereiro de 2016. Na pia, o escorredor carrega algumas louças. O armário guarda pratos, copos e o chapéu de seu Arnoldo Schlindwein, o patriarca da família.
Avançando pelo corredor, entra-se, de fato, na casa enxaimel construída em 1945. A área da cozinha foi edificada alguns anos mais tarde, como uma espécie de puxadinho e fora dos padrões da técnica popular entre os imigrantes alemães.
Ao avançar pelo cômodo, também em tons de azul, logo se vê um pequeno quarto, sem porta, com divisórias de madeira que, assim como na maioria das casas enxaimel, não vão até o teto.
No lado direito, uma porta marrom avermelhada chama a atenção pelo fato de estar a alguns metros longe do chão. Ao abrir, surge a escada que dá para o sótão. Com degraus bastante danificados, não é possível subir para o cômodo que nunca fez parte da rotina da família.
“Ali encostado na escada tinha um armário onde a mãe deixava o pão”, recorda Henrique Schlindwein, que nasceu e cresceu na residência.
Avançando um pouco mais pela casa, chega-se à sala. Assim como na cozinha, os móveis estão intactos. Um quadro de Arnoldo e Alvina Schlindwein, os proprietários da casa, é um dos muitos objetos de decoração que enfeitam as paredes do cômodo.
No quarto do casal, a cama, em tons amadeirados, está feita. Na cabeceira, um grande rosário antigo contrasta com um aparelho de ar-condicionado.
No outro quarto, uma pequena cama de solteiro e um armário dividem espaço com o outro lado da escada do sótão. Ali dormiam quatro dos 13 filhos do casal.
Outros quatro dividiam o espaço do primeiro quarto e os demais se apertavam no corredor entre a cozinha.
Por muitos anos, a casinha enxaimel abrigou 15 pessoas. “São tudo na faixa de um, um ano e meio de diferença. Tudo escadinha. Quando a última irmã nasceu a mãe já tinha mais de 40 anos. Era muita bagunça, mas eles eram bravos. Lembro que na parede da cozinha tinha um chicote, só esperando. Naquele tempo não tinha essa folia de criança na droga, respeitavam mais”, diz Henrique.
Descendente de alemão, Arnoldo Schlindwein nasceu em 1923. Quando tinha em torno de 20 anos ganhou um pedaço de terra do pai e deu início à construção da casa para sua grande família. O imóvel ficou pronto antes do casamento com Alvina.
O filho mais velho, Claudino Schlindwein, diz que a escolha pelo enxaimel foi para seguir o padrão da época. “Primeiro arma as partes de madeira e depois fecha as paredes. O pai contava que tinha um senhor que gostava muito de beber e deixava um litro lá no sótão. A bebida era para o fim do dia de trabalho, mas no meio da tarde ele já pegava o ‘aperitivo’, não se aguentava”, conta.
A família sempre trabalhou na roça. No quintal tinha mandioca, banana, batata doce, além da criação de galinhas e porcos. Arnoldo também trabalhou como motorista. Todos os filhos do casal nasceram e cresceram ali, na casinha enxaimel na rua Guabiruba Sul.
Ao longo dos anos, foram crescendo e construindo a própria vida. A casa foi ficando vazia. Arnoldo e Alvina moraram ali até o fim da vida. Ele faleceu em 2001. Ela, em 2008. Desde então, a casa permanece do jeito que a matriarca deixou, como uma espécie de lembrança dos tempos de casa cheia vividos ali.
Com quase 75 anos, o local teve poucas modificações ao longo do tempo. Claudino diz que apenas o forro foi trocado, além da pintura nas paredes. O piso de madeira é original da época da construção. “A cozinha sei que foi feita logo depois da casa. Há uns 25 anos foi trocado o forro. Lembro que o pai queria trocar as telhas também, mas aí ia tirar o estilo da casa, então as telhas permanecem originais. Não foi mexido mais em nada”.
Apesar da ação implacável do tempo, a casa mantém suas características praticamente intactas, sem contar o anexo feito de material tempos depois, onde estão a cozinha e o banheiro.
Os encaixes das madeiras, também castigados pelos anos, são visíveis e dão uma vaga ideia de como era feito esse tipo de construção.
Eventualmente, a casinha de tijolinhos à vista cercada por muito verde e apoiada sobre blocos de pedras, é aberta, já que os oito filhos homens trabalham do lado, na serraria construída por Arnoldo em 1969.
Se depender deles, a casa permanecerá assim ainda por muitos anos. “É uma lembrança que nós temos. Não sei quanto tempo a casa vai ficar, já estamos velhos. Mas por enquanto, ela continua assim”, diz Claudino.
Você está lendo: Casa Schlindwein II
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