Celebrações da Festa de São Cristóvão reúnem multidão no Dom Joaquim
Carreata ao protetor dos motoristas saiu do Centro II, às 8h. Evento contou com missa especial
Carreata ao protetor dos motoristas saiu do Centro II, às 8h. Evento contou com missa especial
Motoristas de Brusque dedicaram a manhã deste domingo, 22, para prestar homenagens a São Cristóvão. Uma carreata com centenas de veículos saiu da Havan em direção ao bairro Dom Joaquim, por volta das 8h. Ao longo de toda manhã ocorreu a tradicional bênção dos veículos participantes, há alguns metros da Paróquia Santa Catarina.
A procissão integra a 70ª Festa de São Cristóvão, também chamada de Festa dos Motoristas. A programação começou já sexta-feira, 20.
O entorno do principal centro religioso do bairro servia de ponto de confraternização entre os participantes. Moradores, já acostumados com o buzinaço, acordaram cedo para acompanhar a manifestação religiosa.
Com um chimarrão em mãos, Orlando Heil, 63 anos, esperava pelos primeiros carros na frente da casa e aproveitava para conversar com amigos e vizinhos. Assim como ele, famílias utilizavam as calçadas da rua do Cedro para se instalar com cadeiras e aguardar a carreata.
Em edições anteriores, o aposentado chegou a participar da carreata. A ligação da família com o evento é tão intensa que o irmão, Zeca, auxilia a organizar a programação. Do local, Heil acompanhou toda a carreata e se dizia feliz pelo engajamento gerado na comunidade a cada nova festa. O evento, afirma, é importante tanto pela demonstração de fé, quanto pelo movimento na economia do bairro.
Para ele, o fato do Dom Joaquim receber a programação tem muita ligação com a própria história e características do local. De acordo com Heil, com o volume de empresas, o tráfego intenso de veículos sempre fizeram parte do cotidiano no bairro. Outro ponto destacado é a religiosidade presente na comunidade.
Movimento crescente
O padre Timóteo Steinbach acompanha o evento há seis anos. Segundo ele, apesar de não se ter uma contagem oficial de veículos, a participação na festa aumenta a cada ano. Nesta edição, destaca o clima como um fator que contribuiu para a grande quantidade de participantes.
Ainda antes da carreata começar, ele acompanhava os preparativos, no Centro II, em frente à Havan. É neste ponto onde ocorre a bênção da imagem de São Cristóvão, transportada de caminhão até o bairro Dom Joaquim, onde o padre e dois diáconos se revezam na consagração dos veículos participantes.
Segundo ele, os eventos preparativos à festa, como novenas e o tríduo, auxiliam na manutenção da rotina religiosa entre os mais jovens, que acompanham os pais.
O movimento gerado chega ser maior que a festa destinada à padroeira oficial do bairro e altera a rotina das paróquias da cidade. Pelos menos quatro comunidades optaram por suspender as missas, em função da celebração no Dom Joaquim. “São Cristóvão é um santo muito popular e através desta devoção a religiosidade aumenta muito. É como um co-padroeiro”.
Para preparar o evento, o diácono Antônio Ademar Zorrer estima a participação de cerca de 70 voluntários. Para ele, a longevidade da festa demonstra a religiosidade da população local. “É interessante e necessário para o católico participar de ações como esta. São eles que fazem este evento acontecer”.
Fé e confraternização
Diego Vequi é proprietário da Vequi Bebidas e faz questão de participar da carreata há oito anos. Além da oportunidade de pedir proteção para a categoria, classifica a programação como uma oportunidade de confraternização entre os motoristas e suas famílias. “É uma tradição, um evento importante para a cidade. É um momento de fé de todos”.
Neste ano, oito caminhões da empresa estiveram na celebração. Com sede no bairro Limeira, o grupo começou a se concentrar às 6h. Os preparativos já começaram no fim da semana, com a limpeza dos caminhões. Desde quinta-feira, o ritmo de viagens foi reduzido para garantir a participação no maior número de motoristas possível.
Entre os motoristas, Neumar dos Santos Kreling, 43, acompanhou os colegas de empresa em todas as edições do grupo. Morador de Guabiruba, ele atua com transportes desde os 21 e já sentiu na pele os riscos da estrada. Há cerca de um ano, foi vítima de um assalto entre São Paulo e Minas Gerais.
Na época, foi abordado em um posto de combustíveis, durante a madrugada. O caminhão foi abandonado sem a carga e ele ficou amarrado em um matagal até o outro dia pela manhã, quando foi resgatado. A experiência reforçou a religiosidade do motorista. “É uma situação muito difícil, o recomeço foi muito difícil, mas já voltei para a estrada. Nos apegamos a Deus e pedimos proteção. Não só para nós, mas para os amigos e famílias”.
Proteção redobrada
Após 35 anos como caminhoneiro, Antônio Smanioto, 61, aproveita a programação para agradecer tanto tempo sem ter sofrido acidentes ou assaltos no trânsito. Devoto de São Cristóvão, antes de cada viagem, ele confere se estão com ele a imagem do santo e o terço com que começa cada dia.
A fé é compartilhada com a família, que faz questão de acompanhar todas as edições da festa com ele. “Quando se vem com fé para a festa do padroeiro, tu sai daqui acompanhado e protegido. Graças a Deus, nunca me aconteceu nada ”.
Entre os motociclistas, Bruna Diel, 23, fazia sua estreia pilotando na carreata. Já havia participado da edição do ano passado como caroneira. Convivendo com o trânsito da cidade, destaca a imprudência como uma das principais causas de acidentes no município e fez questão de receber a benção. “Como comecei a dirigir agora, me sinto mais protegida”.
Assim como ela, Ana Paula Lamim, 27, participa da programação desde que possui carteira de habilitação, há oito anos. Nesta edição, há poucos metros do ponto onde ocorria a bênção, problemas mecânicos na moto exigiram que completasse o percurso empurrando, mas a tradição foi mantida.
Apesar da experiência no trânsito, ela acredita ser necessário pedir a proteção divina para evitar transtornos mais sérios. No mês passado, lembra, o desrespeito aos limites de velocidade e a sinalização a fizeram vítima de um acidente de trânsito na rodovia Antônio Heil. Ela afirma ter sido atingida por um carro que fazia uma ultrapassagem irregular. Por sorte, descreve, não teve ferimentos graves.
Assista o momento da chegada da carreata ao Dom Joaquim: