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Conheça a história de Claudia Bia, jornalista das artes e da cultura pop

Colunista de O Município morreu no fim da tarde desta segunda-feira e deixa uma legião de amigos e admiradores

Nascida em 29 de dezembro de 1960, em Santos, no litoral de São Paulo, Claudia Beatriz Laragnoit Villela, ou simplesmente Claudia Bia, chegou em Brusque no início dos anos 1980, recém-formada em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, uma das mais conceituadas do país.

Sempre apaixonada pela cultura, sobretudo pela música e mais ainda pelo rock, Claudia Bia fazia arte postal durante a faculdade e, assim, acabou conhecendo Luís Brusque. Eles namoraram, casaram e decidiram morar em Brusque.

Bia chegou no auge do rock na cidade, quando Brusque era considerada a capital do rock no sul do Brasil, e aqui encontrou o ambiente perfeito. Se sentiu em casa. 

Junto com Luís Brusque, montou a agência de publicidade C5 e logo se inseriu no meio cultural da cidade, onde, de alguma forma, sempre esteve presente.

Natural de Santos, litoral de São Paulo, Claudia Bia nasceu em dezembro de 1960 | Foto: Luis Brusque/Divulgação

Escreveu para o jornal alternativo Contracorrente, que foi sucesso nos anos 1980 e conquistou uma legião de amigos e admiradores.

No ano passado, organizou em parceria com a Modateca do curso de Design de Moda da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), a exposição “BQ80: Quando Brusque foi a capital do rock no Sul”, em comemoração aos 30 anos do auge deste movimento que marcou a história da cidade e do qual ela fez parte.

“Mesmo de longe, sempre acompanhei tudo que ela fez aqui, eu era muito fã mesmo. É uma perda muito grande, não apenas para nós, da família, como para toda Brusque, cidade que ela escolheu”, diz a irmã, Patrícia Inês Villela Abramides Testa.

Claudia Bia morreu no fim da tarde desta segunda-feira, 8, após seis anos lutando contra um câncer de ovário.

Claudia Bia, Like, Beltranas
A história de Claudia Bia no jornal O Município começou em 2006. A convite do amigo Rodrigo Vechi, que era colunista social do jornal, a jornalista ganhou um espaço às sextas-feiras e depois às segundas-feiras para falar sobre o que mais amava: a cultura pop/rock.

Em suas croniquetas, como ela mesmo definia, escrevia sobre música, cinema, séries…Relembrava os sucessos, falava dos fracassos, das decepções e, em época de premiação, sempre dava seu pitaco sobre os vencedores. O amor por David Bowie também se fez presente em muitas das suas colunas semanais.

Imagem usada para assinar sua coluna semanal em O Município

Em 2014, lançou em parceria com o professor Luiz Deschamps o projeto Like, coluna semanal que tinha como objetivo dar voz e vez para jovens talentos.

Em 2016, nova ideia, novo projeto: a coluna Beltranas. Todas as quartas-feiras, Claudia Bia reunia a opinião de diferentes mulheres sobre os mais variados assuntos.

Algumas crônicas de Claudia Bia para O Município, inclusive, seriam publicadas no livro ‘47 croniquetas fora do tempo e do contexto’, projeto em andamento e que, infelizmente, não pode ser concluído.

Uma mulher de opinião
Extremamente inteligente e bem humorada, Claudia Bia é definida pelos amigos como uma mulher de opiniões fortes. Amiga de Claudia há 30 anos, Sandra Silveira afirma que a jornalista foi uma pessoa autêntica e que sempre sustentou suas ideias e convicções. “Foi uma das pessoas mais incríveis que eu já conheci, uma cultura ímpar. Tinha uma teimosia produtiva demais, aquele tipo de pessoa que faz a diferença, que sustenta suas ideias, convicções e não foge do debate”.

A amiga destaca que Claudia enriqueceu a cultura da cidade, principalmente a musical, com todo seu conhecimento e amor pelo que fazia. Junto com outras pessoas, foi fundamental na década de 80 para tornar a cidade o palco do rock no país”.

Vizinho de empresa de Claudia por muitos anos, o médico Jonas Sebastiany também sempre foi um grande amigo da jornalista. Ele lembra que Claudia Bia o recebeu muito bem quando chegou em Brusque e, desde então, se tornaram grandes amigos. 

“Ela era uma pessoa muito bem humorada e ao mesmo tempo muito séria, que tinha uma vasta cultura, uma grande experiência de vida e era muito generosa em transferir todo o seu conhecimento para as pessoas”.

Amigo muito próximo de Claudia, Rodrigo Vechi lembra que conheceu a jornalista em uma mesa de bar no antigo Beira Rio, nos anos 1990. Naquele dia, Rodrigo estava cantando e Claudia estava acompanhada de amigos. “Ela estava muito empolgada, conhecia todas as músicas e no intervalo do show fui falar com ela. No fim, ficamos bebendo juntos até o fim daquela noite e assim começou uma amizade, uma parceria que durou até agora”.

Rodrigo diz que a jornalista foi a precursora do que hoje conhecemos por formadores de opinião. “Ela sempre foi muito conectada com o que estava acontecendo, muito importante na cena literária. Me substituía escrevendo minha coluna aqui no jornal O Município quando eu entrava de férias. É uma perda irreparável, Brusque perde muito com isso. A Claudia Bia vai morar para sempre no meu coração”.

Ele lembra ainda  de uma antiga tradição que mantinha com Claudia Bia, a de assistir a todas as premiações do cinema e fazer apostas sobre os vencedores. “Oscar, Tony, nos reuníamos num ritual, apostávamos nos vencedores. Fizemos isso por muitos anos. Quando me mudei para São Paulo, não conseguimos manter essa tradição. Vou morrer de saudade. Tenho certeza que a memória dela vai surgir cada vez que eu assistir a uma premiação”.

A atriz e escritora Lieza Neves conta que seu contato com Claudia Bia começou por meio da escrita. Lieza era uma das escritoras da coluna Beltranas, idealizada pela jornalista e publicada toda quarta-feira no O Município.

Admiradora de Claudia, Lieza afirma que mesmo nos momentos mais difíceis da doença, a jornalista não se deixou abater. “Toda essa história dela ajudou a mantê-la firme enfrentando a doença. Ela lutou há tanto tempo e nunca deixou a doença ser uma desculpa, não colocou a doença à frente de nada. A Claudia Bia deixa, com certeza, um legado. Se hoje estamos colhendo alguns frutos em termos de cultura, é por causa dela que abriu caminho em uma época que não tinha nada”.