Coordenador do BQ(en)cena, Sérgio Valle fala sobre o cenário cultural na região em 2018
Terceira temporada de teatro na região deve reunir público de 15 mil pessoas
Terceira temporada de teatro na região deve reunir público de 15 mil pessoas
À frente da PrismaCultural desde 2006, o empresário brusquense Sérgio Valle tem sido responsável pela modelagem, coordenação e execução de projetos na música, artes cênicas e de patrimônio em Santa Catarina.
Destaca-se na coordenação de projetos como a realização do BQ(en)cena – Temporada de Teatro (1ª, 2ª e 3ª edição), além de assessoria e captação de recursos em projetos culturais em cidades como Brusque, Guabiruba e Florianópolis.
A terceira temporada BQ(en)cena, por exemplo, selecionou 22 espetáculos por meio de edital nacional, e as apresentações estão ocorrendo de outubro de 2017 a abril de 2019, em Brusque, Botuverá, Guabiruba, Nova Trento e Florianópolis, com uma expectativa de público estimado em 15 mil pessoas.
Confira a entrevista com o empresário:
O Município: Como surgiu o BQ(en)cena, quantas pessoas estão envolvidas no projeto?
Sérgio Valle: O BQ(en)cena surgiu de demandas levantadas pela Prisma junto ao meio artístico, organizado via Conselho Municipal de Cultura de Brusque, e necessidades do setor empresarial mantenedor de um dos equipamentos culturais mais importantes da cidade, o Teatro do Centro Empresarial, Social e Cultural de Brusque (Cescb).
O setor artístico necessitava de mais incentivo para produzir e mais acesso aos equipamentos culturais da região, além de uma melhor e ampla divulgação do que estava sendo produzido. Já o setor empresarial buscava meios e recursos para manter seu equipamento cultural funcionando adequadamente e atendendo um número maior de pessoas a cada ano.
Com isso, a PrismaCultural buscou modelar um projeto que não só atendesse a essas demandas primárias, mas que pudesse realizar ações dentro de um perfil mais inovador, buscando aliar a manutenção de equipamentos culturais, com trabalho e renda para o setor artístico, a formação permanente de uma plateia regional e a circulação de espetáculos de grupos e cias de todo o país.
Trabalham na equipe de projeto dez pessoas e, como um todo, gira em torno de 200 profissionais envolvidos diretamente na execução de todos os espetáculos e ações realizadas pelo BQ(en)cena.
O que é ser um produtor cultural nos tempos atuais, com os mecanismos de incentivo do mercado estabelecido?
O produtor funciona muito como um mediador entre os mais distintos agentes dos setores envolvidos na produção artística e cultural. É um profissional que tem que ter muita sensibilidade para entender as necessidades do setor artístico, o que uma obra de arte necessita para ser disponibilizada adequadamente ao público, que público é esse?
Como atrair investimentos, recursos de várias ordens não somente o financeiro, para que os processos artísticos possam ser realizados na sua máxima potência, mas ao mesmo tempo de forma justa e adequada dar um retorno de mídia e agregar valor à marca das empresas que apoiam ou patrocinam essa produção artística? Realizar um levantamento mínimo do que o público tem mais necessidade ou vontade de acessar, sem, contudo, direcionar de forma demasiada para um conteúdo artístico específico, possibilitando assim a democratização de acesso não só para a plateia, mas também para os artistas envolvidos nos processos produtivos.
Principalmente quando os projetos são viabilizados via mecanismos de incentivo, como renúncia fiscal ou editais públicos, pois assim já se configura como Política Pública de Cultura, e o caráter democrático, no que se refere ao acesso a todo “esse fazer”, é necessário.
O BQ(en)cena é realizado com recursos captados pela Lei Rouanet. Como funciona a lei?
A lei é relativamente simples, as empresas tributadas sob o lucro real podem destinar 4% do imposto, a pagar, para projetos aprovados via Lei Rouanet. Isso significa em termos práticos que a empresa decide onde ela vai aplicar esse recurso. Por isso é importante que o produtor cultural ou responsável pelo projeto ou ainda o profissional que se dedica a captação desses recursos junto às empresas, tenha um entendimento claro do que está sendo proposto na realização deste projeto. Qual o objetivo a ser alcançado com a realização do projeto, como isso irá impactar no entorno onde o projeto será realizado.
Como um projeto cultural pode se tornar atraente aos olhos de um empresário?
Na Prisma nós trabalhamos com o pensamento de que de alguma forma as empresas parceiras, assim como o setor artístico envolvido diretamente no projeto, como os responsáveis pelos equipamentos culturais, as Fundações de Cultura dos municípios, que receberão as ações do projeto, e o setor de ensino, se for o caso de envolver escolas, todos devem de alguma forma fazer parte desde o início da modelagem do projeto.
Disponibilizando dados para o levantamento de necessidades ou mesmo oportunidades, visando estruturar o projeto de forma a atender em alguma medida as expectativas de todos os envolvidos. Com isso buscamos o sentimento de que todos fazem parte do projeto, e assim, se tornam comprometidos com o mesmo.
O projeto não pode ser bom só para um determinado agente ou setor, ele deve cumprir uma função maior, uma função social.
Como se dá o processo de viabilização dos projetos coordenados pela PrismaCultural?
A Prisma desde o início de suas atividades busca no seu entorno a “aderência social” necessária para viabilizar seus projetos. Não basta uma possível “boa ideia”, ela tem que ser necessária e viável aos olhos de todos os envolvidos. Não basta somente dar um bom retorno de mídia por exemplo.
Quando o objetivo do projeto atende verdadeiramente uma demanda da sociedade ou de grupos relevantes desta mesma sociedade, e que proporciona uma melhoria na qualidade de vida de todos os envolvidos, aí começamos a ter um processo de viabilização de um futuro projeto.
Como foi o processo de seleção dos espetáculos da terceira temporada?
Todas as edições do BQ(en)cena tiveram um trio de selecionados contratados para realizar a seleção dos inscritos via edital nacional. Esse processo para o conceito do projeto é muito importante, pois há o desejo de que o recorte feito pelo trio de selecionadores seja o mais isento possível.
Na terceira temporada, o trio selecionou 22 espetáculos de um universo de 522 inscritos oriundos de 19 estados mais Distrito Federal. Ao final, o recorte da produção nacional contemplou espetáculos de sete estados (SC, SP, RJ, MG, PR e RS).
O que o público pode esperar da temporada BQ(en)cena em 2018?
O público terá a oportunidade de assistir espetáculos de múltiplas linguagens, de monólogos a elencos com muitos atores em cena, de cenários super produzidos a iluminações muito bem elaboradas, produzindo efeitos e texturas ricas em cor e profundidades. Além de belos figurinos. Mas o principal é a atuação dos atores e atrizes que se apresentarão nos 22 espetáculos em 60 apresentações.
Como empresário e produtor cultural, qual a tua expectativa para o cenário cultural catarinense nos próximos anos?
Penso que o cenário que eu gostaria de ver (e trabalho para isso) é uma maior convergência de todos os envolvidos nesse setor para que possamos produzir mais e melhor, com recursos adequados à realidade e à dimensão do nosso estado. A formação de circuitos regulares para a divulgação e difusão da arte produzida em Santa Catarina considero como um dos pontos chaves para que a arte produzida aqui seja acessada pelos catarinenses. Por fim, o cenário de 2018/19 será aquele que nós, produtores e agentes culturais, conseguirmos produzir.
Programação do BQ(en)cena no primeiro semestre
Chapeuzinho Vermelho (Projeto GOMPA e Rococó Produções – RS)
7 e 8 de março, em Brusque
Por que nem todos os dias são dias de sol? (Artesanal Cia de Teatro – RJ)
22 de março, em Brusque
23 e 24 de março, em Florianópolis
Quarto 19 (Amanda Lyra – SP)
14 e 15 de abril, em Brusque
Contos de Nanook (Setra Companhia – PR)
17 de maio, em Brusque
18 e 19 de maio, em Florianópolis
Um Príncipe Chamado Exupéry (Cia Mutua – SC)
20 e 21 de junho, em Brusque