Corregedor-geral do MP-SC analisa a atual conjuntura política do país
Gilberto Callado de Oliveira esteve em Brusque para abertura da semana da família
Gilberto Callado de Oliveira esteve em Brusque para abertura da semana da família
O procurador Gilberto Callado de Oliveira, corregedor-geral do Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) esteve em Brusque nesta semana para fazer o discurso de abertura da VI Semana da Família.
Em entrevista ao Município Dia a Dia, ele fala sobre diversos assuntos da atual conjuntura política, como a troca de comando do país, a corrupção, e o papel do Ministério Público, sua área de atuação.
Callado, além de procurador, também é professor universitário, sócio emérito do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e membro da Academia Catarinense de Filosofia.
Adepto de temas conservadores, Callado é enfaticamente contra as influências do Supremo Tribunal Federal (STF) ao regular temas como o casamento civil para pessoas do mesmo sexo e o aborto, segundo ele, partes de uma “pauta ideológica” proposta pelo governo afastado.
“Tivemos uma réstia de luz quando a população foi às ruas e se insurgiu contra essa pauta ideológica de destruição da família proposta por esse governo, que já saiu, felizmente”, afirma.
“Mas será que este novo governo está disposto a eliminar esta pauta ideológica que está no plano nacional dos direitos humanos? Não sei. O governo anterior caiu não por causa do parlamento, foi porque o povo foi as ruas.
Apesar de ter dúvidas sobre as capacidades e as intenções do novo governo, ele considera positivo a saída do anterior. “Pior do que está é difícil ficar, a não ser que venha o dilúvio”, diz. Para Callado, a recuperação do país “vai depender das forças vivas da nação”.
“O fim do governo do PT não eliminou o pecado original dos políticos, e nem o pecado atual. A rede de corrupção continua aí. Acho que o Ministério Público tem um papel fundamental nisso”, ressalta o corregedor.
Ele justifica que, apesar de o juiz Sérgio Moro ser o ídolo da população, quando o assunto é corrupção na política, é o Ministério Público quem faz as investigações, pede prisão e denuncia os envolvidos.
“Todo esse processo da Lava Jato foi judicializado pelo MP, o que fez o juiz Sérgio Moro passou antes pelo Ministério Público, que sempre foi autônomo”.
O corregedor crítica, contudo, a existência do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), o qual classifica como um órgão “criado pelo governo do PT ao estilo Bolchevique, um órgão criado para marietar, para dominar os Ministérios Públicos estaduais”.
“Deus queira que o presidente Michel Temer proponha emenda constitucional para eliminar esse conselho. Isso só absorve orçamento público, os MPs estaduais têm sua autonomia, não precisam de custódia, já existem as corregedorias”.
Sobre a corrupção no estado, o corregedor não acredita que atinja todos os municípios. Apesar disso, destaca que o MP de Santa Catarina consegue se “autofinanciar”, a medida em que recuperar valor para os estados e municípios, por meio das ações judiciais. Conforme Callado, em breve deverá ser atingida a cifra de R$ 1 bilhão recuperados aos cofres públicos.
A influência do STF na política nacional
O corregedor considera negativa a influência e o poder do STF de legislar. Callado explica que após a Segunda Guerra Mundial, a Justiça constitucional sofreu modificações, que criaram novas Constituições extremamente rígidas, como a do Brasil e, também os chamados tribunais constitucionais, como o Supremo.
“O que se destacou é que os tribunais constitucionais passaram a invadir invariavelmente a área do Legislativo, isso é perigoso, porque o juiz não está legitimado pelo voto popular, mas o legislador se atém à vontade popular”, discursa.
“Exemplo disso é o Supremo votar a favor da união civil de pessoas do mesmo sexo e despenalizar o aborto de fetos anencéfalos, contrariando a constituição duplamente. Isso chama-se, em bom português, ativismo judicial, e é preciso que o parlamento reaja, como reagiu ao Executivo. o legislativo pode se opor, ou até cassar o mandato dos ministros do Supremo”, afirma o corregedor.
“Se um ministro do Supremo tentar invadir a prerrogativa do parlamento, tem que sofrer impeachment. Rui Barbosa dizia que teme a ditadura do Judiciário, porque o povo não tem a quem apelar. O Supremo não tem a legitimidade popular, nem a legitimidade democrática para legislar”, opina Callado.
A demora do Judiciário em punir corruptos
Callado foi questionado sobre o fato de que, embora esteja em voga no país o combate à corrupção no setor público, ainda se demore muito tempo para se ter decisões condenatórias de primeiro grau, no Judiciário. Para ele, é preciso fazer uma revisão do rito processual, que é muito demorado.
“E de outro lado o assoberbamento do Judiciário, eu não quero creditar isso à negligência dos magistrados, de forma nenhuma. Mas se podia dar prioridade, hoje as coisas estão mudando, o povo está cobrando demais dos políticos, dos juízes e do Ministério Público”, discursa.
“Com essa nova mentalidade da sociedade brasileira, esses processos poderão ter alguma prioridade, porque a pressão não é pequena e isso pode fazer com que os juízes despertem para certas apelações populares e possam dar prioridade aos casos de corrupção”.
“O fim do governo do PT não eliminou o pecado original dos políticos, e nem o pecado atual. A rede de corrupção continua aí”