A depressão continua a ser um tema tabu no cotidiano das pessoas. Provavelmente por desconhecimento as pessoas encaram a depressão e outras doenças mentais como sendo radicalmente diferente das doenças que atingem outros sistemas ou órgãos.

Quando a depressão acomete crianças ou adolescentes a dificuldade de aceitação é ainda maior.  Muitos acreditam que os jovens não sofrem de transtornos depressivos.

A Unicef relata que existem mais de 16 milhões de adolescentes entre 10 e 19 anos de idade sofrendo de transtorno depressivo, isso significa 15% da população nessa faixa etária. 

No Brasil o número de jovens com depressão chega a um milhão. Uma das grandes preocupações é que a maioria não recebe tratamento. Um dos motivos é justamente a dificuldade de identificar os sintomas que levam ao diagnóstico. 

A depressão caracterizada por um período de tristeza, desânimo, perda de interesse, perda de prazer, por um tempo maior a duas semanas, pode se apresentar de forma diferente na população jovem. 

Em alguns adolescentes o sintoma principal pode ser a irritabilidade extrema e em muitos casos a irritabilidade é atribuída à própria adolescência. Sendo assim o adolescente não é diagnosticado e não recebe tratamento médico nem psicológico. 

As depressões graves podem levar ao suicídio, outro tema tabu na nossa sociedade.  Um estudo da Fiocruz relata que o suicídio foi responsável por 3,63% das mortes em adolescentes entre os anos 2000-2022. 

A preocupação é grande porque nos últimos anos o suicídio em jovens tem aumentado de forma significativa.  Houve uma aceleração dos suicídios em jovens durante a pandemia. 

Os pesquisadores acreditam que os adolescentes são mais sensíveis a temas contemporâneos como as crises econômicas, crise climática e a consequente falta de perspectivas para o futuro. 

A psiquiatra de adolescentes, a chilena Ana Marina Briceño, acredita que o excesso de uso de redes sociais leva a uma continua comparação com os outros em assuntos relacionados com sua vida e seu corpo. 

Haveria um confronto entre as dificuldades da vida real do indivíduo com as ilusórias postagens da vida virtual. 

O que existe de fake nas redes sociais não fica restrito a postagens de conteúdo político. O resultado dessa comparação inevitavelmente leva à frustração e à sensação de que a nossa vida não é tão boa como a dos outros. Este confronto causa um impacto muito maior nos jovens que na população adulta. 

Não devemos esquecer o fato que as novas gerações têm uma dificuldade natural em lidar com o fracasso e as frustrações. Isso porque seus pais colocaram o foco na proteção exagerada e na falsa felicidade de proporcionar tudo o que os filhos desejam. 

Os pais devem estar atentos para as mudanças de comportamento dos seus filhos, se as mudanças se prolongam por mais de duas semanas é conveniente uma avaliação médica ou psicológica. 

É impossível descrever o grau de sofrimento e desespero que um quadro depressivo provoca. Quem tem interesse em conhecer este universo recomendo a leitura da biografia da talentosa poeta norte-americana Sylvia Plath que inicia com sintomas depressivos na adolescência e cometeu suicídio aos 30 anos de idade.  

Escrita por Heather Clark o livro de nome “Red Comet” ainda não foi publicado em português. A prevenção é o melhor dos caminhos para diminuir o risco de transtornos do humor nas crianças e jovens. 

É necessário o aumento do convívio familiar, a diminuição do tempo gasto nas pequenas telas de led e as redes sociais. 

Nosso cérebro é tão maravilhoso que não pode ficar restrito a conhecer o mundo somente através de uma tela de poucas polegadas. Isso é muito negativo para a saúde mental. 

O incentivo à prática de esportes e atividades físicas, o contato frequente com a natureza, o convívio social com amigos e parentes ajudam a ter uma juventude saudável e desenvolver a potencialidade dos nossos jovens.