Detetives da região relatam experiências e casos curiosos da profissão
Casos extraconjugais ainda são a maioria, mas empresas também têm buscado os investigadores
Casos extraconjugais ainda são a maioria, mas empresas também têm buscado os investigadores
As investigações particulares seguem a todo vapor na região. Embora as traições ainda sejam a maioria entre os casos recebidos pelos detetives, nos últimos anos as empresas também têm procurado os profissionais. Espionagem industrial, observação de funcionários sob suspeita de atitudes ilícitas e outros casos trabalhistas também movimentam as investigações no município.
Acompanhando o avanço da tecnologia, os detetives aproveitaram para aprimorar o desempenho, principalmente no registro dos casos. Câmeras de alta resolução, drones, rastreadores, microcâmeras e até aplicativos espiões para celular estão entre as ferramentas utilizadas.
Em Blumenau há tanto empresas especializadas no ramo quanto investigadores particulares. Acompanhamento psicológico e jurídico também são alguns dos serviços disponibilizados por algumas das empresas.
Segundo o detetive Rafael, que preferiu não ter o sobrenome divulgado e atua na Sondar Investigações, as investigações profissionais cresceram bastante em seu escritório. “Se me perguntassem há dez anos, eu diria que 100% dos meus casos era traição. Agora é 70%, porque muitas empresas estão nos procurando”.
Profissionais que atuam na área externa da empresa – com vendas, manutenção e instalações, por exemplo – vem sendo constantemente vigiados, conforme explica o detetive. “Às vezes a pessoa, no horário de trabalho da empresa, faz um bico por fora, o que não é permitido. Outras vezes ela não trabalha, ou diz que executou um serviço que na verdade não fez. A gente está aí pra trazer a verdade dos fatos”.
Rafael tem 14 anos no ramo de investigações, e explica que vem crescendo o número de golpes no ramo. “Quem quer uma investigação precisa saber que o barato muitas vezes pode ser golpe. O trabalho bem feito tem seu preço. Venho recebendo cada vez mais ligações de pessoas que dizem que contrataram um serviço de um detetive e ele não fez, sumiu com o dinheiro. É importante também sempre ter um contrato assinado entre as partes”.
Outro tipo de caso realizado também no segmento das empresas é o de desvio de cargas e mercadorias. Muitos funcionários são flagrados pelos detetives realizando a prática, e por isso é importante poder comprovar o ato ilícito.
José Arnold atua como detetive desde 1981. Diz já ter sido contratado em mais de 3 mil casos e trabalhado com mais de 100 detetives em sua empresa. “Fiz um curso no Instituto de Investigações Científicas e Criminais, no Rio de Janeiro. E aí comecei a trabalhar, primeiro em estágios, e depois por conta própria. A prática conta muito, em qualquer área, e como detetive também”, explica.
Aos 68 anos, Arnold diz ser o pioneiro em investigações particulares na região. Praticamente aposentado, trabalha com o filho, a esposa, e um freelancer que atua quando o trabalho está acumulado. “Mas infelizmente a quantidade de casos caiu de alguns anos pra cá”, lamenta.
O veterano se gaba de nunca ter tido problemas com clientes e investigados em seus casos, porque sabe se proteger. “Temos que ter uma tática bem diversificada, é um trabalho que as pessoas não percebem. É preciso muito jogo de cintura.”
Sobre a relação com a polícia, Arnold explica também que há alguns anos havia atritos e que a profissão não era bem vista, mas a lei 13.432/2017 ajudou no reconhecimento por parte das autoridades. “Às vezes, por exemplo, o cliente pede para que eu investigue um caso de homicídio, já assumido pela polícia. Não posso me jogar lá sem dar satisfações. Se a polícia intervir, o problema é do cliente. Se a polícia permite, fazemos sem problema.”
Para Rafael, os maiores desafios estão em monitoramentos e turnos de vigilância noturnos em áreas de risco. “Há casos de madrugada, em locais de riscos. Há até investigações trabalhistas que possuem envolvimento com drogas.”
O detetive estima que um caso comum pode ser solucionado por volta de uma semana. Os mais complexos não costumam passar de duas semanas. “Já temos técnicas bem avançadas. É um trabalho de muita resistência e persistência”, explica Arnold. “Já nos infiltramos em lugares sem permissão, já fiz vigília em frente de hotéis, já nos camuflamos de morador de rua pra poder observar. Já teve de tudo”, comenta Rafael.
“Evitei que uma empresa pagasse milhões de reais em Blumenau em auxílios e indenizações desnecessárias”, conta com orgulho. “Teve uma vez que foi engraçada, provamos que uma mulher estava se encontrando com um amante, havia vídeos, tudo provado, e ela jurava pro marido que era montagem”, diverte-se o veterano. “Não tinha como, o trabalho estava feito.”
A Grupo CIA foi fundada em Blumenau em 1994. De lá para cá, muita coisa mudou no ramo. O detetive da empresa, Alexandre Tufaile, explica que a vida do profissional foi muito facilitada. Ele afirma que cerca de 80% da sua atuação é relacionada a casos extraconjugais.
Atualmente, a Grupo CIA investe forte em um aplicativo espião para celular. “A gente instala o aplicativo no celular e a pessoa dá de presente para o marido ou a esposa. É o chamado cavalo de troia. Do computador, o meu cliente consegue ter acesso a chamadas, ao GPS, consegue abrir a câmera com áudio em tempo real. Costumo dizer que hoje em dia ninguém está escondido”.
Nos casos em que o cliente acreditar que seu parceiro não aceitará o celular de presente – se ele tiver acabado de comprar um aparelho novo, por exemplo – as medidas tomadas são mais drásticas, como explica Tufaile. “Aí nós entregamos um remédio para a pessoa dormir, e enquanto ela dorme eu vou até a casa para instalar o aplicativo no celular dela”.
Na Grupo CIA é disponibilizada uma profissional da psicologia porque, segundo Alexandre, o choque com as informações obtidas pode abalar demais o cliente. “Já recebi casos de senhores de 60 anos que arranjam amantes mais novas, e largam a família. Depois eles vêm até aqui desconfiados e a gente descobre que eles estão sendo traídos, e eles choram. É complicado, porque abandonaram um casamento, uma família, para viver uma aventura e termina desse jeito”.