Detetives particulares não correspondem às versões glamourizadas da ficção
Investigadores que atuam em Brusque contam suas histórias, dificuldades e sobre o que é necessário para se manter na profissão
Investigadores que atuam em Brusque contam suas histórias, dificuldades e sobre o que é necessário para se manter na profissão
Além do folclore composto por lupas, sobretudos, cachimbos, casos mirabolantes e cálculos quase sobrenaturais, estão os detetives particulares da vida real. No Brasil, a profissão é reconhecida pela lei 13.432/2017 conforme a qual o detetive particular é “o profissional que, habitualmente, por conta própria ou na forma de sociedade civil ou empresarial, planeje e execute coleta de dados e informações de natureza não criminal, com conhecimento técnico e utilizando recursos e meios tecnológicos permitidos, visando ao esclarecimento de assuntos de interesse privado do contratante”.
Em Brusque, há diversos detetives particulares, que atendem principalmente casos de infidelidade no casamento, espionagem industrial e empresarial e casos trabalhistas. O blumenauense José Arnold atua como detetive desde 1981 em sua cidade natal e em Brusque. Diz já ter sido contratado em mais de 3 mil casos e trabalhado com mais de 100 detevives em sua empresa. “Fiz um curso no Instituto de Investigações Científicas e Criminais, no Rio de Janeiro. E aí comecei a trabalhar, primeiro em estágios, e depois por conta própria. A prática conta muito, em qualquer área, e como detetive também”, explica.
A legislação atual não prevê cursos específicos para a atividade de detetive. Rafael é um profissional que não quis se identificar com sobrenome, e é o responsável pela Sondar Investigações, empresa que atua em diversas cidades do Sul do Brasil, incluindo Brusque. Para ele, os cursos dão a base teórica, mas só a prática faz um detetive. “Tem muito trabalho de rua, e não se pode ter medo, tem que dar a cara e mandar ver. Se ficar com medo, é melhor esquecer, porque não é a tua área.”
Há alguns anos a maioria dos casos investigados por Rafael eram os de infidelidade, mas hoje o espaço já é bastante dividido com assuntos relacionados a pensões e questões trabalhistas. E o preço não é exatamente acessível ao público geral. “É difícil dar um valor exato, mas em casos conjugais, um bom profissional hoje cobra entre R$ 3 mil e R$ 4,5 mil. Sempre tem quem cobra R$ 500, mas a chance de ser golpe é grande.”
Aos 68 anos, Arnold diz ser o pioneiro em investigações particulares na região. Praticamente aposentado, trabalha com o filho, a esposa, e um freelancer que atua quando o trabalho está acumulado. “Mas infelizmente a quantidade de casos caiu de alguns anos pra cá”, lamenta.
O veterano se gaba de nunca ter tido problemas com clientes e investigados em seus casos, porque sabe se proteger. “Nunca tive problema com clientes. Temos que ter uma tática bem diversificada, é um trabalho que as pessoas não percebem. É preciso muito jogo de cintura.”
Sobre a relação com a polícia, Arnold explica também que há alguns anos havia atritos e que a profissão não era bem vista, mas a lei 13.432/2017 ajudou no reconhecimento por parte das autoridades. “Às vezes, por exemplo, o cliente pede para que eu investigue um caso de homicídio, já assumido pela polícia. Não posso me jogar lá sem dar satisfações. Se a polícia intervir, o problema é do cliente. Se a polícia permite, fazemos sem problema.”
Para Rafael, os maiores desafios estão em monitoramentos e turnos de vigilância noturnos em áreas de risco. “Há casos de madrugada, em locais de riscos. Há até investigações trabalhistas que possuem envolvimento com drogas.”
Os dois detetives estimam que um caso comum pode ser solucionado por volta de uma semana. Os mais complexos não costumam passar de duas semanas. “Já temos técnicas bem avançadas. É um trabalho de muita resistência e persistência”, explica Arnold.
“Já nos infiltramos em lugares sem permissão, já fiz vigília em frente de hotéis, já nos camuflamos de morador de rua pra poder observar. Já teve de tudo”, comenta Rafael.
“Evitei que uma empresa pagasse milhões de reais em Blumenau em auxílios e indenizações desnecessárias”, conta com orgulho. “Teve uma vez que foi engraçada, provamos que uma mulher estava se encontrando com um amante, havia vídeos, tudo provado, e ela jurava pro marido que era montagem”, diverte-se o veterano. “Não tinha como, o trabalho estava feito.”