Dia das Avós e o centenário de uma história de imigração alemã
Dia 26 de julho comemoramos o dia da Avó e Avô; da Oma e Opa, ou da Omi e Opi, ou da Großmutter e Großvater (variantes em alemão); da Nonna e Nonno (em italiano); da Babcia e Dziadek (em polonês); da Grandmother e Grandfather (em inglês). É uma data especial. Quantos ensinamentos têm as avós e os avôs para compartilhar com os seus descendentes? Então me perguntei: que história de vida eu poderia contar para a nossa netinha, e que também guardasse relação com o bicentenário da imigração alemã no Brasil, festejado no dia 25/07/2024? Pois bem, eu tenho uma história que é real, que conta a saga da minha família materna, de sobrenome Klein.
Para compreender a história da minha família Klein é preciso voltar ao século XVIII, quando um grupo de alemães, austríacos e húngaros aceitou o convite da Imperatriz Maria Tereza (Império Austro-Húngaro) do Sacro Império Romano Alemão, para povoar o Leste Europeu reconquistado em guerras, e que estava desabitado após a expulsão dos turcos otomanos. Eles, incluindo os Klein, partiam de Ulm, Estado de Baden-Württemberg, Alemanha, pelo rio Danúbio, numa viagem feita em barcos de madeira, até as férteis planícies do Banat.
Os meus antepassados Klein fizeram parte de um grupo de 202 famílias de colonos alemães suábios que, em 1767, fundaram Czatad, no Banat, parte ocidental do Timis, Leste Europeu, Império Austro-Húngaro. Em 1778, em Czatad foi construída uma Igreja Católica Romana, em estilo neogótico, que desde 1966 é considerada monumento histórico e onde ainda é conservado um órgão que foi doado pela Imperatriz.
Em 1880, uma filial do Comitê Internacional da Cruz Vermelha foi instalada em Czatad e na 1ª Guerra Mundial (1914-1918) os alemães étnicos do Banat foram convocados, entre eles o meu avô Johann Klein. Após o término da Guerra, o Banat foi dividido. O Tratado de Trianon foi selado em 1920 e o Reino da Hungria, que estava conectado a Áustria, foi dividido em três: uma parte passou para a Sérvia, uma pequena parte permaneceu na Hungria e a maior parte do território passou para a Romênia. Czatad, conectado originalmente a Hungria, passou a integrar o território da Romênia e, em 1926, foi rebatizada como Lenauheim, em homenagem ao poeta Nikolaus Lenau que nasceu lá.
Meu avô, Johann Klein participou da Guerra como integrante da Cruz Vermelha. No processo de ajuda, também foi ferido e viveu o resto de seus dias com pedaços de granadas no corpo. Ele contava aos netos que nos últimos tempos antes de a guerra terminar “passou muito frio e fome pois faltava tudo: que cavavam túneis debaixo da neve para se proteger do frio, e para se alimentar comiam restos que os outros deixavam”. Terminada a guerra, meu avô voltou para casa, em Czatad, onde foi recebido pela família. A primeira coisa que meus avós decidiram é que iriam embora em busca de melhores condições de vida e sem guerras.
Sonhos e esperanças atraíram os meus avós, Johann Klein e Katharina Bitto Klein para a América. “Foi difícil decidir para onde emigrar”, eles contavam aos netos. Em 05/06/1924, a família partiu de Hamburgo com o Navio Cap. Norte, da companhia Hamburg-Süd. Em 24/06/1924 chegaram no Rio de Janeiro e, com o Vapor Anna, da empresa Carl Hoepcke, vieram para Florianópolis, na nossa linda, abençoada e doce Sta. Catarina. Prosseguiram até Laguna, e viveram um ano em Criciuma.
Em 1925, se mudaram para Taió (SC), onde fixaram raízes e onde nasceu meu tio e minha mãe, Edda Catharina. E também eu. Passados cem anos desde a chegada dos meus avós étnico-alemães Katharina (Großmutter) e Johann (Großvater) Klein, hoje compartilho esta linda história de superação com vocês, e também com nossa netinha, que carinhosamente nos chama de Omi e de Opi (forma alemã diminutiva e carinhosa de chamar a avó e o avô, como ensinamos nossa neta a nos chamar).