Para lidar com os desafios diários nas estradas do estado, as indústrias de Brusque e região desenvolvem estratégias de logística para atenuar os impactos.

A Irmãos Fischer, que atende todo o Brasil e o Mercosul a partir de Brusque, possui uma distribuição voltada para atender às necessidades específicas dos clientes. O principal desafio é manter a flexibilidade sem comprometer normas e procedimentos. Para superar esse desafio, a empresa tem uma equipe própria e parceiros que estão alinhados com as estratégias.

Atualmente, a empresa enfrenta um grande desafio relacionado à infraestrutura rodoviária. “O baixo número de trechos duplicados e os congestionamentos frequentes, que se intensificam durante a alta temporada turística, são os principais obstáculos”, conta o presidente, Ingo Fischer.

Brusque é cortada por três rodovias estaduais, a Antônio Heil, em direção a Itajaí, a Pedro Merizio, que liga o município a Botuverá, e a Ivo Silveira, que segue para Gaspar. Além disso, é influenciada diretamente pela BR-101 e a BR-470, que ligam a região a grandes cidades, aos portos e também aos aeroportos.

O Aeroporto de Navegantes, por exemplo, está a até 1h30 das indústrias responsáveis por cerca de 80% do volume importado pelo modal aéreo do estado de Santa Catarina, de acordo com dados do Logcomex. Isso reforça a importância dele e de sua localização estratégica para atender ao mercado de todo o Vale do Itajaí.

Essa malha logística que permeia a região beneficia a economia e éuma vantagem estratégica. Até certo ponto. “O Vale do Itajaí é a região número 1 em população e número 1 em atividade econômica, mas, infelizmente, a falta de uma infraestrutura condizente tem asfixiado o nosso desenvolvimento. As nossas principais artérias estão entupidas”, ressalta o deputado estadual Napoleão Bernardes.

Para diminuir o impacto dos problemas estruturais da região, a Fischer, por exemplo, ajusta operações de acordo com essas condições. “Participamos, por exemplo, das reuniões e estudos da Câmara de Transporte e Logística da Fiesc, que tem desempenhado um excelente trabalho na busca de soluções para esses problemas”, destaca Ingo.

Líder mundial independente em impulsores de partida, a Zen exporta para mais de 60 países e também importa muitos produtos, principalmente da China. Ricardo Freire, gerente de Compras da empresa, destaca que é crucial para a Zen, que depende das rodovias, que o tempo de deslocamento seja diminuído.

Atualmente, a empresa, ciente dos horários de pico, desenvolve uma estratégia para que os caminhões fujam do trânsito mais pesado no deslocamento dos portos para Brusque. Mas nem sempre é possível driblar os congestionamentos – principalmente no trevo entre a BR-101 e a Antônio Heil. Além disso, a Zen mantém um estoque para evitar que faltem peças e produtos para os clientes.

“Isso causa impacto na Necessidade de Capital de Giro (NCG). A partir do momento que temos mais estoque, isso influencia financeiramente a companhia. Ao invés de termos um dinheiro investido, temos que empregar no estoque”.

Zen lida com altos volumes de produtos importados e exporta para mais de 60 países | Foto: Zen/Divulgação

Demandas regionais

A Associação Empresarial de Brusque, Guabiruba e Botuverá (Acibr) recebeu em agosto o secretário de Infraestrutura e Mobilidade, Jerry Comper, para uma reunião da diretoria da entidade, onde uma lista de demandas da região foi apresentada.

“Somos privilegiados por estar perto de alguns dos portos mais importantes do país, temos uma vantagem competitiva na qualidade dos produtos, uma infraestrutura crescente no aeroporto de Navegantes, mas a nossa velocidade de crescimento é acima da média do Brasil e nossa necessidade de investimento também”, ressalta Marlon Sassi, presidente da Acibr.

Associação industrial de Brusque e região apresentou demandas ao secretário de Infraestrutura e Mobilidade de SC em reunião no mês de agosto | Foto: Bárbara Sales/AcibrEle cita alguns gargalos que a associação considera mais críticos. “Problemas nas rodovias dificultam a nossa logítica, como na Ivo Silveira, onde o governo do estado está trabalhando para revitalizar. Também há a necessidade de uma terceira pista na Gentil Battisti Archer, de revitalização no trecho urbano da Pedro Merizio, no Dom Joaquim, e a partir daí até Botuverá, e também temos um problema gravíssimo na SC-486 sentido Vidal Ramos. O governo do estado é parceiro e nos escuta. Queremos caminhar juntos para realizar os investimentos necessários”, completa.

Dentre essas demandas, uma se destaca: a construção das alças de acesso no trevo entre a rodovia Antônio Heil e a BR-101, que liga Brusque e Itajaí, uma novela que teve seus primeiros capítulos em 2008, com pedidos da comunidade e das entidades – o foco na época, porém, foi a duplicação da rodovia estadual.

“A interseção da BR-101 com a Antônio Heil deixa nossa logística bem difícil e estudos mostram que onera em quase 30 a 35% no frete da região”, destaca Marlon.

A mobilização por essa demanda envolve todos os setores da sociedade, desde os moradores, as entidades empresariais e também as autoridades políticas da região.

“Essa é uma novela interminável, infelizmente”, destaca o deputado estadual Napoleão Bernardes. “Todos os dias, vemos milhares de pessoas presas nesse grande gargalo e isso é inaceitável, porque atenta contra a qualidade de vida”.

Entre idas e vindas, várias promessas e problemas de burocracia, uma licitação foi realizada e o valor previsto para a construção das alças de acesso é de R$ 61,7 milhões. Já o prazo para conclusão é de dois anos após o início dos trabalhos.

De acordo com parecer da Gerência Executiva de Assuntos de Transporte, Logística, Meio Ambiente e Sustentabilidade (GETMS) da Fiesc, o trecho do trevo entre a BR-101 e a rodovia Antônio Heil está no nível F de nível de serviço em alguns horários. Isto significa que há uma possibilidade de 100% de quem transita pelo local de chegar atrasado ao destino. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) estima volume diário entre 80 e 100 mil veículos.

Outros locais com essa mesma avaliação ficam na BR-101, entre Balneário Camboriú e Navegantes, em um trecho em Joinville, e em outro em São José e Palhoça, na BR-470 entre Blumenau e Indaial e em Rio do Sul, e na BR-280 em Araquari.

Gargalo

A Calcário Botuverá, empresa de calcário agrícola e industrial e agregado para construção civil, que tem rotas para o Rio Grande do Sul e para o Alto Vale e Médio Vale, é mais uma das muitas da região que convive diariamente com o congestionamento no trevo da BR-101 com a Antônio Heil.

“Sabemos onde ficam os gargalos e os horários, mas ultimamente é difícil fugir. Quando temos algo programado, buscamos sair para a entrega mais cedo”, conta o gerente executivo da empresa, Sálvio Colombi.

Calcário Botuverá tem frota de cerca de 70 caminhões, que passam diariamente pela rodovia Pedro Merizio, que está em obras | Foto: Bruno da Silva/O Município

Ele ressalta que percebe que as condições das estradas estão melhorando e que existe bastante manutenção nas rodovias. Comparando com um passado recente, na sua opinião, a melhora é visível. “Temos uma oficina própria, mas a demanda é baixa, estamos sentindo uma melhora. Antigamente tínhamos muitos problemas. As rodovias onde transitamos têm condições no mínimo razoáveis”.

O problema, portanto, acaba sendo o tempo despendido nas rodovias. Sálvio afirma que já é possível perceber um impacto positivo por causa da inauguração do Contorno Viário da Grande Florianópolis, mas, no trevo de Itajaí, tanto para o norte quanto para o sul, a empresa encara problemas em qualquer horário. “É quase todo dia isso. É a nossa maior dificuldade”.

A Calcário Botuverá tem uma frota própria de quase 70 caminhões e, por causa dos congestionamentos, os veículos ficam muito tempo ociosos.

“Ao invés de duas viagens por dia, às vezes só conseguem fazer uma. Atendemos concreteiras de Itajaí e é um caos atravessar o trevo desde a Antônio Heil. É uma das grandes dificuldades nossas e impacta no custo, porque produz menos”.

Busca por soluções

Um dos avanços em relação à estrutura rodoviária da região foi a duplicação da rodovia Antônio Heil, concretizada totalmente em 2020. Um dos trechos foi realizado em parceria público privada (PPP) com a Irmãos Fischer e foi finalizado três anos antes, motivo de orgulho para a empresa.

“A duplicação da rodovia Antônio Heil resultou em um impacto positivo e expressivo para a região. A obra não apenas proporcionou uma maior fluidez no trânsito, como também aperfeiçoou os trajetos, garantindo retornos adequados e seguros. Além de aprimorar a mobilidade urbana, impulsionou o desenvolvimento econômico local e facilitou o acesso a serviços e comércio. A parceria se traduziu em ganhos para toda a comunidade”, destaca Ingo Fischer.

O presidente da Irmãos Fischer destaca, porém, a necessidade de ir além. “Em um cenário de crescimento e expansão, a continuidade de parcerias sólidas como esta se mostra essencial para garantir a infraestrutura necessária ao progresso sustentável do nosso país”.

A discussão de alternativas para o futuro é uma preocupação das forças políticas e econômicas do estado. Para o senador Esperidião Amin, essa mobilização constante é essencial para que os projetos virem realidade.

“A força produtiva do estado é que empurra as demandas, e o poder público dá uma resposta. Esse é o caso por exemplo em relação ao estrangulamento da BR-101 na foz do rio Itajaí, que afeta Brusque e todo o Vale. Essas reivindicações só estão sendo atacadas com mais objetividade porque a força produtiva do estado nos empurrou para uma possível solução”.

Irmãos Fischer antes e depois da duplicação da Antônio Heil | Foto: Irmãos Fischer/Divulgação

Pensando no futuro, começa a ser discutida a construção de uma via alternativa à BR-101 no trecho Norte, entre Joinville e Porto Belo, que cortaria os municípios do Vale do Itajaí. O valor previsto para essa obra é, atualmente, projetado em R$ 6 bilhões. Investimento alto, mas que é entendido como imprescindível para o futuro do estado.

“A implantação de uma via alternativa à BR-101 é mais do que uma necessidade, é uma obrigação. Quem trafega pela rodovia sabe que ela atingiu o limite da sua capacidade operacional, que ela está colapsada”, destaca o deputado Napoleão Bernardes.

O projeto é conhecido informalmente como BR-102 e já dá seus primeiros passos. Recentemente, o governo do estado lançou uma licitação para contratação de Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental desta nova estrada.

No estudo, serão avaliados possíveis traçados, com início na BR-101, em Joinville, passando pelo município de Guaramirim, prosseguindo até Ilhota, Tijucas e, finalmente, ao Contorno Viário de Florianópolis, no município de Biguaçu. Também serão estudados os possíveis impactos ao meio ambiente, viabilidade econômica e técnica dessa implantação.

“Esperamos que haja celeridade neste processo. Apesar de ser uma obra complexa, seria a solução mais efetiva para equacionar esse gargalo. A verdade é que nós precisamos correr atrás do prejuízo e esperamos que haja maturidade e espírito republicano na relação entre os governos federal e estadual, porque essa responsabilidade deve ser compartilhada entre os dois entes”, destaca Napoleão.


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