Nos últimos anos o interesse público pelo conhecimento do cérebro e da saúde mental tem aumentado muito.

Há vários motivos para isso, entre eles a facilidade atual para obter informações, a existência de muitos divulgadores científicos que contribuem com informações atualizadas e de qualidade e a constatação óbvia de que uma saúde física excelente serve de muito pouco se não for acompanhada de um equilíbrio emocional e mental ou seja de uma boa saúde mental.

A ruptura da saúde mental vai além das manias comportamentais que quase todos temos e que podemos considerar normais desde que não causem sofrimento ou impeçam de desempenhar nossas atividades laborais e sociais.

Diz a escritora Rosa Montero: “ser raro não é nada raro”, lembrando que alguns são mais raros que outros.

Muitas vezes esses “mais raros” estão associados com o poder criativo como acontece com artistas de qualquer gênero, haveria uma relação mais frequente entre o poder criativo e o “ser diferente”.

O filósofo e escritor francês Denis Diderot, considerado um dos pais do anarquismo, dizia que a genialidade e a loucura eram muito parecidas.

Com o avanço das pesquisas sobre o funcionamento do cérebro e da mente nas últimas décadas e sua divulgação, muitos termos antes restritos ao médio científico já são conhecidos do grande público.

Em mais de uma ocasião tenho atendido pacientes cuja queixa era, doutor acho que estou com a serotonina muito baixa ou acho que me está faltando dopamina no meu cérebro porque nada me dá prazer.

Esse interesse é bom e espero que cada vez mais pessoas se interessem por conhecer seu próprio corpo, seu cérebro e sua mente, isso significa se autoconhecer.

Sabemos que o cérebro é a mais complexa e eficiente máquina até agora conhecida.

Uma das suas principais características é o fato que não nascemos com um cérebro pronto e totalmente formatado e justamente a grande vantagem biológica é esse fato.

Fazendo um comparativo com a informática é como se ao longo do tempo vamos instalando aplicativos que possam desempenhar novas tarefas, é assim que vamos aprendendo a engatinhar, andar, falar, entender, criar, etc.

Porém, a diferença dos computadores onde temos um hardware estático, nosso hardware cerebral consegue ir melhorando, progredindo autonomamente ao longo do tempo.

Faz isso criando novas conexões entre os 100 bilhões de neurônios, fazendo a poda de conexões que não tem mais utilidade e até criando novos neurônios.

Entre essas mudanças uma das que mais chama a atenção é a denominada plasticidade cerebral ou neuroplasticidade, é a capacidade de que novas áreas cerebrais assumam o comando ou a função de uma área que foi lesada.

A neuroplasticidade é a base da recuperação neurológica em pacientes que sofreram lesões cerebrais das diversas causas, vasculares, traumáticas, tumorais e até degenerativas.

Os pacientes indagam o que devem fazer para cuidar bem das suas funções mentais, essa preocupação é mais evidente depois de ter sofrido alguma alteração mental.

As pessoas com toda razão não querem voltar a ter esses sintomas que atrapalham tanto a vida, entre eles sintomas depressivos, crises de pânico, falta de atenção, dificuldades com a memória, crises de agressividade, etc.

O primeiro cuidado que temos de ter é com o sono, ter um sono de boa qualidade e de duração adequada é necessário para que nosso cérebro se recupere totalmente e esteja pronto para iniciar um novo dia em condições de expressar toda sua potencialidade.

É verdade que a cota de sono é bastante individual dependendo da genética e do estilo de vida.

Em termos gerais podemos dizer que as crianças em idade escolar precisam entre 10 e 11 horas de sono, adolescentes 9 horas e adultos 8 horas.

A grande maioria das pessoas não dorme o suficiente.

O segundo aspecto tem a ver com a prática de atividade física regularmente, até pouco tempo atrás não sabíamos que a atividade física tinha muita importância para manter um cérebro saudável.

Diversos estudos tem mostrado aumento das conexões neuronais e até do tamanho de diversas áreas cerebrais como o hipocampo e o córtex pré-frontal com a prática regular de atividade física.

O córtex pré-frontal é responsável pela atenção e pela tomada de decisões, já o hipocampo é fundamental para a formação de novas memórias, o aprendizado e as emoções.

Uma hora 3 vezes por semana já é um bom começo.

O terceiro ponto tem relação com uma alimentação saudável, rica em fibras, frutas , legumes, vegetais e proteínas. Nos últimos anos a chamada dieta mediterrânea tem sido a mais recomendada por ser rica em todos estes elementos.

Uma dieta rica e variada tem relação com uma flora intestinal saudável e hoje sabemos que isso é muito importante para um bom funcionamento cerebral, 90% da serotonina é produzida no intestino.

Talvez a recomendação mais difícil seja a de evitar o estresse, vivemos numa sociedade onde isto é quase inevitável, não existe mais o estilo de vida saudável de nossos antepassados, hoje tudo ocorre a grande velocidade, os diálogos ficaram monossilábicos e tudo tem relação com resultados imediatos. Altos níveis de estresse aumentam o cortisol, dificultam o sono e alteram o funcionamento cerebral.

Finalmente há que lembrar que tudo o que agride seu corpo também repercute no cérebro, de tal forma que hábitos como o uso de álcool, cigarro e drogas prejudicam muito o funcionamento da nossa mente.

Medicamentos psicoativos devem ser usados quando necessários sempre sob prescrição médica.

Cuide bem do seu cérebro e seja feliz.