Segundo a OMS, ao redor de 5 % da população adulta do mundo é portadora de Transtorno Depressivo em alguma das suas formas. Na América Latina a percentagem é de 5,3% enquanto no Brasil sobe para 8,11%.
Isso significa que mais de 17 milhões de brasileiros são portadores de depressão, é um dado muito preocupante considerando que além do sofrimento que provoca existe também risco de morte.
Os três estados da região Sul são os que apresentam a maior prevalência de depressão, Rio Grande do Sul com 13,2% da população com diagnóstico de depressão, Santa Catarina com 12,9% e Paraná com 11,7%.
Entre as capitais, Porto Alegre lidera com um 17,5% de pessoas com depressão e a bela Florianópolis causa surpresa com um índice de depressão de 17,1%, a terceira entre as capitais.
Uma das grandes dificuldades no tratamento medicamentoso da depressão é que ao redor de 30 a 50% dos pacientes não melhoram com o uso de antidepressivos, sendo assim, urge o aparecimento de novos fármacos mais eficazes e com menos efeitos colaterais.
Outro grande problema é que uma parcela significativa da população depressiva não tem acesso ao tratamento, seja medicamentoso, seja psicoterápico. É necessário que no atendimento primário de saúde os médicos estejam cada vez mais capacitados para dar um bom atendimento e iniciar um tratamento medicamentoso adequado.
Brusque teve atendimento psiquiátrico particular apenas no início dos anos 90 e no sistema público muito depois. A grande maioria dos pacientes com transtornos do sistema nervoso eram tratados pelos clínicos gerais e os casos mais complicados encaminhados para Florianópolis naquela época.
O falecido Dr. Celso Bonatelli merece uma menção especial, foi um excelente “psiquiatra autodidata” e atendia uma grande parcela da população que sofria com transtornos do humor. O Dr. Bonatelli, além de ter um bom conhecimento da psicofarmacologia, era um médico atencioso que conseguia dar orientações valiosas para os pacientes.
Recentemente foi publicado na revista Science um estudo de um grupo de pesquisadores da Universidade de Nanjing na China com os resultados de uma nova sustância denominada ZZL-7.
Esta sustância foi administrada a ratos com comportamento depressivo, a melhora dos seus sintomas se deu em menos de duas horas, um resultado nunca conseguido com outros fármacos. Lembremos que todos os antidepressivos existentes no mercado iniciam seu efeito positivo apenas 3 a 4 semanas depois de iniciado o tratamento.
Além disso, não se detectaram efeitos colaterais significativos inicialmente.
Evidentemente somente os estudos em humanos, que estão sendo iniciados, são os que realmente poderão determinar o perfil de eficácia e de efeitos colaterais desta nova sustância prometedora.
Um dos pontos chaves desta nova droga é seu mecanismo de ação, totalmente diferentes dos atuais antidepressivos. A ZZL-7 interrompe a interação entre os sistemas transportadores de serotonina y a óxido nítrico sintasa neuronal (nNOS).
Ao reduzir os níveis de serotonina intercelular numa região do encéfalo conhecida como núcleo dorsal do rafe conseguem melhorar a atividade serotoninérgica dos neurônios dessa área e principalmente aumenta a liberação de serotonina no córtex medial pré-frontal.
Justamente o córtex medial pré-frontal é uma das áreas mais afetadas nos transtornos depressivos. Se a ZZL-7 for aprovada nos estudos clínicos de nível 1,2 e 3 será uma grande arma também no tratamento de pacientes com ideação suicida.
No momento atual a única droga em uso com potencial para a reversão rápida da ideação suicida é a Esketamina, um derivado do anestésico ketamina. Estudos para comprovar este efeito estão em andamento.
Há vários anos vem se usando a Ketamina, um anestésico de curta duração, em doses baixas por via endovenosa e subcutânea para o tratamento de transtornos depressivos resistentes ao tratamento habitual, muitos pacientes conseguem reverter seus sintomas depressivos e a ideação suicida em poucas horas.
A Ketamina e seu derivado também tem um mecanismo de ação diferente, são antagonistas de um receptor neuronal chamado de NMDA e sua resposta antidepressiva é bem rápida, geralmente após a primeira ou a segunda dose.
Tanto Esketamina (via nasal) quanto a Ketamina (via EV ou subcutânea) podem causar reações dissociativas e alucinações, devem ser administradas numa unidade de saúde sob supervisão médica, além disso tem potencial de gerar dependência química se usadas de forma indiscriminada.
Os dois medicamentos ainda não estão aprovadas pela Anvisa para tratamento antidepressivo, estão liberados para esse fim em alguns países europeus e nos Estados Unidos.
O outro antidepressivo muito promissor é a Esmetadona, tem se mostrado muito eficaz e com poucos efeitos colaterais em estudos clínicos de fase 1 e 2. Os estudos de fase 3 estão em andamento.
A Esmetadona é um isômero do derivado opioide metadona, tem a peculariedade que praticamente não reage com os receptores neuronais opioides, por esse motivo há grande possibilidade que não provoque a dependência que os derivados opioides causam.
O mecanismo de ação é semelhante ao da Esketamina, atua como antagonista dos receptores NMDA e os estudos em animais e clínicos tem demostrado que aumenta as concentrações de BDNF, um fator neurotrófico derivado do cérebro. O BDNF estimula a formação de novas sinapses e novos neurônios.
Estamos na torcida para que os estudos confirmem a eficácia e segurança destas novas sustâncias que poderão fazer a diferença no tratamento de pacientes com transtorno depressivo resistente ao tratamento medicamentoso habitual.