Editorial: Lata d’água na cabeça
Com este título o jornal O Município publicou um editorial em fevereiro de 2014. Na ocasião, uma longa estiagem fez com que o Samae adotasse um discurso de racionamento de água. O questionamento que o jornal fez na época era de que esta falta d’água era muito mais pela incapacidade da autarquia em realizar investimentos do que […]
Com este título o jornal O Município publicou um editorial em fevereiro de 2014. Na ocasião, uma longa estiagem fez com que o Samae adotasse um discurso de racionamento de água. O questionamento que o jornal fez na época era de que esta falta d’água era muito mais pela incapacidade da autarquia em realizar investimentos do que pela falta de água na cidade, afinal estamos num vale privilegiado em relação a mananciais.
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Desde aquela época muito pouco ou nada foi feito em relação a investimentos que nos protegem da falta de água. Fora o reservatório inaugurado em março do ano passado, o Samae vem preferindo aumentar seu caixa, que hoje está na faixa dos R$ 30 milhões, do que investir na “produção de água”.
Parte deste contexto foi motivado pela troca de prefeitos e de diretores que aconteceu neste período, no qual não tinha quem mandasse ou muita gente mandando, deixando a autarquia paralisada.
O reflexo disso é estarmos no mesmo patamar de 2014, com as mesmas notícias da época, como as publicadas neste mês sobre a falta d’água em bairros e regiões periféricas de Brusque, como o Dom Joaquim, Zantão e Ribeirão do Mafra.
A raiz deste problema é utilização desta importante autarquia como moeda de troca política. Apesar de ótimos profissionais que lá atuam, muitas decisões vão na contramão das expectativas da sociedade, tanto nesta questão de falta d’água quanto em negligenciar obrigações inerentes à atividade.
Somente este ano, dois casos são emblemáticos em relação a esta colocação. O primeiro foi noticiado em maio deste ano e revelou que, mesmo sob os reincidentes alertas da Agência Intermunicipal de Regulação do Médio Vale do Itajaí, todo o resíduo da Estação de Tratamento é despejado diretamente no rio.
Esta ação foi constatada pela Polícia Ambiental, rendeu um termo de ajuste de conduta, foi denunciada para o Ministério Público sem ter, até agora, um desfecho satisfatório.
O segundo foi neste mês, com a instauração de um inquérito, pelo Ministério Público, para investigar se o Samae está fazendo corretamente a análise da qualidade da água fornecida ao consumidor. A suspeita é de que a autarquia não está realizando a quantidade mínima de análise de água indicadas como necessárias pelo Ministério da Saúde.
Não estaria na hora de mudar completamente a forma de atuação desta autarquia? O sistema que está não conseguiu realizar investimentos
Para complicar ainda mais, na edição desta quarta-feira, a atitude do diretor-presidente interino, Dejair Machado, em reativar a antiga Cogemas, agora Comissão do Meio Ambiente, tem ares de um embate com o atual presidente, Roberto Bolognini, o Betinho, pois este tinha extinto esta comissão ano passado. Ao contrário da versão oficial, está claro que há uma briga pelo poder.
Até as boas notícias divulgadas recentemente, como o anúncio da nova estação da Cristalina e o caixa polpudo causam certo temor. O primeiro pela dúvida se, neste contexto, realmente temos competência para projetar e realizar a nova obra, e o segundo é a tentação de utilização de forma errada do recurso por quem não conhece realmente a área e pode comprometer a entidade com ações equivocadas.
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Os desafios do Samae não são pequenos. O primeiro é que nossa população está aumentando e já passa dos 131 mil habitantes, conforme matéria publicada ontem aqui n’O Municipio.
O outro é que temos a vergonhosa posição de cidade que não trata nenhum metro cúbico de esgoto, que também é responsabilidade da autarquia. O próprio vice-prefeito, Ari Vequi, reconhece que o fornecimento de água é um dos entraves para o crescimento da cidade.
Não estaria na hora de mudar completamente a forma de atuação desta autarquia? O sistema que está não conseguiu realizar investimentos. Não conseguiu fornecer água à população e tampouco garantir sua qualidade. Não se interessa por ações em relação ao meio ambiente e mantém adormecido o projeto de esgoto.
São temas importantes demais para serem tratados de forma periférica. Água é vital e a responsabilidade de gerí-la deve estar assegurada acima de qualquer interesse político ou de troca de favores, para não vivermos afogados nos mesmos problemas, sedentos por uma solução que nunca chega.