Editorial: A moral e o auxílio emergencial
O governo federal criou o benefício do auxílio emergencial destinado a trabalhadores informais, microempreendedores individuais, autônomos e desempregados com o objetivo de fornecer proteção emergencial no período de enfrentamento à crise causada pela pandemia do coronavírus.
A iniciativa é louvável, mas como qualquer outro programa governamental, ele entra na burocracia brasileira e fica suscetível a falhas, desviando sua função e desvirtuando o nobre propósito. Esta vulnerabilidade permite que muitas pessoas que não têm o direito se cadastrem e ganhem o benefício.
E se o programa tem suas falhas, o comportamento de muitos brasileiros aflora, sendo emblemático em mostrar o perfil das pessoas e da moral que temos em nosso país.
Em levantamento feito pela Controladoria Geral da União divulgado este mês, 395 mil funcionários públicos da esfera federal e estadual receberam indevidamente o benefício. Ou por fraude ou sendo vítima de golpe o desvio representa mais de 280 milhões de reais.
O Maranhão foi o líder, com 85 mil funcionários públicos inscritos, seguido por Bahia com 61 mil, Pará com 25 mil e Ceará com 24 mil casos. Santa Catarina também fez parte da farra com 4,7 mil servidores públicos que receberam o benefício indevidamente, segundo o Tribunal de Contas.
Vivemos exigindo que nossos políticos sejam honestos, mas na primeira oportunidade muitos têm atitudes hediondas
E nesta onda não foram só civis que se aproveitaram, mais de 73 mil militares ativos, inativos e pensionistas também receberam indevidamente o auxílio emergencial e estão sendo intimados pelo TCU a devolver.
Aqui em Brusque o benefício também deu o que falar. O empresário Luciano Hang teve seus dados hackeados e utilizados para cadastrá-lo no programa. Ao tomar conhecimento ele emitiu uma nota oficial dizendo que nunca se cadastrou e nem recebeu tal auxílio.
Outro caso que foi cadastrado indevidamente envolveu a mulher do secretário de Assistência Social de Brusque, Odair Bozio. Quando ficou sabendo do fato viu que realmente o dinheiro estava depositado e devolveu.
Também teve casos em que o benefício foi solicitado e depois, devolvido, a exemplo do que aconteceu com a mulher do empresário e pré-candidato do PSL de Brusque, Helio Cesar Eccel.
Alguns casos são delicados, como o das filhas do prefeito Nene Colombi, de Botuverá. Elas realmente têm o direito e se enquadram na regra do benefício, mas por conta de sua filiação houve questionamento nas redes sociais.
Na edição de terça feira, o prefeito esclareceu a situação, mostrando que suas filhas realmente precisaram e que ao contrário de muitos políticos que empregam parentes aqui e acolá, suas filhas estão sofrendo as consequências da pandemia como milhares de brasileiros.
O período do benefício ainda não terminou e provavelmente ainda vamos ver muitos desdobramentos com as mais variadas possibilidades. De gente que precisa e não recebe, de gente que não precisa e recebe e de fraudadores.
Neste momento vale a pena a reflexão de que tipo de brasileiros nós somos. Vivemos exigindo que nossos políticos sejam honestos, mas na primeira oportunidade muitos têm atitudes hediondas, aproveitando-se da burocracia complexa e falha para se beneficiar, não se importando nem com o estado de Pandemia nem com a necessidade do próximo.