Editorial: Um corte na dor das crianças
No início de abril, O Município publicou uma matéria sobre o resultado de um estudo que indicou a existência da prática de autolesão por alunos na rede municipal de Brusque. O estudo foi feito pelo psicanalista clínico e psicólogo Mario Augusto Eccher.
Os números apresentados pelo estudo são surpreendentes. Das 155 crianças de 11 a 16 anos que responderam o questionário, 21 alunos disseram praticar autolesão e 36 responderam que já praticaram. Outros 127 estudantes disseram conhecer alguém que pratica e 21 pediram ajuda.
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A importância do tema foi percebida pelos vereadores Gerson Morelli, o Keka, e Marcos Deichmann, que abriram espaço na Câmara de Brusque para discutir o tema na semana passada. Além do psicólogo Eccher, a audiência teve a participação de representantes da Polícia Militar, da Secretaria de Educação, da Secretaria de Saúde, Conselho Tutelar, Corpo de Bombeiros e Unifebe.
A iniciativa é louvável no sentido de debater o tema e propor ações para atenuar este quadro. Até então se desconhecia tanto a presença como a extensão do problema. A autolesão funciona como a materialização da dor emocional através da dor física, como forma de aliviar o sofrimento que o jovem não consegue expressar.
Saber que um adolescente em cada três pratica autolesão em nossa cidade é um dado alarmante
Assim, por falta de diálogo ou por não saber lidar com os sentimentos, os jovens se mutilam furando-se com agulhas, canetas, pontas de compasso, de lapiseira, cortam-se com instrumentos, queimam a pele com cigarro, arrancam os cabelos, batem em si mesmo e roem as unhas até sangrar.
Os comportamentos comuns destes jovens podem se manifestar pelo desinteresse por atividades que antes gostava, pela queda no rendimento escolar, isolamento social, uso de moletons em dias quentes, agressividade, irritabilidade, agitação psicomotora, alteração de apetite, sonolência, desatenção e desenhar pessoas cortadas ou sangrando.
A importância de trazer este tema ao debate é fundamental, pois temos uma barreira cultural em relação ao assunto. Queremos esconder as nossas falhas e a autolesão é tratada como uma bobagem, com se o jovem estivesse agindo assim para chamar a atenção.
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Saber que um adolescente em cada três pratica autolesão em nossa cidade é um dado alarmante, mostrando que o problema já está crônico e precisa de todo apoio para ser amenizado. Temos o dobro de casos de países europeus e dos Estados Unidos.
Para lidar com o caso os pais e professores devem estar vigilantes na identificação dos sintomas. Este jovem precisa ser abraçado, acolhido, em vez de ser julgado. Só assim pode se dar um primeiro passo ao criar um vínculo de confiança. Estas crianças precisam de atenção e ter um tratamento psicológico, para que a pratica de autolesão não aumente a cause um dano maior a vida.
A sociedade, como vimos, já está fazendo seu papel, trazendo o tema a discussão, mas a família é fundamental e precisa mais do que nunca estar presente na vida dos filhos, aplicando os sentimentos mais nobres e eficientes para estancar esta dor: o amor e a compreensão.