Editorial: Vagas sem candidatos
Nesta semana o jornal O Município publicou uma reportagem abordando a questão das vagas de emprego no município, focada na contratação de estrangeiros pelas empresas locais.
A reportagem informou que houve cerca de 600 contratações em 2024, de pessoas de diversos países. Em que pese a maioria dos contratados sejam venezuelanos e haitianos – em sua maioria refugiados em busca de uma vida melhor – há contratações de lugares curiosos. Pessoas do Afeganistão, Albânia, Rússia, Coreia do Sul e até Vanuatu, um conjunto de ilhas na Oceania, vieram a Brusque para trabalhar.
A primeira análise que se pode fazer desses dados é que Brusque é uma cidade que emprega, e que sua capacidade de crescimento econômico não é acompanhada pela oferta de mão de obra.
A grande disponibilidade de empregos é um sinal positivo para a economia, mas também um fator de preocupação. Nem sempre a mão de obra disponível é qualificada e isso gera um custo extra e um atraso no desenvolvimento.
As empresas precisam constantemente treinar as pessoas, que chegam sem qualificação técnica, inclusive estrangeiros, e leva um tempo até que estejam exercendo as funções de forma qualificada.
O curioso é que não faltam, no município, cursos e oficinas de qualificação para o mercado de trabalho. Há opções fornecidas pelo Senai, Sebrae e Senac, iniciativas da prefeitura e de entidades empresariais que fornecem capacitação com excelência.
No entanto, frequentemente essas oportunidades têm pouca adesão da população. Muitas vezes falta iniciativa, inclusive, de quem já está empregado. É comum que haja, nas empresas, vagas com salários melhores que dependem de qualificação, que não é buscada pelos funcionários. No caso dos estrangeiros, além da qualificação, há ainda os desafios da adaptação a uma nova cultura, tanto na língua quanto nos costumes.
A situação de Brusque é uma realidade em todo o estado de Santa Catarina, que atingiu o pleno emprego em janeiro de 2025, com uma taxa de desemprego de 2,8%. Este é o menor índice dos últimos 10 anos. Ao mesmo tempo, a oferta de vagas também bate recorde. De acordo com o Sistema Nacional do Emprego (Sine-SC), atualmente estão disponíveis cerca de 8,5 mil postos de trabalho no estado.
Se olharmos para o lado, veremos que a situação é a mesma para todos. Em Joinville, onde o jornal O Município também atua, recentemente foram divulgadas aberturas de centenas de vagas em empresas tradicionais, como a Tupy, a Docol e a Whirlpool. Somente essas três empresas anunciaram cerca de 600 vagas recentemente. Em Blumenau, onde também atuamos, a tradicional Karsten recentemente abriu diversas vagas, assim como grandes redes supermercadistas.
São exemplos que corroboram o fato de que a demanda por trabalhadores é urgente, e grandes empresas do estado correm contra o tempo para contratar, sob o risco de verem sua produção comprometida pela falta de mão de obra.
Brusque recepciona tantas pessoas, como o venezuelano e o italiano que são entrevistados na reportagem, tendo como base a oferta constante de emprego. Muitos veem o município como uma oportunidade para trabalhar e conquistar uma vida melhor, mas é preciso que estejam cientes da necessidade de capacitação, para que a cidade possa responder adequadamente às demandas econômicas, e que possa continuar crescendo e se desenvolvendo com sustentabilidade.