El Niño mais intenso em sete anos causou chuvas que transbordaram rio de Brusque oito vezes em um mês
Considerado de intensidade forte, fenômeno havia chegado à marca pela última vez em 2016
Considerado de intensidade forte, fenômeno havia chegado à marca pela última vez em 2016
Pela primeira vez após uma série de sete anos de efeitos moderados e fracos, o fenômeno do El Niño chega ao patamar de intensidade forte. Em Brusque, os efeitos sentidos foram as fortes chuvas de outubro, que fizeram o rio Itajaí-Mirim transbordar oito vezes em um mês, período entre 4 de outubro e 4 de novembro.
Segundo a Prefeitura de Brusque, no mês passado foram registrados 539,58 milímetros de chuva acumulada. O valor representa o maior volume de chuva já registrado durante o mês desde o início das medições, em 1941.
“Com o El Niño, temos uma tendência de ter mais eventos climáticos. As chuvas são uma das características do fenômeno na nossa região. Estão dentro dos efeitos do El Niño”, afirma o coordenador da Defesa Civil de Brusque, Edevílson Cugiki.
Dados da Defesa Civil e da Epagri-Ciram mostram a intensidade do El Niño e do La Niña ao longo dos anos, desde a última intensidade forte até então. Desde 2016, foram três anos de efeitos do El Niño e cinco de efeitos do La Niña. O ano atual marca o retorno da atuação do El Niño após três anos.
Parte dos dados foram repassados pela Defesa Civil em resposta a um pedido de informação da vereadora Marlina Oliveira (PT). Outra parte dos dados foi adquirida diretamente pela reportagem de O Município. As informações deste ano são da Epagri-Ciram.
O El Niño e o La Niña são fenômenos opostos. O primeiro se refere à situação quando o Oceano Pacífico Equatorial está mais quente. O La Niña é ao contrário, quando o oceano está mais frio que a média histórica. Ambos influenciam nas condições climáticas.
Cugiki detalha que o El Niño causa chuvas em um período “mais espalhado”. Já o La Niña, ainda de acordo com o coordenador da Defesa Civil, tem como características as chuvas mais concentradas em um determinado período.
Conforme a Epagri-Ciram, a chamada Temperatura da Superfície do Mar (TSM) seguiu elevada em todo oceano pacífico em setembro e em outubro, com anomalia entre 1,5°C e 2,5°C, sendo a maior de 2,5°C a 3,5°C.
Para os próximos meses, a previsão é de continuidade do El Niño com intensidade forte. O pico deve ser atingido, ainda segundo a Epagri-Ciram, entre o fim da primavera e o verão. O fenômeno segue durante todo o verão de 2023 e 2024.
Os dados da Defesa Civil em resposta ao pedido de informação da vereadora Marlina levam em consideração todos os registros dos fenômenos desde 1929, há 94 anos, quando os dados da tabela começam a ser contabilizados.
Neste período quase centenário, há 12 registros de El Niño de intensidade forte, nos anos 1940, 1941, 1972, 1983, 1990, 1991, 1992, 1993, 1997, 2006, 2015 e 2016. O décimo terceiro registro é de 2023, que não aparece na lista.
As maiores enchentes registradas na cidade, porém, ocorreram todas em períodos de La Niña de intensidade moderada. “Brusque tem um histórico recorrente de chuvas independente do fenômeno atuante”, escreveu a Defesa Civil no documento destinado à vereadora.
Em 1984, o rio Itajaí-Mirim chegou a 10,30 metros, provocando a maior enchente da história de Brusque. A segunda maior aconteceu em 2011, quando o rio marcou 10,03 m. A terceira e também marcante enchente foi a de 2008, com a medição do rio em 8,88 m.
“É possível observar que, em anos de El Niño, temos um histórico mais recorrente de eventos relacionados a chuvas, mas de intensidade abaixo dos anos de La Ninã. O maior registro de enchente em anos de El Ninõ ocorreu em 1978, quando o rio atingiu 8 m”, complementa o órgão.
No documento, a Defesa Civil avalia ainda que o maior impacto do El Niño em Brusque está relacionado aos riscos de deslizamento. O órgão cita outubro de 2023 como exemplo, em que o rio transbordou diversas vezes mas não chegou a resultar em uma enchente, considerada somente quando a medição chega a 7,5 m.
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