Entenda a diferença entre a barragem de Brumadinho e a futura barragem de Botuverá

Embora nome seja semelhante, estruturas têm funcionamentos distintos

Entenda a diferença entre a barragem de Brumadinho e a futura barragem de Botuverá

Embora nome seja semelhante, estruturas têm funcionamentos distintos

Desde a tragédia na barragem de Brumadinho (MG), instalou-se o medo quanto às barragens. Entretanto, é preciso entender como funciona cada tipo de barragem para desmistificar esse temor.

O jornal O Município conversou com Juarês Aumond, geólogo com mestrado em geografia e doutorado em engenharia civil. O especialista explica quais são os tipos de barragens, quais existem no Vale do Itajaí e os cuidados que devem ser tomados.

Além de ter formação acadêmica, Aumond tem experiência, pois trabalhou no Sul e no Norte do rio Amazonas com barragens de rejeitos de minério.

Ele explica que a mineração do ferro exige água para a lavação do minério. O rejeito desse processo é despejado em uma barragem, que é construída a montante (parte mais alta antes do curso d’água).

A barragem consiste em degraus. Quanto mais rejeitos são retirados, mais degraus são feitos. Esse foi o método usado em Brumadinho e é o mais barato empregado pelo setor de mineração brasileiro. Barragens deste tipo não existem no Vale do Itajaí.

Aumond explica que existe mais dois tipos de barragens: seca e mista. No caso da primeira, seu objetivo único é segurar a água do rio quando há cheias. Já no tipo mista a meta é não só prevenir cheias, mas também gerar energia elétrica.

A futura barragem de Botuverá será do tipo mista. Ela terá finalidade de gerar eletricidade e poderá ter as comportas fechadas quando houver risco de inundações a jusante (rio abaixo), em Brusque e Itajaí.

O funcionamento das duas estruturas é bastante diferente e não há como serem comparados. Ainda que ambas tenham algum grau de risco, a barragem de Botuverá terá funcionamento diferenciado.

Aterros
Há, em Botuverá, aterros de rejeitos de minério de calcário. São estruturas bem menos perigosas do que as barragens, conforme o especialista.

Todo o rejeito da extração do calcário é levado para um local e compactado no solo. Aumond diz que se essa compactação for feita corretamente e houver a drenagem eficaz, não há risco considerável.

Somente no caso de não existir compactação e drenagem é que esse tipo de aterro poderia trazer problemas. Ainda assim, seria uma acomodação do solo, não uma “onda”, como aconteceu em Minas Gerais.

Aumond esclarece, ainda, que o setor de mineração na região é mais consciente do que no restante do Brasil quanto à segurança.

Barragens improvisadas
Aumond afirma que é comum, sobretudo na bacia que passa por Timbó, encontrar pequenas barragens feitas por pessoas comuns. São barreiras feitas no curso d’água com altura de um, dois ou três metros.

O geólogo diz que esse tipo de estrutura, geralmente, não é feita com a técnica correta. Em situações mais extremas, essas barragens improvisadas têm um considerável poder destrutivo.

As diferenças entre Brumadinho e Botuverá

  • Brumadinho
    Finalidade de conter rejeitos de minério
    Barragem faz uso do rejeito seco, ou seja, são degraus sobre degraus
    Modo de construção é responsável por 76% dos acidentes em barragens
  • Botuverá
    Finalidade de gerar energia e contenção de cheias
    Barragem construída com concreto sobre solo rochoso
    Método é um dos mais modernos, se bem executado

Especialista alerta para cuidados com a barragem de Botuverá

Juarês Aumond já esteve no provável local da futura barragem de Botuverá. Geólogo, ele analisou o ambiente e diz que se trata de um ponto em que o vale tem um “ V” fechado, o que exige com que a altura dela seja maior.

“A barragem é uma estrutura de concreto firme em xisto, que é uma rocha laminada, como folhas de um livro”, explica o especialista. Em resumo, o xisto, na região, tem fissuras e pontos de fraqueza.

“Temos que tomar cuidado para que esteja ancorada de forma adequada no xisto”, afirma o geólogo. “Precisa ter um acompanhamento muito cuidadoso para evitar que uma estrutura entre em colapso”, completa.

Para Aumond, é preciso que os engenheiros e técnicos levem em conta a realidade do clima local, muito úmido, para a construção.

Até o momento, não há detalhes sobre o plano de segurança da barragem. A reportagem fez contato com a Defesa Civil estadual para solicitar essa situação, contudo, não obteve retorno.

Nova Trento tem três barragens, aponta agência nacional

O relatório da Agência Nacional das Águas (ANA) mostra que Nova Trento tem três barragens. Todas elas são Pequenas Centrais Hidrelétrica (PCH), ou seja, sua principal finalidade é a geração de energia elétrica. Elas captam água do rio Alto Braço.

Uma delas é a barragem do Aguti. Ela é operada pela Cotesa Geradora de Energia. Sua altura é de 5,06m e a capacidade é de 258 metros cúbicos por hora. O relatório de segurança de 2007 da ANA aponta que o risco desta barragem é baixo.

Outra barragem no município é a de São Sebastião. Sua capacidade é de 166 m³ e a altura, 8,32m. Conforme o relatório, a Cotesa também é a responsável pela estrutura, cujo risco é considerado baixo.

A terceira PCH gerida pela Cotesa é de São Valentim. A barragem tem 11,8m de altura desde a fundação e capacidade de 88 m³. O relatório de segurança da ANA também a classifica com risco baixo.

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