Entidades de Brusque avaliam cortes de gastos

Empresários veem com bons olhos enxugamento da máquina pública, mas criticam volta da CPMF

Entidades de Brusque avaliam cortes de gastos

Empresários veem com bons olhos enxugamento da máquina pública, mas criticam volta da CPMF

As entidades de classe de Brusque receberam com críticas as medidas econômicas anunciadas pelo governo federal na segunda-feira, 14. Os empresários e o Fórum Sindical de Brusque veem com bons olhos a eliminação de ministérios e cargos de confiança, mas criticam a proposta de volta da CPMF – o imposto sobre movimentações financeiras – e cobram ação mais firme para diminuir o tamanho da máquina pública.

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Brusque, Altamir Schaadt, considera os ajustes internos, redução de ministérios e cargos de confiança, muito importantes. Esta, aliás, é uma leitura compartilhada também por outras entidades empresariais brusquenses. Porém, Schaadt critica a equipe econômica de Dilma Rousseff, que pretende reduzir investimentos.

O atual vice-presidente e presidente eleito da Associação Empresarial de Brusque (Acibr), Halisson Habitzreuter, considera que as medidas são insuficientes. “O que conversamos no meio empresarial é que o Brasil precisa tomar providência para voltar a crescer. Com a volta da CPMF, este pacote é somente um paliativo e não vai resolver a situação”.

Em contrapartida à classe empresarial, o Fórum Sindical de Brusque chama a atenção para a “perda de direitos adquiridos”. O coordenador Izaías Otaviano afirma que o anúncio de que o governo federal tirará R$ 4,8 bilhões do Minha Casa Minha Vida, programa que já foi a menina dos olhos dos governos petistas, causa preocupação. “Mexer num programa social como o Minha Casa Minha Vida é atingir o trabalhador diretamente”, afirma.

Fiesc protesta

O pacote anunciado pelo governo federal inclui a suspensão de concursos públicos, eliminação do abono de permanência (reembolso da contribuição previdenciária devido ao funcionário público que esteja em condição de aposentar-se, mas que optou por continuar em atividade), redução de R$ 200 milhões nos gatos administrativos – por meio do corte de cargos e ministérios – e o adiamento do reajuste dos servidores federais, entre outras medidas. Tudo isto soma R$ 26,6 bilhões de economia.

Já no lado da geração de receitas está a criação da CPMF com alíquota de 0,20% e o corte em 30% dos recursos destinados ao Sistema S – o que equivale a R$ 6 bilhões -, do qual fazem parte entidades como o Senai, administrado pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc). A entidade, como era de se esperar, não gostou da proposta do governo. O presidente Glauco José Côrte falou sobre o assunto em um evento em Blumenau na segunda-feira, 14.

“Se de fato implementado, esse corte vai afetar os serviços prestados nas áreas de educação e atendimento social ao trabalhador. É uma interferência despropositada em recursos do setor privado, já que a contribuição que mantém o Sistema S é paga pelas empresas”, disse.

“Estranhamos e consideramos uma ousadia do governo, que tem como mote ‘Pátria educadora’, tomar uma medida que afeta um sistema que funciona bem e aplica com qualidade os recursos no atendimento social e formação do trabalhador”, completou.

Côrte também criticou a volta da CPMF, mesmo que com uma alíquota menor do que quando vigorou em 2007 (era de 0,32% e a proposta é de 0,20%). Para ele, a sociedade já rejeitou o tributo uma vez e não há sentido na sua volta.

Confira a seguir a repercussão do anúncio da equipe econômica de Dilma entre as entidades de Brusque:

Edemar Fischer
Presidente da Associação Empresarial de Brusque (Acibr)

“As medidas veiculadas na mídia nacional demonstram como o governo está sem rumo, adotando medidas irresponsáveis, que vão na contra mão. O aumento da carga tributária vai trazer mais recessão, impondo à classe produtora e à população mais este ônus. Estas medidas oneram muito o setor produtivo e isto será repassado para o consumidor.
Está na hora desse governo efetuar cortes para baixar a conta do setor público, como o setor privado está sendo obrigado a fazer. Não é crível que com toda a arrecadação tenhamos um déficit de R$ 9 bilhões, no primeiro semestre, fruto da má gestão pública. Chega de aumento de impostos, não podemos concordar com referidas medidas, vinda de uma equipe irresponsável, salientando que já pagamos uma das mais elevadas cargas tributárias do mundo.
Acredito que tais medidas dificilmente serão aprovadas pelo Congresso Nacional sob pena de ele – o Congresso – chancelar a incompetência dos nossos governantes.
Luiz Carlos Rosin
Presidente da Associação das Micro e Pequenas Empresas de Brusque (Ampebr)

“Na verdade, estes cortes já deviam ter sido feitos há algum tempo atrás. Isto que estão fazendo não é o suficiente, é um paliativo que não vai resolver todos os problemas. Com certeza, isto vai se refletir no bolso da população, que terá de pagar a conta, que é dura e, com certeza, gerará mais desemprego ainda. É um sofrimento que todos passarão por um longo tempo e sem ter a certeza de que será bem-sucedido.
A situação é muito mais grave do que está aparecendo. Estão propondo R$ 26,6 bilhões de corte, mas isto vai acima de R$ 60 bilhões. Não sei de onde vão tirar o dinheiro que falta para resolver. Acho que este é um paliativo duro, mas tem que ser enfrentado. Não tem mais nada que se possa fazer, ou se toma estas medidas ou vamos para o caos. Se não tomarmos medidas, daqui a pouco estamos igual a Grécia”.
Altamir Schaadt
Presidente da Câmara de Dirigente Lojistas de Brusque (CDL)

“A nossa entidade sempre foi bastante crítica em relação às despesas dos governos federal, estadual e municipal. Realmente deve haver cortes e acho que o que foi feito ainda é muito pouco, precisa de muito mais. Somos radicalmente contra a volta da CPMF [imposto sobre movimentações financeiras], inclusive, uma das entidades que deu início ao processo do fim da CPMF, em 2007, foi a CNDL [Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas]. A entidade sempre se posicionou contra a cobrança de mais impostos.
O governo precisa fazer a sua parte. Olhamos para estes cortes como algo simbólico e não efetivamente o que deveria estar acontecendo. Acredito que será preciso mais cortes internos, de ministérios e cargos, e mais profundos. Não só os empresários precisam pagar as contas, o governo tem de fazer a parte dele”.

 

Izaías Otaviano
Coordenador do Fórum Sindical de Brusque

“A gente recebe esta notícia com bastante tristeza, porque a conta está sempre estourando para o lado mais fraco, o do trabalhador. Mexer num programa social como o Minha Casa Minha Vida é atingir o trabalhador diretamente. E, neste caso, atingir o trabalhador certamente atingirá a economia, principalmente, na construção civil porque vamos deixar de ter a construção de novas casas e investimentos nesta área.
Com relação à volta da CPMF também ficamos bastantes tristes porque a criação de novos impostos não é o caminho. Entendemos que isto, mais uma vez, irá estourar no bolso do trabalhador. Por outro lado, entendemos que há a necessidade do enxugamento da máquina pública. A diminuição de ministérios, desde que seja uma reforma séria que vai cortar gastos realmente, também vemos com bons olhos. Por que do jeito que estava não tinha mais como tocar, a máquina pública inchou de uma maneira que não tem mais jeito. Neste sentido, é positivo, mas mexer em direitos conquistados e aumentar juros aumentará a recessão”.

 

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