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Escritor João José Leal é eleito para ocupar cadeira na Academia Catarinense de Letras

Cronista e colunista do jornal O Município é um dos quatro novos integrantes da entidade máxima da literatura do estado

Desde a última semana, Brusque tem um representante na Academia Catarinense de Letras (ACL). O escritor João José Leal, autor de crônicas e de extensa bibliografia na área jurídica, foi eleito como um dos quatro novos imortais da instituição, em assembleia extraordinária realizada na última sexta-feira, 22, em Florianópolis. O promotor e professor universitário aposentado assume a cadeira de número 31, cujo patrono é Manoel José de Souza França.

Além de Leal, foram eleitos também o advogado e professor José Isaac Pilati, para a cadeira de número 14; o escritor Laerte Tavares, que ocupará a cadeira 16; e o escritor Godofredo de Oliveira Neto, para a cadeira 10. Os novos acadêmicos tem o prazo de um ano para tomar posse de seus assentos na Academia, que é composta por 40 escritores nascidos ou radicados em Santa Catarina.

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Esta foi a primeira vez que Leal se candidatou para uma vaga na ACL. Ele conta que enviou sua candidatura em junho de 2017, quando foi publicado o edital para as cadeiras vagas. Qualquer pessoa pode se candidatar ao posto, que é vitalício, ou seja, só é eleito um novo integrante após o falecimento de quem ocupava a cadeira anteriormente. A cadeira de Leal, de número 31, foi fundada pelo militar, político e escritor tijuquense Henrique Boiteux – também fundador da Academia – e ocupada, posteriormente, pelo historiador e professor Walter Piazza, de Nova Trento.

Em 2018, Leal assume a cadeira e pretende agendar sua solenidade de posse para o mês de agosto, com data ainda a ser definida. Para o autor e promotor aposentado do Ministério Público, a eleição para a Academia vem como um reconhecimento de seu trabalho na literatura. “Isso leva em consideração também o meu trabalho na área jurídica e a produção científica. Um promotor de justiça trabalha redigindo suas peças forenses, e eu sempre primei pelo bom português – gramática, sintaxe, ortografia.”

A transição do Direito para a literatura, segundo Leal, aconteceu de forma natural. Ele conta que o próprio curso de bacharel em Direito é bastante aberto às artes e às ciências sociais – inclusive, muitos dos integrantes da ACL possuem formação jurídica, e a própria instituição foi fundada por um jurista -, e ele julga que o interesse pessoal pela leitura e a formação bastante humanista que teve em seu período escolar alimentaram o sonho de escrever e enveredar para a literatura.

“Sempre dividi meu tempo entre o estudo da área jurídica com o interesse pelas artes. Gosto de música, literatura, cinema, artes plásticas.” Uma afirmação que o escritor não precisaria ter verbalizado, afinal, a sala de sua casa é repleta de quadros, as prateleiras do escritório estão forradas de livros do chão até o teto e, ao fundo, ouve-se uma suave música clássica. “Esse interesse ‘roubou’ tempo de estudo do Direito”, ri o autor, que gosta também de viajar para conhecer culturas, admirar arquitetura e a geografia de cada local.

Produção literária
Autor de dois livros de crônicas – “Páginas de uma cidade – Crônicas”, de 2012, e “Estórias de uma cidade – Crônicas Tijucanas”, de 2015, que recebeu o Prêmio Catarinense de Literatura da Fundação Catarinense de Cultura -, Leal possui mais de mil crônicas escritas, das quais cerca de 90% estão publicadas, tanto nos livros quanto nos jornais com que colabora, incluindo O Município.

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Leal começou publicando alguns textos ainda em 1967, quando ingressou no Ministério Público, na Rádio Entre Rios, do município de Palmitos. Desde então, dedica-se a este gênero literário, e se classifica como um cronista eclético: escreve textos de natureza política, histórica e literária – esta, por vezes, com pitadas de ficção.

“Minha pretensão, hoje, é ser um bom cronista”, diz. Para ele, quem sente a vocação para escrever tem duas portas de entrada para a literatura: pela prosa, através da crônica, ou pela poesia. “São gêneros concisos e, inicialmente, mais fáceis”, avalia.

Embora em aparência a crônica seja muito simples, afinal, são textos curtos que tratam do cotidiano, Leal julga que é um dos gêneros textuais mais complexos e que mais exigem do autor. “A crônica demanda síntese, poder de condensação para limitar a narrativa a um espaço muito curto. Pode parecer fácil, mas existe essa dificuldade, exige objetividade e é um texto de poucas palavras, um problema que não existe no conto, no ensaio, no romance.”

Essa objetividade ele admira nos cronistas Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos, que publicavam seus textos na antiga revista Manchete. Para Leal, a crônica e os periódicos são uma combinação ímpar, visto que os cronistas, quando buscam temas, inspiram-se frequentemente em assuntos cotidianos, coisas do dia a dia. “Primeiro, vêm as publicações em jornais ou revistas. Só depois surgem as coletâneas de crônicas, publicadas em livros”, avalia. “Tanto que muitos dos grandes cronistas são, também, jornalistas.”

Colaboração com jornais
“As páginas do jornal sempre estiveram abertas para mim”, afirma o escritor, sorrindo. Ele vem colaborando com o jornal O Município desde 1972, quando fornecia contribuições esporádicas, em sua maioria, artigos de natureza jurídica.

“No início, eu enviava textos muito grandes, eu não entendia que a linguagem jornalística era diferente da das publicações científicas”, relembra. “Os editores tinham dificuldade para encaixar os artigos nas páginas, que têm espaço limitado.”

Atualmente, além deste, Leal colabora também com publicações de Itajaí e, ocasionalmente, de Florianópolis e Blumenau, e já integrou a equipe de colunistas de periódicos de Joinville, Chapecó e Tijucas.