Especialistas explicam o que é esquerda e direita na política brasileira

Grande número de siglas dificulta definição ideológica dos partidos

Especialistas explicam o que é esquerda e direita na política brasileira

Grande número de siglas dificulta definição ideológica dos partidos

Esquerda, direita e centro entraram no vocabulário do noticiário político nos últimos anos, ainda mais com o acirramento dos ânimos no país. Para tentar explicar ao cidadão o que significa cada campo, O Município ouviu dois especialistas: Flávio Ramos, doutor em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professor da Univali, e Sérgio Saturnino Januario, mestre em Sociologia Política e integrante da Exitus Comunicação e Pesquisa.

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Os dois avaliam que existe uma grande confusão no Brasil. Os mais de 30 partidos são fracos ideologicamente e mudam de lado conforme lhes convêm. Isso faz com que o conceito de esquerda e direita no âmbito da política brasileiro seja muito mais complexo.

No meio desta confusão, existe o chamado centro. São posicionamentos mais moderados dentro da esquerda e direita, ou seja, existe centro-esquerda e centro-direita.

O conceito de esquerda e direita surgiu com a Revolução Francesa, em 1789. Os que defendiam o fim das desigualdades entre a população e os nobres sentavam à esquerda do presidente, enquanto que os que defendiam a monarquia e a ordem estabelecida ficavam à direita.

Quais são as diferenças entre esquerda e direita?

Januario: No fundo, poderia lhe dizer que não temos esquerda, direita e centro como linhas de comportamento ideológico. Nós temos algumas linhas de ação um pouco mais voltadas ao social e ao mercado, mas isso não vai colocar como política, mas como uma filosofia econômica.

A economia é mais liberal ou conservadora. O nosso Estado é uma confusão. Somos o único país do mundo que tem o presidencialismo de coalizão. É um parlamentarismo que não tem primeiro-ministro e um presidente que depende do parlamento.

O regime é presidencial, mas a dependência é parlamentarismo. É confuso ter esquerda e direita neste caso.

Ramos: Apesar da crise das ideologias políticas ainda poderíamos falar em esquerda e direita. E quais seriam as diferenças? Basicamente o desenho do Estado. Os cidadãos que desejam uma presença menor do Estado na economia e na sociedade tendem a se identificar com o ideário político da direita. Os que desejam uma presença mais efetiva do Estado tendem a se identificar com as propostas da esquerda.

Quais propostas são consideradas de esquerda e de direita?

Januario: No fundo, as políticas de esquerda são políticas sociais, não necessariamente de esquerda ou direita. Alguém com tendência mais conservadora também pode fazer isso. Por exemplo, o ensino integral, ensino fundamental. Estamos mais numa escala de política de proteção das pessoas do que definição de uma sociedade. Não temos esquerda e direita.

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Ramos: Não podemos definir a esquerda como uma unidade. Há uma esquerda democrática e uma esquerda mais ortodoxa. As propostas da esquerda democrática giram em torno de um maior respeito às minorias, um Estado que conviva bem com a economia de mercado mas exerça algum tipo de regulação e graus de tolerância com a diversidade humana. Percebe que apenas o livre mercado não contempla a totalidade das demandas sociais. A esquerda ortodoxa, minoritária na atualidade, defende ainda ideias e projetos visando uma sociedade igualitária.

Da mesma forma há uma direita liberal que privilegia a meritocracia, o livre mercado, o empreendedorismo, privatizações de empresas estatais e igualmente uma compreensão da diversidade humana. Mas, por outro lado, temos também uma direita conservadora que apresenta dificuldades em aceitar os direitos das minorias, privilegia a tradição e apresenta restrições à mobilidade social. No limite dessas ideias o nacionalismo e o militarismo predominam.

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