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Esposa, filho e colega da família são condenados pelo assassinato de Natal Avi

Júri popular foi realizado nesta sexta-feira, 25, no Fórum da Comarca de Brusque, em sessão lotada

Os acusados de envolvimento no homicídio de Natal Avi, 54 anos, foram condenados na noite desta sexta-feira, 25, pela Justiça de Brusque. O julgamento iniciou às 8h30 e terminou às 22h, sob o comando do juiz Edemar Leopoldo Schlösser. O assassinato foi cometido na noite de 13 de março de 2016, em Botuverá.

A esposa Maria de Fátima Legal, 53, será punida com 20 anos de reclusão em regime fechado e o filho Eduardo Avi, de 25 anos, foi condenado a cumprir 21 anos e 4 meses, também em regime fechado.

Eles foram condenados por homicídio triplamente qualificado pelo motivo fútil, com emprego de meio cruel, e mediante recurso que dificultou ou impossibilitou a defesa da vítima. O fato deles serem cônjuge e filho de Natal aumentou a pena. Eduardo foi enquadrado ainda no crime de corrupção de menor.

Já o colega da família, Cleon Betim dos Santos, 24, foi condenado a 17 anos e 4 meses por homicídio quadruplamente qualificado, cometido mediante promessa de pagamento ou recompensa, por motivo fútil, com emprego de meio cruel, e mediante recurso que dificultou ou impossibilitou a defesa da vítima.

O júri
A primeira testemunha a ser interrogada foi o delegado Alex Bonfim Reis, que instaurou o inquérito do crime. Nas palavras dele, este foi um dos crimes mais cruéis e bárbaros que já presenciou.

Reis foi quem teve o primeiro contato com os acusados, os quais confessaram o crime e relataram como planejaram. “Para mim, a dona Maria é a pessoa mais fria e dissimulada que eu já conheci. Em momento nenhum se mostrou arrependida”, afirmou.

No banco dos réus, os três acusados choravam a todo momento e, por diversas vezes, durante depoimento de testemunhas, faziam sinais de negação com a cabeça. O júri popular iniciou por volta das 9h e seguiu por todo o dia.

Ainda pela manhã, os três réus foram interrogados, os quais negaram que a declaração feita na delegacia foi a verdadeira. Durante a tarde iniciou a discussão da acusação e defesa, que se estende até a noite.

Versão na delegacia
Na época dos fatos, nos depoimentos ao delegado, os acusados e testemunhas contaram que Maria vinha há tempo falando que precisava “dar um fim em Natal”, por não aguentar mais as humilhações e o desrespeito. Ela alegava que sofria agressões pelo marido.

Junto ao filho, ela teria planejado todo o crime e chamado Cleon para participar, na promessa de receber um carro, dois terrenos e uma quantia em dinheiro. A recompensa a ela e ao filho seria a herança que teriam com a morte do patriarca.

Sendo assim, na data, Natal chegou em casa após passar na cancha de um amigo, trouxe um espetinho de carne para ele e a esposa comerem e foi se deitar. Pouco tempo depois, Maria chamou o marido pois o filho estava com um problema no carro e precisava de ajuda para consertá-lo. A vítima se levantou da cama para ajudar o filho e quando estava de costas, Cleon veio por trás e acertou uma paulada na cabeça.

Após o crime, os três colocaram Natal no porta-malas do próprio carro, um Ecosport, e lançaram o corpo em um barranco, na rua Ernesto Bianchini, no bairro Rio Branco. Eduardo foi logo atrás em seu carro, Palio Weekend, dando cobertura. Enquanto o corpo era levado pelos autores, Maria de Fátima fazia a limpeza do sangue, enterrando inclusive algumas peças que ficaram mais encharcadas.

Quando o filho e o homem contratado para a execução retornaram, foi a esposa que montou a farsa que seria contada aos parentes e à polícia, dizendo que a vítima tinha saído para comprar óleo em um posto, por volta das 21h30, e não havia retornado mais. Ao fim do crime, os três ainda teriam comemorado na casa de Maria de Fátima.

Um adolescente, irmão de Cleon, presenciou parte do crime e chegou a acompanhar a desova do corpo. Pelas investigações ficou comprovado que ele não teve participação direta no crime. Entretanto, ele foi peça fundamental nos depoimentos, pois foi quem detalhou toda a ação. Ele ainda teria recebido um valor do irmão para se manter em silêncio.

Esta versão foi apresentada ao Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC), que fez a denúncia do crime e atuou na acusação dos réus.

A versão dos acusados

Esposa
Em juízo, Maria de Fátima contou que quando Natal chegou em casa, viu Cleon com o filho e, por não gostar da amizade entre os dois, pois o colega seria usuário de drogas, iniciou uma discussão com a esposa.

O filho, ao ouvir, foi até próximo à casa, quando o pai saiu e passaram a discutir. Neste momento, Cleon chegou perto e Natal foi para cima dele, quando o acusado deu a primeira paulada na cabeça e o marido já caiu no chão.

Ela conta que o filho mandou permanecer dentro da cozinha para que não visse o que estava ocorrendo pelo lado de fora da casa. “Eu só ouvi um barulho, parecia de um saco assim caindo no chão”, disse.

Pouco depois, Eduardo foi até a cozinha, a ameaçou e a mandou limpar todo o sangue. Sem saber que o marido estava morto, ela limpou e enterrou todo material com sangue. Só quando o filho voltou para casa é que ficou sabendo que Natal estava morto. “Ele me mandou ligar para a família e contar a história do óleo”.

Em depoimento no júri, Maria de Fátima afirma categoricamente que não planejou o assassinato do marido e que os fatos ocorreram na hora.

Eduardo
O filho da vítima conta que estava na garagem de casa com o colega Cleon, bebendo e usando drogas, quando o pai chegou. Certo tempo depois, ouviu uma discussão entre os pais e foi mais próximo da casa para ver o que estava ocorrendo.

Ele então chamou o pai para ver o que estava acontecendo e os dois foram para fora. “Ele estava nervoso e começou a discutir comigo também. A discussão entre os dois, segundo minha mãe me contou na cela, na delegacia, foi ela quem começou, pois ela disse para meu pai que o Cleon tinha dado em cima dela”.

Entretanto, Eduardo afirma que em nenhum momento o colega chegou perto da mãe. Para o filho, Maria de Fátima disse isso ao marido para “justamente ter essa consequência, do pai discutir com ela e ele ir para cima de Cleon”, analisa.

O acusado afirma que Cleon deu uma única paulada no pai, que caiu no chão desmaiado. Em seguida, o colega ficou nervoso e recuou. A esposa de Eduardo, que estava na casa ao lado, no mesmo terreno, foi para a rua ver o que estava acontecendo e ele entrou na casa para acalmá-la.

“A minhã mãe então veio com o pedaço de pau na mão e disse para nós tirar meu pai dali e passou a me ameaçar dizendo que se eu não fizesse, ia ligar para a polícia, ia fazer eu me separar e tirar as crianças da minha mulher”.

Devido à ameaça, Eduardo ajudou Cleon a colocar o pai dentro do carro e levar até o local em que foi abandonado. “A minha participação foi essa. Esse foi o meu erro. Quando chegamos no local e abrimos o porta-malas, meu pai caiu de dentro do carro e colocamos mais na beirada da estrada, mas quando vi, ele começou a rolar pelo barranco”.

Assim que retornaram, a mãe já havia limpado tudo e ligado para a família contando a mentira. Inclusive, ao chegar em casa, a mãe estava sorrindo e perguntou se tudo havia corrido bem.

Cleon
O acusado, colega da família, contou uma versão parecida com a de Eduardo. Ele acrescentou que foi Maria de Fátima quem deu a chave do carro do marido para tirá-lo do local e ainda indicou onde teriam que desová-lo.

“Quando entrei no carro a carteira dele estava no banco e eu perguntei para que era e ela disse que era para colocar fogo em tudo, na carteira e no carro”, conta.

Quando chegou ao local indicado, Cleon afirma que não teve coragem de colocar fogo e disse para Eduardo que não tinha mais condições de continuar. Mesmo assim, ajudou a colocar Natal até a beirada da estrada.

Durante o interrogatório, Cleon disse que não tinha nada contra a família e que não procede a informação de Maria de Fátima de que ele teria dado em cima dela. “Quero aproveitar que a família do seu Natal está aqui e quero pedir perdão, porque eu nunca tive nada contra nenhum deles”.

Tentativas de envenenamento
A promotora Susana Perín Carnaúba revelou aos jurados que recebeu uma testemunha, acompanhada de um advogado, que contou que por duas vezes precisou levar Natal e a esposa Maria de Fátima ao Hospital Azambuja, pois ele estava passando mal.

A testemunha, segundo a promotora, é uma pessoa da família do casal, que presenciou nas duas oportunidades, Natal bastante pálido e com enjoos. Em todas as vezes, Maria alegava que o marido havia comido repolho com urina de gato ou cachorro.

Durante o andamento do processo, Susana também recebeu cartas, inclusive de Eduardo, um dos acusados, dizendo que antes do crime, a mãe já havia tentado envenenar o pai.