Esteroides anabolizantes: conheça o perigo do uso incorreto das substâncias e o cenário em Brusque
Entre os usuários mais comuns, destacam-se jovens e adultos que buscam por uma melhora física e estética
Entre os usuários mais comuns, destacam-se jovens e adultos que buscam por uma melhora física e estética
O uso de anabolizantes sem acompanhamento médico entre os brasileiros está crescendo de forma exponencial. A utilização deixou de ser algo exclusivo de atletas adultos há muitos anos e, atualmente, é praticada também por jovens e adolescentes.
A maioria dos usuários buscam melhorias na estética pessoal, ou seja, correm atrás de um corpo idealizado. De acordo com especialistas, não há nada de errado na busca por um físico melhor, porém, quando isso depende do uso de esteroides anabolizantes sem acompanhamento médico, o resultado pode ser fatal.
No município de Brusque, especificamente, ainda não há dados conhecidos e divulgados sobre o assunto. Porém, relatos obtidos de forma sigilosa pelo jornal O Município mostram que o uso incorreto dos esteroides anabolizantes merece atenção da população.
Considerado ‘comum’ em algumas academias da cidade, o assunto costuma ser tratado de maneira diferente por cada usuário ou profissional que atua ou frequenta os espaços.
“Muitos buscam orientações pois querem começar a usar e eu sempre falo sobre os alertas. Outros já usam há muito tempo e não conseguem mais parar. Não há como controlar cada pessoa e o mercado ilegal é acessível. Eu sempre tento fazer minha parte, mas não dá para salvar o mundo. Há lugares aqui em Brusque em que a pessoa que não usa nada é considerada rara”, disse um instrutor de academia ao jornal, sob condição de anonimato.
Estima-se que aproximadamente 3,3% da população brasileira seja composta por usuários ocasionais ou frequentes dessas substâncias, conforme informações da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Dentro desse grupo, 18,4% são classificados como esportistas recreativos, enquanto cerca de 13,4% são identificados como atletas. É importante ressaltar que o uso desse tipo de substância é proibido pelo Comitê Olímpico Internacional desde a década de 1970.
Décadas atrás, era possível dizer que o problema estava limitado apenas àqueles que buscavam uma vantagem competitiva em competições esportivas. Porém, nos últimos anos, há dados que indicam que 2,3% dos usuários pertencem ao grupo de jovens estudantes.
Os números foram evidenciados por um levantamento realizado em 2017 pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cedris), afiliado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“Eles buscam resultados rápidos, físicos impressionantes em pouco tempo. Além da performance, também buscam por uma estética invejável. Porém, o caminho que parece ser o mais rápido também pode ser o mais perigoso. Se perguntar, nenhum deles falará que utiliza substância com acompanhamento médico, esse é o maior problema ao meu ver”, complementa o instrutor.
As substâncias, na maioria das vezes, são adquiridas de maneira ilegal e sem orientação profissional. O estilo de ‘compra e venda’ costuma ser parecido em todo o território brasileiro.
Um morador de Brusque, de 23 anos, conversou com a reportagem e disse que faz uso do Durateston. O medicamento injetável é utilizado para a reposição de testosterona em pacientes que apresentam baixos níveis de testosterona ou em casos de hipogonadismo (testosterona natural ausente). Além disso, deveria ser utilizado sob prescrição médica e sua compra nas farmácias só acontece na posse de uma receita.
“Não tenho acompanhamento médico e já uso faz uns dois meses (1 ml a cada 12 dias). A dose é pequena e nunca notei nenhum efeito colateral. A aplicação é realizada em uma farmácia do meu bairro. Treinava durante três anos quando comecei a usar e vi que talvez, para chegar onde eu gostaria, precisaria usar. Hoje em dia não paro pois sei que não é tão simples parar, exige alguns cuidados e acompanhamentos. Compro produtos vindos do Paraguai, já que no Brasil são proibidos para uso estético”, explicou.
Em março deste ano, a Anvisa chegou a determinar a apreensão e a proibição da comercialização, distribuição e uso de unidades falsificadas dos medicamentos Deca-Durabolin e Durateston. A medida foi tomada após a Agência ser informada pela empresa Aspen Pharma Indústria Farmacêutica sobre a circulação, no mercado brasileiro, de unidades falsificadas dos medicamentos.
Outro brusquense, de 26 anos, relatou fazer uso de outro medicamento, o Hemogenin. Ele é conhecido por aumentar a produção de glóbulos vermelhos no corpo, o que, segundo ele, melhora a resistência e a capacidade de treinamento. O uso correto do medicamento seria para tratar a anemia decorrente de deficiências da medula óssea.
“Aplico da mesma maneira (farmácia de bairro). Além do Paraguai, é possível encontrar tudo na internet. Quem treina sempre conhece alguém que vende. Há perfis no Instagram em que o atleta divulga um link de venda. Você clica e vai direto para a página de um laboratório. Eles te enviam via Correios mesmo. De fora do país é fácil conseguir também. Se entram drogas pesadas, imagina anabolizantes”, diz.
O uso de anabolizantes de forma desenfreada vem chamando a atenção das instituições médicas do país inteiro. A Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), por exemplo, se uniu (este ano) com outras organizações médicas para assinar um documento solicitando ao Conselho Federal de Medicina (CFM), a regulamentação da prescrição de esteroides anabolizantes com objetivos estéticos e de aprimoramento físico.
O cardiologista intervencionista Bruno Casagrande, que atua no Hospital Azambuja, explica que o uso desenfreado e sem acompanhamento médico pode aumentar a incidência de doenças cardiovasculares.
“Também pode desenvolver doenças no fígado e hipogonadismo, que é o mau funcionamento das gônadas (testículos nos homens e os ovários nas mulheres). É preciso alertar para o uso de forma equivocada dessas substâncias”.
Entre a comunidade médica, já existe o conhecimento de que essas substâncias, originalmente desenvolvidas para fins médicos, são agora amplamente utilizadas para melhorar a aparência física e o desempenho atlético.
Para Bruno, é preciso destacar a taxa de mortalidade por uso de anabolizantes, ainda mais entre os jovens. “Além do uso de anabolizantes, há o sedentarismo e a obesidade. Se juntos já podem ser fatais entre jovens, imagina adultos”.
Aplicar anabolizantes em farmácias de bairro (que geralmente não pertencem às grandes redes) é uma cena que parece ser comum no município. Segundo relatos obtidos pelo jornal, em muitos dos casos os atendentes das drogarias não sabem o que estão aplicando nos clientes, apenas realizam o procedimento (que é pago).
“Eles costumam vir semanalmente, é normal. Chegam e perguntam se estamos aplicando injeções. Se ouvem resposta positiva, vão até o carro buscar a substância ou tiram do bolso. Pagam pela aplicação e vão embora”, diz uma atendente de uma farmácia de Brusque.
Questionada, a Vigilância Sanitária de Brusque informou que a aplicação não é proibida pelo órgão. O que ocorre, segundo a Vigilância, é que geralmente os estabelecimentos não aplicam, pois não sabem a procedência do medicamento, como foi acondicionado, se ficou ou não no sol.
“Tudo isso acaba interferindo e quem aplica pode ser responsabilizado. Desta forma, mesmo a critério dos estabelecimentos, a maioria não o faz, uma vez que pode ser responsabilizado por alguma possível reação adversa. As receitas de medicamentos controlados das listas B2 e A, que são vendidas nas farmácias, são apresentadas e conferidas pela Vigilância Sanitária trimestralmente conforme RDC 344/98″.
O jornal O Município também entrou em contato com as polícias Civil e Militar de Brusque para saber se há registros de apreensões de anabolizantes no município. Ambas responderam que não houve nenhuma apreensão do tipo no ano de 2023.
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