Ex-funcionários da Buettner têm problemas para dar entrada no seguro-desemprego
Eles não conseguem ter acesso ao benefício por divergências no sistema; sindicato diz que problema pode ser proposital
Eles não conseguem ter acesso ao benefício por divergências no sistema; sindicato diz que problema pode ser proposital
Após passar por dificuldades financeiras nos últimos meses de operação da Buettner, os ex-funcionários da fábrica enfrentam um novo problema: eles não conseguem dar entrada no seguro-desemprego no Ministério do Trabalho e Previdência Social por causa de “divergências no sistema”. A situação se repete em todo o Brasil. Sem receber há tempo e sem o benefício, muitos se dizem desesperados e injustiçados.
O caso de Adriana Schaefer ilustra a situação. Ela trabalhava no administrativo da Buettner há dois anos e meio quando a empresa faliu. Nos últimos dois meses, março e abril, não recebeu. “Foi uma empresa muito boa de trabalhar, mas já passou dos limites”, diz.
Adriana foi uma das pessoas automaticamente demitidas com a falência. Assim que saiu, foi ao banco pegar o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e sacou os R$ 200 que tinha conta. O valor deveria ser bem maior, mas a indústria não pagava o FGTS dos funcionários há algum tempo. Isto, inclusive, consta na decisão da Justiça que determinou a quebra da fábrica.
O problema de Adriana piorou quando ela foi dar entrada no seguro-desemprego no Ministério do Trabalho. Segundo ela, o sistema acusou alguma divergência na sua documentação, o que impede a concessão do benefício. “Mandaram ligar lá em 120 dias para ter um parecer”, afirma.
Enquanto não consegue o seguro, ela se vira como pode. Com uma filha para criar, está fazendo serviço de revisão de roupas em casa, mas sem registro, e o pagamento é por produção. Adriana diz que está à procura de emprego, porém, está muito difícil em qualquer área.
Aconteceu o mesmo problema do seguro-desemprego com Adriana Geraldo. Ela deu entrada no benefício, já foi ao Serviço Nacional de Emprego (Sine) e ao Ministério do Trabalho e a resposta foi parecida com a dada a Adriana Schaefer: há divergência e é preciso entrar com um processo no ministério.
“Abri um processo no Ministério do Trabalho que vai para Florianópolis. Vou ter que aguardar 180 dias enquanto isso”, afirma Adriana. Ela se diz indignada com a situação e reclama que já não sabe o que é receber um salário inteiro há quatro meses.
Adriana trabalhou na Buettner por 15 anos até que veio a falência. Em 2008, quando teve a enchente e o governo federal liberou o FGTS para todos, ela sacou parte do valor. Ainda assim, hoje, teria R$ 9 mil para receber, mas pôde pegar apenas R$ 308, pois a empresa não estava depositando o seu fundo de garantia.
Problema nacional
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Têxteis de Brusque (Sintrafite), Aníbal Boettger, tem conhecimento dos problemas dos ex-funcionários da Buettner. Ele entrou em contato com o Ministério do Trabalho para saber o motivo e a resposta não foi conclusiva.
“Infelizmente, esta situação está acontecendo dentro do sistema do Ministério do Trabalho. Nosso entendimento é de que o ministério está dificultando”, afirma o sindicalista. Ele acredita que devido ao alto número de pessoas pedindo o auxílio financeiro o governo federal está criando entraves para atrasar os pagamentos – isto não seria exclusivo ao caso da Buettner.
Boettger diz que não há outra alternativa além do ministério para requisitar o seguro-desemprego. “É lamentável esta situação que o trabalhador tem que passar”, afirma e completa que o Sintrafite “repudia veementemente” o fato. Problemas parecidos como este aconteceram por todo o país nas últimas semanas, no entanto, em contato com a Superintendência do Ministério do Trabalho, em Florianópolis, não houve confirmação.
O administrador judicial da Buettner, Gilson Sgrott, diz que o problema é interno do Ministério do Trabalho e não há o que ele possa fazer. A reportagem entrou em contato com o Sine de Brusque, que não se manifestou.
Carteiras de trabalho ainda são entregues
Mayara Silveira, que trabalhou na Buettner por quase três anos, relata que ainda não recebeu a sua carteira de trabalho. Tudo deveria ter sido entregue até dia 28, segundo ela, mas não aconteceu. A mulher cobra mais agilidade da equipe de Recursos Humanos da massa falida.
Mayara diz que os ex-trabalhadores da fábrica saíram sem nada e que estão desamparados. A preocupação dela é conseguir um novo emprego, mas isto só é possível com a baixa na carteira de trabalho.
O advogado e administrador judicial da Buettner, Gilson Sgrott, diz que as carteiras estão sendo entregues por ordem alfabética. Nesta segunda-feira, 30, estava nos nomes com letra J. O critério foi escolhido para não privilegiar ninguém, de acordo com ele, mas nada impede que alguém que precise do documento com mais urgência consiga antes.
Contas serão prestadas
Alguns ex-funcionários questionaram o Município Dia a Dia como está a situação do terreno e da continuidade da empresa. Sgrott diz que os funcionários estão trabalhando temporariamente para acabar o serviço que já estava na fábrica. Ele afirma que depois de acabado, a princípio, a indústria ficará fechada.
Segundo administrador judicial, todo o valor arrecadado com este serviço que está sendo realizado será convertido aos trabalhadores.
Primeiro, serão pagos os que trabalham no local agora, os fornecedores demais custos. A diferença irá para um conta judicial, a qual servirá para quitar os débitos atrasados com os ex-funcionários. O mesmo acontecerá com o valor da venda de um terreno pertencente à Buettner, que será vendido em leilão.