Família cobra auxílio da prefeitura para reforma de casa enxaimel em Guabiruba
Proprietários alegam que receberam informações equivocadas sobre as casas, que são tombadas a nível municipal
Proprietários alegam que receberam informações equivocadas sobre as casas, que são tombadas a nível municipal
Construída na década de 1930, a casa enxaimel da família Gums recentemente passou por uma reforma completa. A casa está na localidade do Sternthal, no bairro Aymoré, e é uma das edificações que ainda preservam o estilo de construção alemã em Guabiruba.
Segundo a lei orgânica do município, todas as casas enxaimel estão tombadas em âmbito municipal. No entanto, ao solicitar para a prefeitura um auxílio financeiro para a reforma, a família alega que recebeu uma informação equivocada sobre o assunto.
“Fomos até a prefeitura, conversamos e ficamos acertados que a prefeitura poderia contribuir com o material. Depois, voltamos lá e aí falaram que não poderia ajudar, porque as casas saíram fora do patrimônio histórico, que eu estava querendo algo ilegal”, diz Tânia Gums Baron, proprietária da casa.
Segundo ela, a reforma da casa era uma necessidade urgente, pois a construção corria o risco de desabar. A engenheira civil Janine Baron, filha de Tânia, acompanhou toda a obra e afirma que chegou em um ponto em que a reforma precisava ser feita por questões de segurança.
“A casa estava cedendo por problemas na estrutura. O meu avô mora ao lado, então estava perigoso. O que a gente sabia é que a casa é um patrimônio histórico do município e por isso fomos pedir ajuda”.
De acordo com ela, há 10 anos a casa passou pela primeira reforma, que teve contribuição da prefeitura. Naquela época, a administração deu o material e a família custeou a mão de obra.
Como já havia recebido auxílio na primeira reforma, a família decidiu, novamente, solicitar ajuda, que desta vez não se concretizou.
“Está na lei orgânica da cidade. As casas continuam tombadas. Existe, sim, um fundo que a prefeitura pode solicitar verba para preservação das casas. A prefeitura tem o dever legal de ajudar a manter, em coparticipação com o proprietário. Se a gente tivesse deixado, e a casa tivesse caído, teríamos que pagar multa para a prefeitura. Por que a casa é tombada, não pode demolir”.
Os custos de toda a reforma chegaram próximo a R$ 200 mil. Mesmo sem o auxílio da prefeitura, a família decidiu prosseguir com a obra, já que não pretende se desfazer do patrimônio construído há mais de 90 anos.
O principal questionamento da família é a informação repassada pela prefeitura sobre o tombamento das casas enxaimel.
“Pela casa Kohler, a prefeitura passa uma imagem que conserva as casas enxaimel, que ajuda os proprietários, mas isso não acontece. Nos passam informações erradas, não orientam. Tem muitos proprietários que gostariam de reformar as casas, mas precisam de ajuda e não sabem como fazer porque a prefeitura não orienta”, observa Tânia.
À reportagem de O Município, a Fundação Cultural de Guabiruba informou que as casas enxaimel continuam tombadas a nível municipal pela lei orgânica.
A superintendente do órgão, Jenifer Schlindwein, afirma que a atual gestão está em contato com outros modelos de execução da Lei Patrimonial Histórica e Cultural em municípios vizinhos.
Segundo ela, é necessário para dar procedimento nas demandas, um estudo mais aprofundado e diagnóstico preciso dos bens patrimoniais no município para a elaboração de um livro tombo (documento oficial e formal), que contenha todos os dados necessários.
“Posteriormente, a definição de parâmetros e critérios juntamente com uma comissão ou conselho, que analise qual patrimônio se enquadra em situação prioritária de respaldo e assistência”.
Ela explica que estas etapas são embasadas em metodologias e ferramentas utilizadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que é a autarquia federal responsável em orientar e assessorar as ações voltadas ao patrimônio.
“Como gestão podemos afirmar que é do interesse e pauta analisar e operacionalizar as questões provenientes da comunidade em relação a isso, dentro das condições e meios disponíveis atualmente”.
O prefeito Valmir Zirke confirma que a família buscou ajuda, entretanto, diz que esta não é uma questão simples. “O município nunca negou, mas primeiramente precisamos buscar recursos para isso. Hoje o município não tem dinheiro que possa ser destinado para esta finalidade. As casas continuam tombadas. É do nosso interesse manter e ajudar os proprietários, mas no momento, não temos como ajudar. A Fundação Cultural está avaliando qual a melhor forma de buscar esses recursos”.
Janine, que é engenheira civil, conta que a primeira reforma feita na casa, há 10 anos, não deu certo por uma série de fatores, entre eles, falta de mão de obra especializada e de materiais de qualidade.
“Não é todo mundo que consegue trabalhar com este tipo de construção. Demanda muito conhecimento em madeira e alvenaria, não demorou muito tempo para começar a aparecer os problemas. Fomos adiando a reforma ao máximo até chegar na situação de que se não reformasse, a casa iria cair”.
Toda a obra foi pensada para manter as características da casa mais original possível. O telhado foi todo refeito, as madeiras substituídas e a cor da casa também foi mantida a original. A única mudança foi no assoalho. A ideia da família era refazer todo o assoalho de madeira, conforme a construção original. Mas o valor ficaria muito alto.
A solução encontrada foi fazer a laje com revestimento de porcelanato semelhante a tábuas de madeira. “Conseguimos comprar o porcelanato em uma cor próxima ao angelim, que era o piso original e deu muito certo. Todo mundo que entra na casa acha que está pisando no assoalho mesmo, não percebem a diferença entre o piso e o rodapé, que é de madeira”.
Janine afirma que toda a reforma foi feita com o objetivo de manter a casa em boas condições por muitos anos. “Ficou muito melhor do que imaginávamos. Todo mundo que passa pela casa fica encantado”.