Família de Botuverá cultiva mais de dez alimentos e cria animais em área de cinco hectares
Café, beterraba, cenoura, alface, feijão, milho, uva e maracujá são apenas alguns dos produtos produzidos pela família Pedrini
Café, beterraba, cenoura, alface, feijão, milho, uva e maracujá são apenas alguns dos produtos produzidos pela família Pedrini
Era 1946 quando a família Pedrini comprou o terreno que se tornaria sua residência e seu sustento, em Ribeirão Porto Franco, Botuverá. Dois anos depois, nasceu Isaía José Pedrini, que cresceu no local, e ali também criou seu filho e suas duas filhas, com sua esposa Maria Josefina.
Hoje, aos 70 anos, Isaía se orgulha dos cinco hectares onde planta de tudo: café, beterraba, cenoura, alface, feijão, milho, uva, maracujá, laranja, batata, mandioca, couve, cebola, brócolis. É também onde seu filho Éder produz sucos integrais de maracujá e uva, além de vinhos branco e tinto, secos e suaves. É onde galinhas, gado e porcos dão ovos, leite e carne. É onde a família vive da terra.
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O pai de Isaía começou plantando milho, feijão e mandioca no local desde o início dos anos 40, e logo passou para a cultura do fumo, a principal força botuveraense antes da industrialização iniciada no fim dos anos 80. “Não havia outro meio de ganhar dinheiro. Paramos de plantar fumo só em 2001”, explica. A partir de então, começou o cultivo de uva, além de outras plantações e da granja. Éder e Isaía se referem à granja como “minigranja”, mas na verdade são cerca de 500 galinhas que põem aproximadamente 360 ovos por dia.
Atualmente, as plantações da fazenda são feitas praticamente para consumo próprio. O dinheiro é obtido através da venda de uva, vinhos, ovos, e do extrativismo do eucalipto, cujas árvores são sempre repostas para garantir o futuro dos cortes. Ainda assim, a madeira está desvalorizada. Ou seja, não são vendidas em grande escala, apenas para amigos e visitantes, a preço baixo, porque as exigências para comércio formal são rígidas. Hoje, a família tenta fazer o registro necessário, mas as taxas dificultam o progresso da ideia.
“O colono está fugindo porque com as burocracias e os processos que envolvem as vigilâncias, fica difícil vender algumas coisas. Cheguei a colocar alguns ovos para vender no mercado durante um tempo, como eles queriam. Acabou faltando um selo em cima da caixinha, e foi tudo descartado”, relata.
Por outro lado, com a evolução dos recursos, por exemplo, a safra é maior e melhor. Mais adubo e mais uso de maquinário agrícola causam maior rendimento. “Serviços que há anos eram feitos em um mês hoje podem ser feitos em uma semana”, conta Éder, hoje com 36 anos.
As visitas à propriedade são acompanhadas pelo labrador Panda ou pela labradora Clarinha, os cães da família Pedrini. Nunca pelos dois, que, juntos, brincam além dos limites e chegam até a aprontar certos delitos, como o abate de galinhas. Quando a reportagem do jornal O Município visitou as plantações e as criações, o cão solto da vez era o manhoso Panda, que gania um pouco a cada carinho ou brincadeira.
Rotina de muito trabalho
O dia começa com o tratamento de todos os animais. No meio do ano, os trabalhos começam por volta das 6h ou quando há luz solar suficiente. Atualmente, o foco está no preparo do solo para as uvas. “Não temos férias. Até podemos ter uma folga, mas não pode sair todo mundo junto, alguém tem que cobrir. É algo típico da agricultura. Não há sábado e domingo”, explica Eder.
Diversas verduras são plantadas no mesmo pedaço de terra, às vezes em fileiras alternadas. Foi um dos aprendizados obtidos em alguns cursos de capacitação de que Isaía participou. Com quase 20 vegetais diferentes sendo cultivados para consumo, a família nunca precisou ir à seção de hortifruti dos supermercados.
Parte do adubo é feito com o feijão mucuna, um tipo muito duro de feijão. Após plantado, ele é deixado para apodrecer, estruturar e nutrir o solo. “Com ele, se faz 80% do adubo. É muito interessante”, comenta Isaía.
Na parte pecuária, além das 500 galinhas que botam centenas de ovos diariamente, há também as galinhas para abate. Isaía também possui algumas cabeças de gado, das quais obtém carne e leite. Também são criados alguns porcos. Parte da produção de milho vai, evidentemente, para a alimentação dos animais.
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A propriedade seguirá nas mãos da família no futuro. Com filhos e netos sempre presentes, criados próximos da agricultura e da pecuária, o conhecimento é sempre transmitido, combinando a experiência com novas técnicas. “A gente tem muita experiência, e passa pra eles. E das coisas novas eles sabem bem.”
Os vinhos produzidos pela família Pedrini têm influência direta das raízes italianas da família. Tanto que Éder teve a oportunidade de estar na Itália através de um intercâmbio apenas para aprender mais sobre a produção dos vinhos. Além do curso na comuna de Conegliano, na região do Vêneto, ele fez outras capacitações nos municípios catarinenses de Agronômica e Urussanga.
Sem filhos e com quatro sobrinhos, Éder foi questionado se ele não se tornaria o “tio dos vinhos”, de quem os pequenos, quando crescessem, iriam buscar algumas garrafas para os festejos do futuro. A resposta foi bem humorada: “Tem o risco, este é o problema”, afirma.