Familiares relembram trajetória de Ginoca, conhecido pela alegria e pelo trabalho
Com uma carroça, ele transportava areia para construções do Jardim Maluche
Com uma carroça, ele transportava areia para construções do Jardim Maluche
Poucos lembram de Orgino Domingos Francisco, ex-morador da rua João Paulo Pinheiro, no bairro Jardim Maluche. Conversando com moradores atuais e fora do bairro, entretanto, é comum associarem memórias ao senhor falecido em dezembro de 2007 quando o apelido Ginoca é mencionado.
O tempo de convívio de Ginoca com a família é mantido na memória de quem conviveu com ele. Quando a família vendeu a fazenda, um terreno e uma casa foram doados para o então funcionário. Veronica Maluche Loos, 68, conviveu com ele durante boa parte da vida. Segundo ela, um café na casa onde morava a família era recorrente nas visitas a fazenda. Na época, família de Ginoca era uma das três famílias negras que residiam em Brusque.
A proximidade a levou a ser madrinha Cipriano, um dos filhos de Ginoca. Verônica lembra dos cumprimentos que ele gritava a comadre, ao passar pela casa onde ela morava com sua carroça. “Era uma pessoa de bem, sempre rindo e que educou seus filhos. Todos respeitavam e quem conheceu tem muitas saudades dele.”
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A origem da família era humilde e a educação escolar de Ginoca era limitada. Não sabia assinar o nome, mas tinha domínio dos cálculos com dinheiro, segundo lembra a filha Lúcia Cripriani, 63 anos. Foi a habilidade e o modo de tratar as pessoas que fizeram a venda de areia e barro, transportados com uma carroça, ter ajudado a criar os sete filhos.
Ginoca deixou a escola ainda criança para ajudar os pais na lavoura. Segundo a filha, ele nasceu em Tijucas, em 1920, e uma oportunidade para o pai trabalhar na empresa ferroviária trouxe a família para o limite entre os bairros Limoeiro, em Brusque, e Brilhante, em Itajaí. Aos 10 anos já trabalhava para Antônio Maluche, ajudando na fazenda da família Maluche, no bairro Limoeiro. Na época, cuidava dos animais e fazia o manejo das plantações de arroz e laranjas.
Após o casamento e uma estadia no bairro Guarani, voltou para o bairro Limoeiro, e trabalhou por mais de uma década na Fazenda. Desta vez, foram 14 anos trabalhando para Bruno e Oscar Maluche. Só saiu do local para morar no bairro que leva o nome da família, onde passou a utilizar uma carroça para comercializar areia para as construções da cidade.
Dedicação em família
Mesmo com as limitações e dificuldade, Lúcia destaca o empenho do pai em suprir as necessidades da família. “Se ele ou minha mãe fossem pessoas acomodadas, teríamos passado fome. Eles passavam das 6h até a noite.”
A professora descreve Ginoca como uma pessoa batalhadora e que se orgulhava de ver os filhos se dedicarem na escola. Além dela, uma irmã também seguiu profissão ligada à educação.
Ela e os irmãos começaram a trabalhar desde jovens, para complementar o orçamento da família. Destaca o empenho dos pais em educar os sete filhos e garantir que tivessem acesso a educação e oportunidades.
Alegria como marca
As memórias da infância e juventude de Lúcia também tem espaço para as comemorações que a família organizava, muito por incentivo de Petrolínea, sua mãe, falecida em 1987. Ela costumava organizar festas junina, festejos de carnaval para a família e festas de Terno de Reis pelo interior do bairro Limoeiro.
Os eventos em casa eram anuais e o rádio era usado para animação das festas. Familiares como os avós e tios vinham para a casa para aproveitar as comemorações. Em uma época que o Carnaval em Brusque ocorria em clubes, em algum dos desfiles ele foi chamado por amigos para desfilar.
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Para ela, a facilidade que o pai tinha de se relacionar com as pessoas é responsável pelo carinho e lembranças expressos no seu dia a dia. Ele chegou a ser homenageado em diferentes atividades, como um boneco gigante e na comemoração dos 100 anos da comunidade do bairro Limoeiro. “Ele era uma pessoa muito honesta e respeitadora, sempre alegre”.
Referência
A neta de Ginoca, Tatiane Francisco de Mendonça, 33, conviveu com o avô do nascimento até ele falecer por problemas de saúde, quando ela tinha 22 anos. Recorda dos almoços organizados por ele como forma de reunir a família e da fé que ele mantinha na sua rotina.
Segundo ela, até hoje a casa da família é um ponto de referência para quem vive no entorno, muito devido ao reconhecimento que o avô conquistou ao longo da vida. “Basicamente, ele ajudou a construir o bairro Maluche”.
Outra lembrança marcante para ela era carroça usada para o trabalho e locomoção de Ginoca. Foi com ela, que ele a levava e buscava para a escola durante a infância. Um dos hábitos dele, afirma, era distribuir doces para as crianças do local. A popularidade da figura do avô, da carroça e das mulas era tanta, que a escola chegou a organizar um passeio com os estudantes.