Fanfarras escolares são uma tradição em declínio em Brusque
Atualmente, apenas duas funcionam na rede municipal, mas secretaria quer investir na área
Atualmente, apenas duas funcionam na rede municipal, mas secretaria quer investir na área
Brusque tem uma longa história com as fanfarras escolares. Por anos, eram tradicionais, desfilavam no dia 4 de agosto e levavam o nome da cidade para o restante do país em campeonatos. Mas isso tudo ficou no passado e hoje o som das bandas marciais e de percussão ressoa baixinho.
Atualmente, somente duas escolas mantém fanfarras na rede municipal: Escola de Educação Fundamental (EEF) Paquetá e a EEF Poço Fundo. Outras tradicionais foram desativadas, principalmente, em 2017.
O término das bandas está diretamente ligado à política nacional. Em meados de 2017, o governo de Michel Temer resolveu remodelar o programa Mais Educação, que repassava dinheiro diretamente para as escolas para aulas no contraturno escolar.
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Como as fanfarras funcionavam no contraturno escolar, foram afetadas. A fonte de dinheiro para pagar maestros ou monitores secou, e com isso as fanfarras foram sendo desativadas uma a uma.
Foi isso que aconteceu, por exemplo, com o grupo da Escola de Educação Básica (EEB) João Hassmann, no Guarani. A diretora Sandra Regina Aguiar conta que o fim do Mais Educação foi determinante para o fim do projeto.
A diretora lamenta que a fanfarra tenha acabado porque sempre havia procura dos alunos para participar.
Assim como a do João Hassmann, outras fanfarras reconhecidas acabaram. A da escola José Vieira Côrte, no Santa Luzia, tem uma trajetória de sucesso.
A fanfarra começou em 2015 como um projeto de atividades no contraturno. O início foi difícil e precisou de ajuda e doações de várias pessoas, mas se consolidou e ganhou vários títulos importantes.
O último deles foi em setembro de 2017, quando venceu o 10º Concurso Sulbrasileiro de Bandas e Fanfarras (Confabansul), em Pouso Redondo, Alto Vale do Itajaí, e se classificou para o 24º Campeonato Nacional de Bandas e Fanfarras, que ocorreu em Sergipe, mas não participou.
Apesar do sucesso e do resultado, a fanfarra foi desativada. Ainda no mesmo ano, a fanfarra fez uma campanha para arrecadar dinheiro para ir ao campeonato estadual, fato noticiado por O Município, mas não alcançou o objetivo.
A Banda de Percussão Marcial da Escola de Ensino Fundamental Professora Augusta Knorring, do Cerâmica Reis, é outra história de sucesso que foi desativada.
A fanfarra representou Brusque no Concurso Interestadual de Fanfarras e Bandas (Cinfaban), que ocorreu em agosto de 2015, na cidade de Porto União, Planalto Norte do estado, e fez bonito ao ficar em primeiro e garantir o bicampeonato.
Sobreviventes e retomada
A história da banda escolar da José Vieira Côrte é também sinal de que a realidade pode mudar. Andreia Sgrott, diretora da escola, diz que existe o planejamento para que as atividades musicais voltem a ocorrer em 2019.
São planos que dependem de vários fatores, mas é uma indicação positiva para uma das fanfarras mais vitoriosas dos últimos anos no município.
Enquanto muitas escolas desativaram os grupos com o fim dos repasses federais, duas unidades “se escaparam”. A Banda de Percussão Marcial Paquetá continuou a funcionar.
Luana Peixer foi contratada como funcionária temporária, com 20 horas semanais, para a função de regente no meio de 2018. Ela ficou na função até o fim deste último ano letivo e para voltar precisará fazer o processo seletivo novamente.
A banda tem 45 integrantes, entre corpo coreográfico, coral e percussão. É a maior da rede municipal. A regente destaca a rotina de ensaios semanais e diz que o projeto é muito importante para ela.
A Banda de Percussão Marcial da EEF Poço Fundo ainda funciona graças ao trabalho voluntário de Maicon Torresani, que está no projeto desde o início, em 2015. Mesmo depois do fim do Mais Educação, ele permaneceu por amor ao grupo.
A diretora Rosania Carminati explica que Torresani chegou a sair por um período, por opção do antigo diretor, mas voltou assim que ela assumiu o cargo. Para a educadora, a banda é fundamental.
“Vemos a diferença na sala de aula”, afirma. Os alunos ficam mais calmos, disciplinados e concentrados com a banda. São 46 alunos do 4º ao 9º ano e sempre tem procura, segundo a diretora Rosania.
Em março de 2016, com o dinheiro do governo federal a custear as fanfarras em 11 escolas, a Prefeitura de Brusque chegou a criar um projeto municipal. Seria uma Banda Marcial Municipal.
Na época, a prefeitura informou que devido ao grande número de fanfarras, distribuiria-as em três grupos para os ensaios, que seriam coordenados pelo professor Gilsenei Lopes.
Do primeiro polo faziam parte as Escolas de Ensino Fundamental (EEF) Professora Augusta Knorring, Lions Clube Companheiro Oscar Maluche, Professora Georgina de Carvalho Ramos da Luz e a Escola de Educação Básica (EEB) João Hassmann. Já o segundo polo era formado pelas EEF Paquetá, Professora Isaura Gouveia Gevaerd e Padre Luiz Gonzaga Steiner. As EEF Poço Fundo, Alberto Pretti, Professor José Vieira Côrte e Professora Augusta Dutra de Souza integraram o terceiro polo.
A Secretaria de Educação informa que o projeto terminou porque o dinheiro do governo federal deixou de ser enviado em meados de 2017.
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Retomada
A secretaria afirma que “estimula a criação de fanfarras” por iniciativa das escolas. A pasta destaca os trabalhos que já são realizados no município.
O coordenador-geral da Fundação Cultural de Brusque (FCB), Igor Alves Balbinot, diz que a intenção é contar com um maestro no quadro em 2019 e criar uma orquestra municipal.
As fanfarras serão importantes para selecionar os integrantes desta orquestra do município, de acordo com Balbinot.