Grande Imigração Italiana teve impactos permanentes em Brusque e região
Legados culturais são vistos hoje nos diversos municípios que constituíam a Colônia Itajahy a partir de 1875
Legados culturais são vistos hoje nos diversos municípios que constituíam a Colônia Itajahy a partir de 1875
Apesar de não ter sido pioneira, a Grande Imigração Italiana em Brusque foi decisiva na formação sociocultural da região. Os imigrantes que chegaram à Colônia Itajahy a partir de 1875 encontraram os alemães que já habitavam o local mais de uma década antes. E, em 1869, já havia ocorrido o primeiro ciclo de imigração polonesa. Ainda assim, a chegada dos italianos e tiroleses de língua italiana teve impacto importante no que passou a ser desenvolvido como o município de Brusque e sua cultura.
“A contribuição dos italianos não pode – e nem é – diminuída, considerando que há muitos representantes seus nas mais diversas áreas de atuação: da política até a comunicação social, a educação até a literatura e a cultura popular, do comércio e da indústria até o setor de serviços, chegando aos novos tempos com os avanços tecnológicos”, explica o escritor brusquense Saulo Adami.
“Os italianos trouxeram o catolicismo, presença forte no seu país de origem, e que ainda tem sua força e influência. Trouxeram sua culinária tão apreciada até hoje”, complementa.
Famílias como Archer, Battisti, Voltolini, Tomasi, Maffezzolli e Tridapalli, entre outras, se estabeleceram em Brusque e região, integrando-se totalmente ao município e complementando a sociedade em diversos estabelecimentos, com destaque para comércio e serviços.
Grupos culturais dedicados ao resgate e à preservação da cultura estão presentes em Brusque. O dialeto trentino, os cantos, as vestimentas típicas e as danças típicas são estudados e preservados, com ensaios e apresentações em diversos eventos e solenidades. O Circolo Trentino di Brusque, fundado em 2001, é protagonista neste papel.
O grupo realiza o Dia do Tortéi, com a venda do tradicional prato italiano para a comunidade em geral. Em 2025, o evento foi realizado em 12 de abril, na Comunidade Santa Rita.
O Gruppo di Canto Degli Amici Trentini, vinculado ao Circolo, se dedica ao canto coral, focado na tradição musical da região de Trento. Aulas do idioma italiano são oferecidas à comunidade.
A associação também mantém contato com descendentes de trentinos ao redor do mundo. “Ao longo dos anos, também realizamos a assessoria para mais de 1 mil pedidos de cidadania italiana”, afirma a presidente do Circolo, Valdete Gianesini.
Botuverá é um município com enorme preservação de elementos culturais italianos. Os primeiros imigrantes chegaram ao território do atual município em maio de 1876, e o núcleo formado foi principalmente daqueles provenientes de Bergamo, na Lombardia: os bergamascos. Outros grupos também se estabeleceram, com minorias tirolesas (trentinas) e até polonesas.
A identidade bergamasca é muito forte, e vista, por exemplo, na preservação do dialeto bergamasco, ainda que com as transformações de outras influências ao longo do tempo. Era por meio deste dialeto que muitos de seus habitantes se comunicavam ao longo do século XX, enquanto o português era aprendido apenas nas escolas. E até mesmo o dialeto tirolês ainda tem falantes em Botuverá.
Grupos culturais realizam trabalho de resgate, difusão e preservação da cultura e da memória italiana em Botuverá. A Festa Bergamasca é um evento tradicional botuveraense, com este objetivo. Jogos e brincadeiras populares, típicos da cultura bergamasca, seguem sendo praticados. A mora e a briscola, por exemplo, são modalidades oficiais dos Jogos Comunitários de Botuverá.
Guabiruba pode ter a cultura alemã como principal marca, a partir do Pelznickel, da Maibaum e de outros elementos culturais, mas os trentinos deixaram marcas. Em suas pesquisas, o padre e pesquisador Eder Cláudio Celva reforça que os imigrantes que chegaram a Guabiruba eram trentinos, os “austríaco-tiroleses de língua italiana”. Eles receberam seus lotes no que hoje é conhecido como o bairro Lageado Alto. Plotegher, Tomasi, Martinelli, Coraiola, Stedile, Zencher, Dalbosco e Minati foram famílias que ocuparam as primeiras áreas, conforme as pesquisas de Celva.
“Até hoje o Lageado Alto é conhecido como a colônia italiana de Guabiruba. Porém, durante a história da imigração, outros imigrantes também foram para outros bairros. Hoje temos a presença de descendentes italianos por toda a cidade, por resultado da imigração ou apenas da migração interna”, relata o presidente da Associação Cultural Italiana de Guabiruba (Acig), Amilton Stedile.
Entre os principais legados da Grande Imigração Italiana em Guabiruba está a religiosidade. “A primeira ação que os imigrantes tiveram após se instalarem em Guabiruba foi a de construir um pequeno oratório para prática da sua fé. Assim como os alemães, os italianos tiveram grande importância na construção da fé católica na cidade de Guabiruba, tanto na construção de edifícios, igrejas, cemitérios e oratórios, quanto na evangelização pastoral”, complementa.
Os descendentes italianos herdam outros costumes, como a gastronomia. Pratos como a polenta são extremamente populares. O jogo da mora, a dança folclórica e as músicas persistem em Guabiruba até hoje. Eventos como a Sfilata del Vino e a Festa Italiana são marcos importantes do legado imigrante.
Desde 2009, o Memorial Ítalo-Guabirubense Sacristão Francesco Celva, localizado no bairro Lageado Alto, preserva parte da história da imigração.
Ainda que os trentinos que chegaram à região no tempo da Grande Imigração Italiana tivessem nacionalidade austríaca, a identidade e a cultura reivindicadas pelos descendentes ao longo de décadas têm tudo a ver com a Itália.
Em Nova Trento, são cultuadas as tradições, costumes, gastronomia e a religiosidade, com a identidade italiana facilmente notada por todo o município e a presença de fortes grupos de preservação da cultura e eventos. É considerada a Capital do Turismo Religioso de Santa Catarina, com o famoso Santuário Santa Paulina e o Santuário Nossa Senhora do Bom Socorro.
O bairro Barracão, de Gaspar, tem este nome diretamente relacionado à Grande Imigração Italiana. Um barracão de imigração foi construído no local para receber os italianos. “O barracão foi construído na área central do bairro, na atual escola Marina Vieira Leal”, explica a professora e pesquisadora Leda Maria Baptista no segundo episódio do Momento Histórias de Gaspar, da TV Gaspar.
Os bairros em que se estabeleceram os imigrantes são situados no sul de Gaspar: Óleo Grande, Barracão, Bateia, Gasparinho Baixo, Gasparinho Central e Alto Gasparinho.
A Villa d’Itália é um roteiro turístico em Gaspar que inclui gastronomia italiana e religiosidade, além de pousada e hotel fazenda.
Os hábitos alimentares do imigrante de origem italiana incluíam pão, massas, vinho e queijos. A polenta era incluída principalmente nas refeições dos austríaco tiroleses de origem italiana e dos provenientes do norte da Itália.
O contexto da imigração causou alterações na dieta e nos alimentos disponíveis. O pão de farinha de trigo foi substituído por pão à base de farinha de milho, cará, aipim, ou batata-doce. Sem o cultivo do trigo, a farinha precisava ser comprada, e acabava ficando, geralmente, para datas especiais.
O vinho nas refeições do dia a dia também acabou perdendo espaço, sem o cultivo da uva. Foi encontrado um substituto no café.
A polenta permaneceu forte na cultura imigrante, por conta do acesso relativamente facilitado ao milho e seu cultivo. Cozida no “parolo”, sobre um fogão a lenha, a polenta chegava a ser consumida em todas as refeições diárias, com acompanhamentos que podiam incluir vegetais, molhos e ovos.
Estes hábitos perduram até hoje nas famílias de origem italiana e na culinária brusquense. A polenta é servida em diversos restaurantes, o pão caseiro de diferentes famílias é presença frequente nas refeições, e o café ultrapassa a italianidade, sendo um hábito brasileiro. O vinho, de difícil acesso à época da imigração, passou a figurar nas famílias descendentes, tanto no consumo quanto na produção por meio das vinícolas locais.
O próprio nome Brusque tem origem italiana, ainda que sem relação alguma com a Grande Imigração iniciada em 1875. Francisco Carlos de Araújo Brusque, político que dá nome ao município, era descendente da nobreza italiana, da família Bruscchi, estabelecida em Portugal. Seu pai acompanhou a vinda da Família Real Portuguesa em 1808.
Brusquense, Ivete Appel foi escolhida Brotinho do Mês do Carlinhos Bar nos anos 60: