Quando a gente pensa no período de tempo contido em quarenta anos, dá uma vertigem. É muito tempo. Quatro décadas. Outro século! Nessa aceleração constante tecnológica e cultural que vivemos, é quase uma outra era. Só que não.
Já passamos pelo mesmo espanto ao analisar a produção cinematográfica de 1967. E agora, depois de rever (com muito prazer!) a música de 1977, chegou a vez dos filmes que ficaram na História.
Eu gosto de começar pelo filme que foi escolhido o melhor do ano pela Academia, o ganhador do Oscar. Mas, em 1977, não tem como estabelecer qualquer hierarquia que não comece por…
Star Wars
1977 foi o ano de Guerra nas Estrelas. Não é todo dia que vemos o nascimento de toda uma mitologia universal, super complexa e duradoura, que se tornou parte das nossas referências pop. O capítulo quatro da saga, primeiro a ser lançado, fez jus à visão de George Lucas, mesmo com as enormes limitações que os efeitos especiais ainda tinham.
A quantidade de personagens que permaneceram queridos (e lucrativos) por todos esses anos é de cair o queixo… E o que dizer da capacidade da saga de criar novas histórias, novos mundos, novos heróis e vilões? Lucas não precisaria ter feito mais nada na vida e já teria seu lugar garantido entre os gênios do cinema. Depois disso, a força sempre esteve com a gente.
Contatos Imediatos do Terceiro Grau
Se George Lucas é um gênio… o que dizer de Spielberg? Ele já tinha mostrado o tamanho de sua visão pop em 1975, com o sucesso de Tubarão (e em 71, com Encurralado, que não dá para deixar de lado). Mas em 1977 ele lançou seu filme mais… típico. Fantasioso, otimista, levando a crença em OVNIs e Ets a um nível poético impossível de esquecer.
Talvez não seja coincidência que tanto Guerra nas Estrelas quanto Contatos Imediatos tenham suas trilhas compostas por John Williams. Ambas perfeitas, inesquecíveis e parte fundamental da experiência oferecida pelos filmes.
Já podemos chamar os meados dos anos 70 de era de outro dos filmes de ficção científica? É claro que, com o avanço da tecnologia, os delírios foram sendo mais fáceis de capturar na câmera. Mas, se a gente parar para prestar atenção, talvez as próprias limitações obrigassem os produtores inteligentes a centrar a força nos roteiros. Hoje vemos muito filme que se esconde atrás dos efeitos digitais, em uma tentativa de nos encantar e distrair. Muitas vezes, dá certo.
O ano tem mais filmes na linha sci-fi – e a gente vai chegar neles semana que vem. Mas agora, vamos a ele. O filme com o pior título brasileiro de todos os tempos.
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa
Feliz daqueles que tiveram o prazer de assistir Annie Hall no cinema, na época, com informação bastante limitada sobre Woody Allen. Não há experiência melhor do que se apaixonar pela linguagem, pelo estilo do diretor assim, de primeira. Se bem que, vindo de suas comédias iniciais (Bananas, Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo Mas Tinha Medo de Perguntar, O Dorminhoco, etc), mesmo cinéfilos experientes se surpreenderiam com o filme de 1977. A partir daí, o estilo de Allen estava definido, só restando refiná-lo eternamente, quase sempre com resultados excelentes. Annie Hall é um prazer obrigatório, que se segura mesmo quarenta anos depois.
Sobre o título, sobrou na minha memória a melhor definição, que li em uma resenha da época: ele pode ser neurótico e ela com certeza é nervosa… mas eles decididamente não são noivos. Eu completo: tem um ranço conservador nesse título, que o filme não merece.
A partir dessa trinca, o ano se abre para muitas outras possibilidades. Que tal completar o top 5 com um drama e uma aventura?
Julia
Esse foi outro caso de sair do cinema com o queixo caído. Com a história, com as atuações, com a reconstituição histórica, com a delicadeza total do filme. A memória real de escritora Lillian Hellman (interpretada por Jane Fonda) caía como uma luva para quem, mesmo bem longe dos anos 30, existia sem ter a mais ampla visão da época em que vivia. Impossível não se apaixonar para sempre pela atriz monstruosa que é Vanessa Redgrave.
Agarra-me Se Puderes
No avesso da profundidade de Julia, entra aqui uma aventura cômica despretensiosa que ganhou rapidamente o status de cult, sendo citada em muitos outros filmes. Smokey and the Bandit. O clichê “mocinhos malandros versus polícia maléfica” funciona maravilhosamente bem. É um dos papeis mais icônicos de Burt Reynolds (que era noivo de Sally Field, na época).
E tem mais semana que vem!