Embora o município de Guabiruba tenha sido emancipado há 54 anos, alguns moradores que residem em bairros próximos a Brusque ainda se expressam como se os locais pertencessem ao território brusquense. Edinalte Elias de Souza, por exemplo, mesmo morando no bairro São Pedro, geralmente diz “tenho que ir para Guabiruba” quando precisa se deslocar à área central do município.
O motivo, explica o professor aposentado de 74 anos, deve-se à forte ligação entre o bairro e Brusque – na região, a rua São Leopoldo divide os dois municípios -, sobretudo no período anterior à emancipação de Guabiruba. Quando Souza mudou-se para o São Pedro, um ano após a emancipação do município, os moradores do bairro ainda se deslocavam até Brusque para fazer compras e demais tarefas.
A ligação era tão forte que, logo após a independência guabirubense, os moradores do São Pedro criaram um abaixo-assinado para que a região voltasse a pertencer a Brusque. A manifestação, a rebeldia e as assinaturas do grupo, entretanto, não surtiram efeito e o bairro continuou a pertencer ao território de Guabiruba.
O professor aposentado conta que, por volta de 1968, outra manifestação também movimentou o São Pedro. Dessa vez, o propósito central era a mudança de nome do bairro. Alguns moradores exigiam que o São Pedro se chamasse Karlsdorf em homenagem aos imigrantes alemães originários da região de Karlsruhe, localizada no estado de Baden-Württemberg.
Assim como o primeiro abaixo-assinado, o segundo também não surtiu efeito. Este, porém, devido à negação da maioria dos moradores, que optaram por permanecer sob o nome de São Pedro. Em relação à denominação, antes da emancipação guabirubense, o professor aposentado afirma que a região se chamava Peterstrauss.
“Antigamente era chamado em alemão de Peterstrauss, que significa a rua do Pedro. Isso porque diziam que um tal de Pedro começou a explorar essa região. Apenas depois da emancipação virou São Pedro”, conta.
Cultura europeia
Colonizado por imigrantes alemães, o São Pedro respirava a cultura do país europeu na década de 40. Quando as primeiras famílias se instalaram no local, o idioma era, quase em sua totalidade, o alemão. Souza lembra que sua sogra, também moradora do bairro na época, comunicava-se apenas em alemão.
“O meu sogro até falava um pouco de português. Mas os mais idosos falavam apenas em alemão. Naquela época, as crianças já evitavam de falar o alemão, já não se sentiam bem falando alemão. Iam para a escola, e lá só falavam em português. Hoje em dia aqui no São Pedro não se fala mais alemão, já se perdeu”, diz.
Quando ele mudou-se para o bairro, cerca de 300 famílias habitavam o São Pedro. Naquela época, sobrenomes como Gartner, Kohler, Püller, Missfeldt, Fischer, Albrecht e Habitzreuter eram os mais comuns na região. No entanto, embora as famílias de origem alemã predominassem, havia também algumas famílias de origem italiana (Angioletti e Carminatti) e uma de origem polonesa (Kisinski).
Hoje, o bairro conta com três localidades: Alsácia, Lorena e Holstein. O pesquisador Roque Dirschnabel explica que a Lorena e a Alsácia foram nomeadas assim devido à origem dos imigrantes alemães. Ele conta que Lorena e Alsácia eram localidades povoadas por grupos germânicos que, após a redivisão da Europa, começaram a pertencer à França. O mesmo se aplica para o Holstein, que ganhou o nome em razão dos imigrantes oriundos da localidade de Schleswig-Holstein, na Alemanha. Atualmente, o Schleswig-Holstein é um dos 16 estados do país.
Comércio de tapetes
Na década de 70, para incrementar a renda mensal, muitos moradores do São Pedro começaram a fabricar tapetes. Para a fabricação, conta Souza, eles compravam um tear manual e, em casa, trabalhavam na criação das tapeçarias. A atividade tornou-se febre até mesmo entre as crianças.
“As crianças também trabalhavam. E elas gostavam bastante. Eu mesmo tive de comprar para os meus filhos. As crianças se divertiam e ganhavam um dinheirinho também. Era muito comum naquela época”, explica.
O professor aposentado conta que a comercialização dos tapetes baseava-se no fornecimento das peças para a fábrica de tapetes Silveira, na época localizada na rua São Leopoldo, em Brusque. Segundo Souza, os responsáveis pela empresa traziam os retalhos e os demais materiais para a produção e, depois de finalizados os tapetes, eles retornavam para buscá-los.