História de fundação: Parte III
A conversão do diretor
No início de 1868, padre José Lazenby, SJ, professor no Colégio Santíssimo Sacramento, na capital da Província de Santa Catarina, apresenta-se na Colônia Imperial Príncipe Dom Pedro. De nacionalidade irlandesa, padre Lazenby buscou “melhorar os costumes e o sentimento religioso dos colonos”, informa Aloisius Lauth.
Observando os efeitos benéficos da atuação do sacerdote, Cottle solicita ao Presidente da Província a permanência de Lazenby até a chegada de um capelão da Inglaterra. Como nas solicitações anteriores, os burocratas da capital rejeitaram o pedido.
Integrante da Companhia de Jesus, padre Lazenby conquista a confiança e a amizade do diretor Cottle. Em clima de júbilo, Barzillai Cottle torna-se católico romano na manhã de 11 de fevereiro de 1868. Na confissão sacramental de Cottle, Lazenby é assistido pelo padre Alberto Gattone.
Influência católica
Ayres Gevaerd, em Fragmentos da História de Brusque, informa que “em 12 de fevereiro de 1868, o diretor Cottle oficia ao Ministério da Agricultura, elencando as inconveniências de serem introduzidos novos colonos ingleses e norte-americanos nos moldes em que vem atuando a Agência de Imigração do Império”. No documento citado por Gevaerd, Cottle menciona que “dos 75 colonos recém-chegados, somente dois possuem bagagem”. Escrito em inglês, o documento apresenta a benéfica influência do clero católico. Afirma que “somente colonos católicos da Inglaterra e da Irlanda seriam desejáveis e aptos para as colônias imperiais brasileiras”.
Por iniciativa de Cottle, os padres Gattone e Lazenby são indicados diretores substitutos das colônias, em 20 de março de 1868.
Instabilidade
Após divulgada a notícia de que Cottle seria substituído por algum alemão, 113 colonos de língua inglesa redigem um abaixo-assinado ao presidente de Província, em 15 de janeiro de 1868, solicitando a permanência do diretor Cottle. Foram sete os itens elencados para justificar o pedido.
Afirmavam que possuíam “inteira confiança em sua (de Cottle) capacidade e disposição para cumprir os deveres de seu cargo”. Informaram que Cottle conhecia seus hábitos e costumes, pois também era inglês, que o diretor procedia com justiça e integridade, quer para com o Governo, quer para com os colonos. Entendiam que a presença do dr. Barzillai era necessária, pois “nossas fortunas acham-se ligadas a ele pessoalmente”. Os colonos enfatizaram “os árduos e incansáveis esforços (de Cottle) em promover a prosperidade da Colônia, a sua conduta urbana, justa e firme para com todos, pela qual tem angariado o maior respeito e estima da maioria dos colonos. O documento é finalizado com a afirmação de que “não podemos voluntariamente sujeitar-nos a vê-lo privado dos benefícios provenientes dos seus grandes esforços em bem nosso”. O governo provincial ignorou o abaixo-assinado.
Apesar do empenho do diretor Cotte, as dificuldades foram muitas. Um grupo de influentes alemães da colônia Itajahy busca o afastamento do “diretor yankee”, através de inúmeras artimanhas. Apresentam várias acusações contra a administração do dr. Barzillai, que deixa a direção da Colônia Imperial Príncipe Dom Pedro e da colônia Itajahy em 20 de março de 1868. Como substituto assumiu o professor Borrowsky que, em 17 de abril, entregou o cargo ao barão Frederico von Klitzing. Em setembro do mesmo ano, Dr. Barzillai Cottle transfere-se para New Orleans, nos Estados Unidos.
Nomes célebres
Alguns imigrantes possuíam nomes hoje famosos, como:
John Kennedy, Francis Clinton, James Stuart e Martin Fleming.
O levante dos colonos
A Guerra do Paraguai reduziu significativamente os recursos a serem investidos nas colônias imperiais, gerando o descumprimento de parte das promessas do governo brasileiro. E às 11 horas de 17 de setembro de 1868, um sucessor de Cottle na administração da Colônia Imperial Príncipe Dom Pedro, Elpídio de Melo, foi surpreendido por um grande número de pessoas que ocuparam a sede da Colônia, na confluência do ribeirão Águas Claras com o rio Itajaí Mirim. Empunhando três bandeiras norte-americanas e faixas, ao som de um pífano, entoavam uma canção “yankee”. O diretor Elpídio utilizou de toda diplomacia para evitar o derramamento de sangue. A situação social havia chegado ao extremo da intranquilidade.
Reivindicavam o pagamento dos serviços que haviam prestado ao governo. As dificuldades geradas pela Guerra do Paraguai, o desconhecimento de práticas agrícolas adequadas à região, o acidentado relevo da maioria dos lotes coloniais, os conflitos étnicos com os alemães da colônia Itajahy e outros fatores determinaram a saída da quase totalidade dos imigrantes de língua inglesa da região. Quando da criação do Município de São Luiz Gonzaga (hoje Brusque) ainda estavam estabelecidos na região oito famílias de língua inglesa.
Os pioneiros poloneses no Brasil
O êxodo dos colonos de língua inglesa da Colônia Imperial Príncipe Dom Pedro é constante em 1869. Causou forte impacto na Província a saída do grupo integrado pelo mexicano Alberto Pinzon e sua esposa e dos ingleses Margareth Boewen, Catharina Connely e Patrick Fitzgerald, para destino ignorado pelas autoridades.
Então imigrantes de outras nacionalidades passaram a ser encaminhadas pelo Poder Público para a Colônia Imperial Príncipe Dom Pedro. Assim chegaram os 94 primeiros poloneses que emigraram para o Brasil: as 16 famílias originárias da aldeia de Siolkowice, da Alta Silésia, região que se encontrava sob o domínio da Prússia, em agosto de 1869. Foram recepcionados pelo Diretor da Colônia, Barão Friderich von Klitzing. Para instalar os pioneiros poloneses no Brasil, Klitzing solicitou recursos da ordem de 7:894$500. Os poloneses foram estabelecidos na linha intermediária de Sixteen Lots, na região do ribeirão Cedro Grande e ribeirão do Ouro. “A denominação da linha colonial recorda o número de lotes medidos, totalizando 16 áreas agrícolas”, informa o escritor Aloisius Lauth.
No primeiro ano de colonização polonesa na Colônia Imperial Príncipe Dom Pedro, chegaram 146 imigrantes. De agosto de 1869 a setembro de 1871, foram batizadas 6 crianças pelo padre Alberto Francisco Gattone.
O primeiro batizado de poloneses:
“Certidão de Nascimento – No dia 14 de novembro de 1869 baptizei e puz os santos óleos à innocente Izabela Kokot nascida no dia 12 de novembro de 1869 na Colônia Príncipe Dom Pedro, filha legítima de Philippe Kokot e de Izabella Gebur, neto paterno de Jacob Kokot e de Agnes Kannia, neta materna de Johann Gebur e de Francisca Pampuok, erão padrinhos Thomas Sinovski e Justina Prudlo, in fide parochi o Pe. Alberto Francisco Gattone, 14 de novembro de 1869” (in livro dos Batizados: Brusque 1869/1876 – registro número 55, página 11. Pesquisa efetuada pela escritora Maria do Carmo Ramos Krieger Goulart).
Administração unificada
A Colônia Imperial Príncipe Dom Pedro foi unificada administrativamente à Colônia Itajahy em 6 de dezembro de 1869. No ano da unificação administrativa das referidas colônias, a Colônia Itajahy contava com uma população estima de 1.673 habitantes e era governada pelo Barão von Klitzing. Os poloneses, entrados a partir de 1869, tentaram se estabelecer, apesar das dificuldades encontradas para o cultivo da terra e a falta de assistência governamental.
A gestão das colônias imperiais PRÍNCIPE DOM PEDRO, margem direita de Brusque, Botuverá, Vidal Ramos, Nova Trento, atingindo até a localidade do Krecker, em São João Batista, e ITAJAHY, margem esquerda de Brusque e Guabiruba, é unificada em 6 de dezembro de 1869.
O primeiro óbito registrado entre os poloneses ocorreu um ano e dois meses após a chegada dos pioneiros. Padre Alberto Gattone, capelão da colônia Itajahy e Príncipe Dom Pedro, no “Livro para os assentamentos da pessoas falecidas na Colônia”, assim fez o registro: “No dia 11 de outubro faleceu na Colônia Príncipe Dom Pedro o innocente João Otto em idade de um anno e cinco mezes, em consequência duma constipação, e foi enterrado no dia 12 de outubro de 1870, no cemitério dos Polacos na dita Colônia. O fallecido é filho legítimo de Simão Otto e de Rosália Gabriel, infide parochi Pe. Alberto Francisco Gattone. Em 13 de outubro de 1870”.
Paulo Vendelino Kons, 47, é o presidente da Comissão Organizadora da celebração do sesquicentenário de fundação da Colônia Imperial Príncipe Dom Pedro