Ícone no vôlei de praia brusquense, Piluca encerra carreira e foca em recuperação do joelho
Jogadora frequentou pódios dos Jogos Abertos de Santa Catarina e diversas competições estaduais por quase 30 anos
Jogadora frequentou pódios dos Jogos Abertos de Santa Catarina e diversas competições estaduais por quase 30 anos
Marilena Mattioli dos Santos Paiva, a Piluca, reconheceu, em 2023, aos 55 anos, o fim de uma vasta carreira no vôlei de praia. A brusquense relata que só parou devido ao desgaste na cartilagem do joelho, ocorrido sem graves lesões ao longo de sua trajetória. Foram 28 anos nas areias, frequentando pódios e visitando incontáveis cidades nas mais diversas competições por Santa Catarina.
Piluca acredita que a pandemia de Covid-19 acabou impulsionando o momento de parar. Sua lesão ficou mais evidente em 2021. Hoje o foco está na recuperação com fisioterapia. Vovó coruja, também quer aproveitar todo o tempo possível para curtir os netos.
Ao vôlei de praia, Piluca diz “adeus” sem total convicção, como se quisesse dizer um “até logo”, com objetivo de retornar a qualquer momento. A ideia nunca foi parar, e parece ainda estar sendo assimilada pela atleta que representou Brusque por tantos anos. Em uma tarde nublada no Clube Esportivo Guarani, Piluca conversa com O Município para uma matéria que revisita diversos trechos de sua relação com o vôlei.
Os primeiros contatos com o esporte ocorreram na Escola de Educação Básica João Hassmann, onde Piluca iniciou os estudos. A quadra era de areia, não de praia. Era um tipo mais duro e grosso, para a prática do vôlei de quadra. As linhas eram feitas com tijolos, e a modalidade era praticada ao ar livre. Piluca tem recordações de seu início, entre 8 e 9 anos, buscando bolas entre poças d’água quando chovia durante a semana.
A partir dos 12 anos, Piluca já participava de competições representando Brusque, realizando treinos no Bandeirante. Treinando com o time adulto, tinha e adaptado à altura da rede, e quando competia pelas categorias inferiores, se destacava saltando em frente a redes mais baixas. Atuava como ponteira e oposta.
Aos 16 anos, a brusquense era convocada à Seleção Brasileira infantojuvenil. “Voltei para cá, continuei jogando aqui. Depois casei, formei família, tive filhos. Levava meus filhos junto para os treinos, com o carrinho, fui treinando. Treinei até os quatro, cinco meses de gravidez. Saques, corrida leve, fundo de quadra.”
Piluca passou a jogar na areia quando tinha 23 anos. O vôlei de praia lhe foi apresentado por uma amiga, Kátia, de Florianópolis, quando as duas disputaram um torneio amistoso no quintal da casa da amiga Sandra Foppa em Navegantes. A superfície era toda de grama.
“Ficamos em terceiro lugar naquele torneio. Vim para Brusque e fiquei fascinada, porque eu era muito fominha. Eu jogava e queria a bola só para mim”, explica. E em um jogo entre duas duplas, sempre havia a oportunidade de jogar com bola. Piluca foi pioneira do vôlei de praia em Brusque.
A brusquense Janete Sens foi sua primeira parceira, treinando no Bandeirante, antes da inauguração das quadras no Guarani, e disputando diversas competições, entre Jogos Abertos de Santa Catarina e circuitos pelo estado, figurando em muitos pódios.
Ao longo de sua carreira, teve 12 parceiras no total. Janete Sens (Brusque), Katia (Florianópolis), Karin Koch (Brusque), Mariana (Brusque), Fernanda (Brusque), Karen Rodrigues (Brusque), Maiara Montibeller (Brusque), Andrea Teixeira (Itapema), Josi Alves (Itapema), Amélia (Florianópolis), Aline (Itapema) e Ana (Blumenau).
“Gostaria de agradecer a todos que, de alguma maneira, se fizeram presentes nesta minha trajetória, e pedir desculpas por alguma falha que eu tenha cometido contra alguém”, comenta.
Piluca agradece a todos os apoiadores e patrocinadores que teve ao longo de sua carreira. Seus locais de treino eram o Clube Esportivo Guarani e a academia CCN, que prestavam o suporte necessário para a prática do vôlei de praia. Como muitas das parceiras não eram de Brusque, muitas sessões de treino eram solitárias.
Técnica em enfermagem, Piluca nunca conseguiu fazer do vôlei sua profissão de fato, mas foi atleta de alto rendimento, sempre buscando apoio para se manter competindo. Dependendo da competição, não conseguia voltar a tempo para trabalhar em uma segunda-feira de manhã. Estava sempre conversando com as colegas para ver quem poderia cobrir, e dependendo da situação, o dia era descontado. Se desdobrava no que era, na prática, uma jornada tripla, com trabalho, casa e o vôlei de praia.
Em 2011, sua trajetória no vôlei de praia foi interrompida por conta de um câncer no estômago, diagnosticado precocemente. Foi operada em agosto daquele ano, uma semana depois do diagnóstico, e em novembro já voltava, aos poucos, aos treinamentos.
Na sequência, Piluca conseguiu fazer dupla com uma jogadora de muito renome: Josimari Alves, a Josi, de Itapema. Ao lado de uma grande amiga que tinha experiência em diversas competições nacionais, com um bom respaldo da Fundação Municipal de Esportes (FME), a expectativa era de muitos títulos. A dupla parecia implacável no papel. “É sonho de toda atleta jogar com ela, é de altíssimo nível.”
Contudo, o relacionamento profissional foi diferente. Josi e Piluca tiveram dificuldades no entrosamento e a parceria durou apenas dois anos, com a prata nos Jasc de 2012 e o bronze em 2013. Apesar do curto período juntas nas areias, a amizade permanece.
Seu amor pelo clube Guarani se traduz em uma lembrança viva, durante os Jasc. A data não é precisa na memória, mas os fatos são. “Do lado do ginásio, tinha uma árvore enorme, e a quadra em que eu treinava sempre foi lá. Fui jogar Jogos Abertos em Timbó, não me lembro do ano, e deu uma trovoada feia em Brusque. Destruiu muitas casas. Destelhou muitas casas. E essa árvore foi destruída por raios e ventos.”
“Quando meu marido ligou para o alojamento e me contou que o Guarani ficou detonado, a tempestade destruiu parte do ginásio e aquela árvore quebrou no meio. Pensa no que chorei, desabei. Aquela árvore era um símbolo para mim. Ia descansar na sombra dela”, relembra, emocionada.
Outra lembrança é o reconhecimento dentro do clube. “Com o Fischer, ele era guarda ali na guarita, já aposentado hoje. Participei dos Jogos Abertos em 2002 com a Kátia, ficamos em segundo lugar. O Fischer pediu para eu sair do carro, eu saí e ele disse: ‘to muito feliz contigo e tenho uma surpresa pra ti. Foi na guarita, trouxe um pacote embrulhado em jornal com fita. E disse que ‘nas embalagens mais simples estão os presentes mais valiosos’.”
“Abri e vi um porta-retrato, minha foto no jornal, no pódio. Chorei. Abracei ele e chorei. Ele disse ‘tu não sabe o orgulho que tenho de ti, mulher. Tu não sabe. Eu sei o sacrifício que tu passa e sei o valor dessa medalha pra ti'”, relata Piluca.
“Não tem lugar parecido”: como Botuverá tornou-se caso raro de preservação do dialeto bergamasco no mundo: