Imigração Italiana e os impactos do contrato Caetano Pinto em Brusque – Parte 1
No artigo do dia 24 de janeiro, vimos que os imigrantes austríaco-tiroleses de língua italiana (trentinos) e italianos começaram a chegar a Brusque no dia 04/06/1875, e que, partir de então, a composição étnica de Brusque mudou radicalmente. Essa mudança guarda relação direta com o famoso Contrato Caetano Pinto, que estimulava a imigração europeia para, principalmente, povoar o interior do Brasil.
A colonização do interior do país era uma ideia antiga, mas aplicá-la nem sempre foi fácil. As dimensões do Império eram grandes e, comparados com a extensão dos pequenos núcleos de povoamento europeus, os resultados não eram animadores. A política oficial de colonização era de 1820, mas somente após o término da Guerra do Paraguai (1870) é que as atenções do Império se voltaram novamente para a questão da imigração, numa tentativa de dinamizar a política imigratória e povoar o interior.
Como o fluxo imigratório havia diminuído, o Governo tratou de levantar as dificuldades que emperravam a emigração e passou a tomar providências para incrementar novas correntes migratórias, medidas que despertassem a atenção do homem do campo europeu para uma melhoria da sua situação econômica nas terras do interior brasileiro. Com esse objetivo foi firmado um contrato entre o Império do Brasil e o Comendador Joaquim Caetano Pinto Júnior (Decreto nº 5.663/1874).
As cláusulas do contrato estimulavam a imigração europeia, pois eram atrativas para as populações que, na sua pátria, sofriam com os problemas decorrentes de uma situação econômica desfavorável, agravada pela exiguidade do espaço físico dos lotes. Por lá, na maioria dos casos, o lote não pertencia àquele que cultivava a terra que, além de tirar o sustento para a sua família, ainda pagava aluguel pelo seu uso.
Aliciados por agenciadores e atraídos pela possibilidade de serem proprietários de terras, bem como pela fertilidade do solo, Blumenau e Brusque – aqui consideradas as extensões territoriais daquele tempo – a partir de 1875 passaram a receber grande contingente de imigrantes. No princípio, a maioria dos imigrantes era composta por austríaco-tiroleses de língua italiana (trentinos) e italianos.
Quando se lê as principais cláusulas do Contrato Caetano Pinto, não se tem ideia dos grandes problemas que as mesmas acarretariam, tanto para os imigrantes quanto para o Brasil. As dificuldades estavam associadas ao grande número de imigrantes que deveriam ser introduzidos: 100 mil dentro do prazo de 10 anos.
As cláusulas do contrato exigiam infraestrutura para a sua aplicação. No entanto, o pequeno espaço de tempo entre a assinatura do contrato (17/06/1874) e a chegada das primeiras grandes levas de imigrantes em Santa Catarina em junho de 1875, prejudicou bastante a sua aplicabilidade. Por exemplo: os lotes já deveriam estar demarcados quando da chegada dos imigrantes, mas a realidade aqui foi bastante diferente. Em Brusque, o número de funcionários para a demarcação dos lotes era insuficiente para atender ao número de imigrantes recém-chegados.
Em 1876, ano de entrada de grandes contingentes de imigrantes trentinos e italianos, o engenheiro Pedro Luis Toulois chefiava uma comissão responsável pela demarcação dos lotes de terra na região de Brusque. O trabalho de medição era demorado, e a situação se agravava pelo alto índice de chuvas na região. Ainda assim, as dificuldades para a demarcação dos lotes não impediram que maiores números de imigrantes continuassem chegando e, para a administração colonial, a acomodação dos colonos se transformou num grande problema. Por não ser possível fixar os imigrantes logo nos seus respectivos lotes, eles foram acomodados nos barracões de recepção, construções precárias, sem o mínimo de conforto, onde chegaram a ficar “abarrotados” por meses.