Brusque 160 anos: medo e esperança
Ontem, sem desfile, sem festa, sem inauguração, nossa cidade completou 160 Anos. Todo o cuidado, toda a cautela, dizem os homens da ciência médica, é preciso para evitar a ação nefasta desse maldito vírus da doença e da morte continua ameaçando a nossa gente. Brusque, sitiada diante do perigo que se alastra de forma traiçoeira e invisível, ficou silenciosa. Ao menos, não se ouviu, nos ares o som das cornetas, o rufar dos tambores, os buzinaços de veículos em carreata. Nem o foguetório troante, que celebra e anuncia um evento especial.
Foi um aniversário da mãe-urbe diferente, estranho, sem festa nem comemoração. Sim, não se tem informação sobre um 4 agosto tão assustador e tenebroso. O que se viu ontem foi a tristeza pairando sobre a nossa cidade. Dos seus filhos, não muitos é verdade, caminhando pelas ruas, desviando uns dos outros, cruzando a rua para o lado oposto até, faiscava o olhar assustado por trás da máscara.
No interior dos lares, boa parte da nossa gente amedrontada permaneceu escondida, a morada transformada em escudo protetor contra o poder contagiante desse mensageiro das trevas, que espalha a febre que asfixia e mata. Uns, homens de fé, rezando para que sejam protegidos do mal. Outros, homens descrentes, sabendo da força patogênica do vírus coroado, que chegou sob a pele sinistra de uma doença chamada Covid, para infligir doença, sofrimento e morte. Nós, leigos-mortais, já não sabemos onde esconder e a ciência médica, que tudo deveria saber, está de joelhos diante do mal.
O medo da doença conturbando a mente dos brusquenses, imagino que poucos lembraram do 4 de agosto de 1860, quando começou a história da nossa gente. Devem ter lembrado, apenas, os que se importam com a história desta terra, pela primeira vez pisada pelo Barão de Schneéburg e seus 55 colonos pioneiros, homens, mulheres e crianças, enfim, chegados ao prometido Éden do Novo Mundo, que não seria tão aprazível quanto pintado a cores lá na distante Alemanha. Mas, esta é uma história já muitas vezes contada. Afinal, era o mesmo paraíso oferecido aos brasileiros nativos.
Mesmo com o perigo da doença batendo à porta de nossas casas, as autoridades municipais não deixaram passar em branco a data magna da cidade. Isolados no paço municipal, hastearam bandeiras e discursaram. Lá, não estive. Mas, só a execução do Hino de Brusque pelo nosso grande mestre da sanfona, Bruno Moritz, já teria valido o evento cívico. Das alturas do espaço e do infinito dos tempos, o nosso velho e querido Barão deve ter se sentido feliz e se deliciado em ouvir os acordes musicais afinadíssimos do hino da cidade que ele, com tanta obstinação, fundou e, com tanto carinho, dela cuidou nos primeiros e difíceis anos.
Foi um 4 de agosto para ser jamais esquecido. O que nos alenta e conforta é lembrar da saga inabalável dos nossos colonos-fundadores. Gente de têmpera forte e indelével, souberam enfrentar com admirável coragem a dureza dos primeiros tempos nesta terra virgem, onde tudo estava por ser construído. Souberam também vencer doenças e o primeiro surto de uma desconhecida virose. Tudo para implantar os alicerces desta cidade que, ontem, chegou aos 160 anos.
Assim, tenho certeza que essa pandemia vai passar e que os brusquenses saberão continuar a interminável caminhada iniciada pelo Barão de Schneéburg e seus colonos pioneiros.