João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Consciência negra e luta contra exclusão social

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Consciência negra e luta contra exclusão social

João José Leal

Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura… se é verdade Tanto horror perante os céus?! Quem são estes desgraçados Que não encontram em vós Mais que o rir calmo da turba Que excita a fúria do algoz?

Neste dia dedicado à Consciência Negra, começo minha crônica, com os versos lavrados pela pena inflamada do genial Castro Alves, indignado com a tragédia infligida à gente negra, caçada, arrancada de sua terra africana, para ser acorrentada e transportada nos porões dos navios negreiros, aquelas sinistras naus da opressão e da maldade humana.

Por três séculos, esses macabros galeões do tráfico singraram as águas do Atlântico para nos trazer a mão-de-obra escrava necessária e sustentar a atividade econômica desta terra.

Primeiro, como colônia portuguesa, depois, já em pleno final do século 19, como pátria independente, mas convivendo com essa ignominiosa prática, que manchou a história da nossa nação e que o cancioneiro popular ainda diz ser abençoada por Deus.

Desde o decreto assinado pela Princesa Isabel, o 13 de Maio de 1888 sempre foi comemorado como a grande data de libertação de um povo que viveu tanto tempo subjugado, oprimido, humilhado, torturado.

Enfim, escravizado, o que diz tudo. Porisso, aquela data sempre foi lembrada como o marco histórico mais significativo da luta pela liberdade dos negros desta nação. Principalmente, se considerarmos que o decreto imperial representou o momento culminante do árduo e tortuoso movimento abolicionista, que irmanou políticos, profissionais liberais, intelectuais e gente de bem desta nação, para que todos os brasileiros fossem cidadãos livres e iguais.

No entanto, a reinterpretação dos fatos históricos ocorre com frequência. Parece, mesmo, uma necessidade a fim de se estabelecer a verdade dos fatos que marcaram a vida política, econômica e social de um povo. E, assim, de uns tempos para cá, o 13 de Maio passou a ser visto como um fato de menor importância.

Para o Movimento Negro, em sua luta pela efetiva inclusão econômica, social e cultural dos afro-brasileiros, a abolição não trouxe a efetiva libertação e igualdade social para os ex-escravos, que continuaram vivendo na completa miséria.

Por isso, temos hoje o Dia Nacional da Consciência Negra, criado por lei federal para lembrar a luta dos negros pela liberdade e homenagear o líder Zumbi dos Palmares, que teria sido morto no dia 20 de novembro de 1695. A data deve ser celebrada em todo o país e, em muitas cidades brasileiras, o dia de hoje é feriado municipal.

Por tudo que o negro sofreu durante os 300 anos de escravidão e continua sofrendo diante de uma sociedade ainda tão preconceituosa, penso que o Dia da Consciência Negra deve ser um momento para uma séria reflexão sobre o nosso passado de nação escravocrata e sobre o nosso presente de tanta desigualdade econômica e social.

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