João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas Praianas: Calçador de meias para idoso

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas Praianas: Calçador de meias para idoso

João José Leal

Nada como uma boa conversa cara a cara, entre amigas. Nesse bate-papo coletivo, um fato corriqueiro, um simples boato desperta um interesse bem maior quando narrado ao vivo, com aquela entonação de voz, aqueles gestos de mãos se contorcendo, aquele olhar sinalizador e com aqueles detalhes que só a comunicação presencial consegue transmitir.

Maria Emília está contando para as amigas do Mares do Atlântico que nunca tinha feito uma compra pela internet. E tem as suas razões para evitar as compras online.

– Imaginem vocês. Já passei dos 70 anos. Sou do tempo em que não se sonhava com a internet. Nos meus tempos de criança, escutar rádio era um luxo que poucos tinham em casa. Mais tarde, veio a televisão, que também começou como um privilégio de poucos. Agora, estou vivendo no tempo da internet. Só sei mandar e receber email, navegar no Face e no whasapp do nosso grupo. Comprar pela internet?, nunca tive coragem.

– Mas, sempre tem a primeira vez. Nesse tempo de afastamento por causa da maldita Covid, tenho visto mais TV e vi um anúncio que me despertou interesse. Era a propaganda de um calçador de meias para idoso. Como vocês sabem, chegamos aos 60 anos e começa o tempo das dores. A gente vai encarangando e a dor aparece por todos lados, no dobrar os braços ou as pernas, no virar o pescoço e nas costas. O pior de tudo é se abaixar para colocar o sapato e as meias. É um estalar de juntas que dá medo.

– Fiquei super interessada naquele aparelho de calçar meias. Uma mulher bonita, dessas de novela da Globo, fazia a demonstração. Botava a meia aberta no aparelho, enfiava o seu pezinho de artista e logo retirava com a meia já calçada. Simples, fácil, uma beleza, dizia a propaganda.

– Comprei logo dois aparelhos e paguei no cartão. O segundo só custava a metade do preço e ainda davam um brinde pela compra. Queria fazer um presente para o meu marido, que faz um escândalo desgraçado, que fica gemendo que nem gente esfaqueada, toda vez que se abaixa para calçar as meias e os sapatos.

Rápido, numa semana, chegou a encomenda pelo Sedex. Rápido, também, fui testar o aparelho. Mas, não consegui calçar a meia de tanta dor. Não sei o que houve. Tentei com o pé esquerdo, com o direito e nada da meia subir, como na propaganda. Não funcionou de jeito nenhum! Acho que era tudo propaganda enganosa.

– Não consultaste o manual? Perguntou uma amiga.

– Os desgraçados mandaram um manual escrito em mandarim. Como vocês sabem, agora, tudo é chinês. O mundo depende desses amarelos. Mandei de volta e pedi a devolução do dinheiro.

– Estou esperando há mais de um mês e não sei se vou ver o meu dinheiro de volta. Já disse lá em casa. Compra pela internet, nunca mais!

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