João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas Praianas: confeitaria Karlsdorf

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas Praianas: confeitaria Karlsdorf

João José Leal

– Amigas, estive em Brusque. Vocês precisam conhecer a Confeitaria Karlsdorf. Disseram-me que o dono quis fazer igual a uma confeitaria alemã em que trabalhou, onde aprendeu a arte da confeitaria. Realmente, parece uma daquelas confeitarias que a gente vê na Baviera. É uma beleza. Tudo arrumadinho, os vidros dos balcões limpos, brilhando como cristal e uma limpeza impecável. As tortas com um visual de dar água na boca. Em cima de cada uma delas, graciosas miniaturas de bonecas da imperatriz Sissi. Os docinhos e salgadinhos, então, lado a lado, numa ordem prussiana perfeita.

– E a decoração dos salões? Vocês não podem imaginar o capricho. As mesas são de madeira encerada na cor nogueira e as toalhas coloridas de tecido quadriculado, passadas a ferro de não se ver uma dobra. Para sentar, cadeiras de madeira na mesma cor com um recorte no espaldar, em forma de coração e bancos aconchegantes nos cantos dos salões. Em cima de cada mesa, vasos de astromélias brancas.

– Nas paredes, delicadas pinturas a óleo de flores e de antigas cidades alemãs. Os lustres, de ferro batido, pintados numa cor cinza, são decorados com pequenas lâmpadas imitando velas. No centro, tem uma cabeça de cervo cheia de chifres, como naquelas confeitarias das estações de neve. Estive lá no mês de dezembro e a decoração natalina estava maravilhosa. A garçonete me disse que quase tudo veio de Karlsdorf.

– Mas, já vou avisando. Se alguma de vocês quiser ir a Brusque para comer uma excelente empadinha, uma torta salgada ou doce, é preciso paciência com as regras da casa. Pedi umas empadinhas de palmito. E a resposta?  Era o dia das empadas de frango e de carne. De palmito, só às sextas e sábados.

– Então, parti pro pão picante e pedi uma fatia coberta com cenoura ralada e azeitona. Imaginem vocês, a moça me disse que a fatia da vez era com pepino em cima. Não gosto muito de pepino, para mim já basta o nome. Mesmo assim aceitei porque o visual era apetitoso. Pedi para tirar o pepino e, confesso, o pão picante estava muito bom.

– Fui ao balcão para ver as tortas. Tinha umas dez de sabores diferentes. Então, pedi uma fatia da torta de nozes. O protocolo era o mesmo. Só serviam fatias das tortas já cortadas. Não adiantou insistir em falar com o dono, porque o homem não arreda o pé. Resolvi, então, comer um strudel de maçã, um apfelstrudel, que a moça loira pronunciou como se estivesse em Berlim. Tem mais. O dono não aceita cartão de crédito nem cheque. Só há pouco tempo e depois de muita reclamação a gente pode pagar por Pix.

– Outra regra da casa é fechar às sete da noite em ponto. Estava lá naquela hora e tive de sair com outros fregueses debaixo de uma trovoada terrível. Chovia a cântaros, de alagar as ruas. Então pedimos para ficar até passar a chuva, mas o dono disse que sempre fechou às sete da noite e que não era culpado pela tempestade. Não teve jeito, tive que caminhar por ruas alagadas para chegar ao carro, encharcada da cabeça aos pés.

– Olha se me perguntarem se vale a pena, digo que sim. Mas, é bom consultar a previsão do tempo para ver se há risco de chuva e trovoada.

 

 

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